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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ESTÁ TUDO PIOR DO QUE DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES...

HEITOR DE PAOLA

Ubiratan J. Iorio

A frase “está tudo como dantes no quartel d’Abrantes” remonta ao início do século

XIX, quando Napoleão invadiu a Península Ibérica e Portugal foi tomado pelas forças francesas. Uma das primeiras cidades invadidas por Jean Androche Junot foi Abrantes, próxima a Lisboa, em 1807. Lá, o general francês instalou seu quartel-general e se fez intitular duque d’Abrantes. Como D. João VI e sua corte no Brasil, Portugal estava politicamente acéfalo, o que permitiu a Junot se manter no poder sem resistências, gerando - a qualquer pergunta sobre como estavam ascoisas - a resposta irônica, que passou desde então a designar situações em que nada muda.

A verdade é que o Brasil vem se transformando visivelmente em um gigantesco quartel de Abrantes, porém com uma diferença: a impressão que se tem é que, ao invés de tudo estar como dantes, tudo parece estar cada vez pior. Não é pessimismo é pura e irrefutável constatação. Senão, vejamos rapidamente o que vem acontecendo na política, na economia, na ética e no plano dos indivíduos.

Na política, a briga por cargos entre a chamada base aliada do governo, especialmente entre o PT e o PMDB, é de causar indignação até a um inocente pardal pousado em um fio de uma rua de um bairro da periferia de qualquer cidade, tamanha a desfaçatez com que as hienas, abutres e corvos que se alimentam da carne do dinheiro público – vale dizer, dos “contribuintes” - lançam-se sobre os despojos. A disputa - que nada tem de nova, uma vez que costuma acontecer sempre que mudam governos -, está, sem meias palavras, atingindo as raias da indecência, já que nos oito anos do governo Lula o estado brasileiro foi inchado, intumescido e estufado por uma mistura de ideologia com ganância por cargos. Poderia escrever bem mais sobre a deterioração política, mas deixo-o deliberadamente de fazer por razões de asco. Estado limitado? Contenção de poder? A política brasileira está, sem dúvida, pior do que dantes.

Na economia, o dilema entre o regime fiscal irresponsavelmente deficitário e a preocupação do Banco Central com a inflação vai certamente obrigar o último a aumentar fortemente a taxa de juros básica, já que a bomba-relógio deixada por Lula, em sua ânsia de fazer sua sucessora para poder voltar em 2014, terá que ser desarmada, sob pena de voltarmos a correr um risco que não experimentamos desde 1994, quando o plano Real foi implantado: o risco da inflação fora de controle e, no limite, o da hiperinflação. As reformas que vêm sendo proteladashá anos – previdenciária, tributária, trabalhista e administrativa – não serão realizadas pelo governo da companheira Rouseff, por motivos óbvios. Como o governo dos Estados Unidos vem emitindo dólares de maneira leviana, o ingresso de capitais externos vem ocorrendo a um ritmo prestissimo, o que está levando os heterodoxos do novo governo a estudarem medidas inócuas para conter a valorização do real, como novos aumentos no IOF e a chamada quarentena, ou seja, restrições ao ingresso de capitais externos. Se essas práticas são certamente inofensivas para conter a queda do dólar, são bastante restritivas ao crescimento da economia, porque sem investimentos externos, a economia brasileira não terá condições de crescer a taxas razoáveis! As pessoas – e, entre elas, a maioria dos economistas, devido a defeitos crônicos em sua formação -, ainda falam barbaridades como “o dólar está fora do lugar”, como se a taxa de câmbio não fosse um preço que, sob o regime de flutuação, deve oscilar mesmo. Os lobbies do setor exportador aumentarão suas pressões para que o dólar “volte para o seu lugar certo” que, certamente, pode ser definido como aquele que lhes permitirá lucrar mais... A chamada “classe média baixa”, que aparentemente melhorou em decorrência das políticas eleitoreiras de Lula, está endividada até o pescoço, haja vista o aumento na taxa de inadimplência registrado pelas associações comerciais. A carga tributária, que vem aumentando governo a governo desde os tempos do eterno-poderoso Sarney (sendo que seu aumento nos oito anos de Lula superou todos os anteriores) deverá continuar subindo. Também na economia tudo está, sem dúvida, pior do que dantes.

Sobre o plano ético e moral – que deve sustentar os dois anteriores (o político e o econômico) – basta observarmos que, se aqueles estão tão mal, é porque os princípios éticos e morais estão visivelmente deteriorados. Apenas para citar um exemplo, a atitude do ex-presidente Lula, no último dia de seu mandato, apenas para proteger sua camarada Rouseff, de negar, ao arrepio do direito internacional e da boa diplomacia, a extradição do terrorista Cesare Battisti, condenado na Itália por diversos crimes comuns (decisão que vinha protelando há muitos meses), foi de causar vergonha ao Brasil perante o mundo democrático e civilizado. Um gesto imoral, sim senhor, porque reflete os pesos e medidas diferentes com que seu governo sempre avaliou diferentes condenados, de acordo com suas ideologias: Battisti é quase um herói sob o ponto de vista do Itamaraty de Lula, enquanto o cubano que fazia greve de fome e que acabou morrendo sem que o nosso Grande Guia o defendesse diante do ditador Raúl Castro, alegando o princípio da “autodeterminação dos povos”, seria um anti-herói. A ética e a moral do Itamaraty do ex-presidente é estranha mesmo. Um bandido julgado em seu país, a Itália, uma democracia, não é um bandido, é um “perseguido político”, enquanto um cubano contrário à ditadura cinqüentenária dos Castro, julgado em seu país, uma ditadura, não é um perseguido político, mas um bandido, um condenado comum. Este único exemplo – dentre tantos outros, como o mensalão, o desrespeito de Lula em relação aos outros dois poderes e suas afrontas à legislação eleitoral – são suficientes para concluirmos que, em termos de ética e moral, também tudo parece estar pior do que dantes no quartel d’Abrantes.

Por fim, no plano individual, parece que a palavra de ordem é a velha “lei de murici”, segundo a qual cada um deve cuidar de si, sem qualquer consideração para com os semelhantes. Um exemplo recente ilustra isso: no final do ano, fiz uma viagem à região dos lagos fluminenses e, obviamente, tive que enfrentar engarrafamentos, tanto na ida, no dia 29 de dezembro, quanto na volta, no dia 4 de janeiro. Fiquei impressionado com a quantidade de veículos que trafegavam pelos acostamentos, com o único propósito de passar a frente dos que se mantinham nas pistas em que o tráfego é permitido. Senti-me como se aqueles sujeitos, de diversas classes sociais, dirigindo desde fusquinhas 75 até carrões de última geração, estivessem todos gritando para mim: “você é um otário, porque obedece a lei”. O pior é que não vi nenhum deles ser multado. Pessoas com tamanho grau de egoísmo podem reclamar das roubalheiras de políticos? O que fariam caso fossem, digamos, deputados e lhes surgisse uma oportunidade de burlar os contribuintes para tirar proveito próprio? Pobre quartel de Abrantes!

Artigo do Mes de janeiro de 2011 no site do autor

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".