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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Patriotismo ou nacionalismo?

DEXTRA
QUARTA-FEIRA, 12 DE JANEIRO DE 2011


Joseph Sobran: Sobran's, 16 de outubro de 2001 via  The Southerner Avenger 
Original: Patriotism or Nationalism?
Tradução: Dextra

[Nota do tradutor: os trechos em negrito foram destacados por nós e expressam idéias muito interessantes que são desenvolvidas no outro ensaio que indicamos logo abaixo deste]

Esta é uma temporada de patriotismo, mas também de algo que é facilmente confundido com  o patriotismo, a saber, o nacionalismo. A diferença é vital. 

G.K. Chesterton certa vez observou que Rudyard Kipling, o grande poeta do imperialismo britânico, sofria de "uma falta de patriotismo." Ele explicou: "Ele admira a Inglaterra, mas não a ama; pois admiramos as coisas com razões, mas as amamos sem razões. Ele admira a Inglaterra porque ela é forte, não porque é inglesa." 

Do mesmo modo, muitos americanos admiram a América por ela ser forte, não por ser americana. Para eles, a América tem de ser "o país mais poderoso da Terra", afim de ser digna de sua devoção. Se ela fosse apenas a segunda maior ou a décima-nona maior, ou, que Deus os livre, uma "potência de terceira categoria", ela praticamente não teria valor. 

Isto é nacionalismo, não patriotismo. O patriotismo é como um amor à família. Uma pessoa ama sua família por ser sua família, não por ser "a família mais poderosa da Terra" (o que quer que isto possa significar) ou por ser "melhor" do que outras famílias. Uma pessoa não se sente ameaçada quando outras pessoas amam suas famílias deste mesmo modo. Pelo contrário, ela respeita o amor delas e sente-se reconfortada em saber que elas respeita o seu. Ela não sente que sua família ganha destaque por meio de brigas com outras famílias. 

Enquanto o patriotismo é uma forma de afeto, o nacionalismo, já se disse várias vezes, está baseado no ressentimento e na rivalidade; muitas vezes se define por seus inimigos e traidores, reais ou supostos. Ele é militante por natureza e seu estilo típico é beligerante. O patriotismo, ao contrário, é pacífico, até ser forçado a lutar. 

O patriota também difere do nacionalista no seguinte sentido: ele sabe rir de seu país, do mesmo modo que os membros de uma família sabem rir dos defeitos uns dos outros. O afeto encara com naturalidade as imperfeições daqueles que ama; o irlandês patriota acha a Irlanda engraçadíssima, enquanto que o nacionalista irlandês não vê motivo nenhum para rir. 

O nacionalista tem que provar que seu país está sempre certo. Ele reduz seu país a uma idéia, a uma abstração perfeita, ao invés de um simples lar. Ele pode até achar incômodo o humor irreverente do patriota. 

O patriotismo é descontraído. O nacionalismo é rígido. O patriota sabe defender com lealdade seu país, mesmo quando sabe que ele está errado; o nacionalista tem que insistir que defende seu país, não porque é o seu, mas porque ele está certo. Como se ele o fosse defender mesmo que não tivesse nascido nele! O nacionalista fala como se "tivesse acontecido", por puro acaso, de ele ter nascido no país mais poderoso da Terra -- ao contrário, digamos do pobre belga ou brasileiro. 

Como o patriota e o nacionalista muitas vezes usam as mesmas palavras, eles podem não perceber que eles as usam em sentidos muito diferentes. O patriota americano supõe que o nacionalista ama este país com um afeto como o que ele mesmo tem, sem conseguir perceber que o que o nacionalista realmente ama é uma abstração -- "a grandeza nacional" ou algo assim. O nacionalista americano, por outro lado, é capaz de suspeitar do patriota, acusando-o de não ter fervor o bastante, ou até mesmo de "anti-americanismo."
Quando o assunto é guerra, o patriota percebe que o resto do mundo não pode ser transformado na América, porque a América é algo de específico e particular -- as memórias e tradições que não podem ser mais transplantadas do que as montanhas e pradarias. Ele busca apenas  o contentamento doméstico e é rápido em fazer um acordo com um inimigo. Ele quer que seu país seja apenas forte o bastante para defender a si mesmo. 

Mas o nacionalista, que identifica a América com abstrações como liberdade e democracia, pode pensar que é exatamente a missão da América espalhar estas abstrações ao redor do mundo -- impô-las à força, se necessário.  Em sua cabeça, estas abstrações são ideais universais e elas não podem nunca estar realmente "seguras" enquanto não existirem, sem questionamentos, em toda parte; o mundo deve ser tornado "seguro para democracia" por "uma guerra para acabar com todas as guerras." Ainda escutamos versões destes temas Wilsonianos. Qualquer país que se recuse a se americanizar é "anti-americano" -- ou um "estado pária." Para o nacionalista, a guerra é uma oportunidade bem-vinda de mudar o mundo. Esta é a receita para uma guerra sem fim.  

Em um tempo de histeria de guerra, o patriota indignado, sentindo que seu país está sob ataque, pode sucumbir às seduções do nacionalismo. Este é o perigo que enfrentamos agora. 


Joseph Sobran


Veja também: The Basically Leftist Character of Modern Conservatism

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".