Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Rebelião dos valores

ESTADÃO
Carlos Alberto Di Franco, Segunda-Feira, 20 de Outubro de 2008

Dizem as más línguas de más testemunhas que Liam Gallagher, cantor do Oasis, já foi visto às 6h30 da manhã caminhando por Hampstead Heath com os filhos, vestidos com uniformes escolares, a caminho da escola. A ovelha negra do rock inglês? Levando os filhos à escola? Soa inverossímil, não?

"Mas é verdade. Antigamente, essa era a hora em que eu chegava em casa, saindo de um pub. Gastava mais tempo bebendo do que com qualquer outra coisa. Agora, eu gasto meu tempo com meus filhos. E eles estão ótimos, obrigado por perguntar", confessou o próprio Liam, falando por telefone ao repórter.

O texto, do jornalista Jotabê Medeiros, foi publicado no caderno Variedades do Jornal da Tarde. É revelador. 

O comportamento de Liam, na contramão da contracultura, mostra que o pêndulo comportamental começa a mudar de direção. Hoje, o subversivo no modo de ser da juventude é o resgate dos valores. Após décadas de liberação dos costumes, toda uma geração de cinqüentões e sessentões assiste, perplexa, a uma contra-revolução moral protagonizada por seus filhos e netos.

A religiosidade dos jovens, por exemplo, é um fato sociológico. Impressionou-me, em Roma, a massa multicolorida de jovens que, nas audiências das quartas-feiras, ocupa a Praça de São Pedro para ver o papa. O túmulo de João Paulo II, atapetado de fotografias e bilhetes deixados por milhares de peregrinos, é um grito espantoso de religiosidade. Bento XVI, sem o carisma de seu antecessor, mas com uma comunicação simples e direta, arrebata a moçada. Tímido, mas cativante na sua humildade que desarma, o brilhante intelectual que ocupa a cátedra de São Pedro é um sucesso no meio juvenil.

Reunidos na celebração da Jornada Mundial da Juventude em Sydney, um mar de jovens recebeu o pontífice com um entusiasmo impressionante. Usando tênis e mochilas, os "papaboys", como são apelidados os jovens que participam das jornadas católicas, dançaram, cantaram e rezaram.

O desempenho de Bento XVI no meio juvenil é uma charada que desafia o pretenso feeling de certos estudiosos do comportamento. Afinal, o estereótipo do papa conservador, obstinadamente apegado aos valores que estariam na contramão da modernidade, vai sendo contestado pela força dos fatos e pela eloqüência dos números. Os megaeventos papais contrastam fortemente com as previsões dos profetas da morte de Deus.

O papa é exigente. Sem dúvida. E os jovens vão atrás do seu discurso comprometedor. Não gostam de um cristianismo aguado. Alguns (e não são os jovens), equivocadamente, vislumbram fervores conservadores no pensamento e na ação do papa. Desejariam, como já escrevi neste espaço opinativo, um papa que deixasse de ser cristão para ser mais bem aceito? 

Pretenderiam que, perante o deslizamento do mundo para baixo, com a glorificação de aberrações ideológicas e morais, o papa exercesse a sua missão acompanhando a descida, cedendo a tudo, limitando-se a belos discursos de paz e amor e a um falso ecumenismo em que todos os equívocos se pudessem congraçar, porque ninguém acreditaria em coisa alguma, a não ser em "viver bem"? 

Bento XVI aposta suas fichas não na quantidade, mas na qualidade. Sabe, como ninguém, que as grandes viradas se apóiam em quadros qualificados.

Mas não é só a religião que reencontra a juventude. A família é outra forte demanda da adolescência. Em casa deixou de rotular os pais de caretas para buscar neles a figura do amigo. A juventude real, perfilada em algumas pesquisas, está identificando valores como respeito, amizade, fidelidade. Há uma busca de âncoras morais e de normalidade.

Recente pesquisa sobre juventude e comportamento realizada em El Salvador confirma essa percepção. O estudo, elaborado a partir de uma amostra de mais de 3 mil jovens salvadorenhos entre 13 e 19 anos, reafirma a importância dos pais na orientação das políticas de saúde e na formação dos adolescentes. Oito de cada dez adolescentes afirmam que seus pais são essenciais para seu desenvolvimento integral, para a transmissão de cultura e de valores. Os jovens manifestam desejo de que seus pais sejam sua primeira fonte de informação sobre estilos de vida, amor e sexualidade.

Os filhos e netos da revolução sexual sentem uma aguda nostalgia de valores. Não é novidade para quem mantém contato com o universo estudantil. 

Os anos da permissividade produziram muito sexo e pouco amor. O relacionamento descartável deixou o travo do vazio. Agora, o auê vai sendo substituído pelo sentido do compromisso. A juventude real manifesta crescente procura de firmeza moral. Aspira, ao contrário do que se pensa, ao conselho seguro. Não respeita a velhice assanhada e concessiva. Espera, sim, a palavra que orienta, o amor que sabe exigir e limitar. Nós, jornalistas, quem sabe, não somos capazes de depor nossos preconceitos e continuamos falando e escrevendo sobre uma juventude que se amolda ao tamanho dos nossos clichês, mas que está muito longe da realidade. Talvez aí resida uma das causas, entre outras, da nossa incapacidade de renovar consistentemente nossa carteira de leitores.

A família, "um produto anacrônico da sociedade burguesa", segundo alguns, assume a liderança da credibilidade entre os jovens; a religião, paradigma da "alienação" na geração liberada, está fortemente em alta.

A juventude, ademais, abraça grandes bandeiras: a luta contra as discriminações, o combate à corrupção, a defesa do meio ambiente e o apoio às minorias. O futuro não será conservador na acepção pejorativa que as patrulhas ideológicas impuseram ao termo. Será, estou certo, um período de recuperação do verdadeiro humanismo. 

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia. E-mail: difranco@iics.org.br

Um comentário:

Congregação Mariana Fed. Cachoeiro de Itapemirim disse...

Salve Maria!
Excelente texto! E isto é verdade, os grupos de jovens dentro da Igreja, quando são liberais são inconstantes, começam e acabam a toda hora sem dar frutos enquanto os conservadores caminham com força na ajuda a Santa Igreja.
A Paz de Cristo!

wibiya widget

A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".