Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O advento da era da razão

CONTEÚDO LIVRE

GAUDÊNCIO TORQUATO

Dúvidas balizam as interlocuções nos mais diversos ambientes: como será o governo da presidente Dilma Rousseff? Ela vai impor autoridade? Será pálida sombra do ex-presidente Lula? Sem traquejo na área política, conseguirá administrar as pressões partidárias e passar pelo olho do furacão nas Casas congressuais? As interrogações se apresentam pelo fato de suceder a um governo acentuadamente marcado pelo perfil do líder mais carismático de nossa contemporaneidade.

Sob esse prisma, a leitura mais linear é a de que a fosforescência do ciclo anterior tende a ofuscar a luz que se acende no palco que se abre. Pode-se apostar nessa hipótese? Não. A tendência é a de que a nova iluminação até propicie comparações de cores e matizes com a anterior, particularmente no seio de conglomerados que não mais verão no palanque a pessoa que identificavam como uma de suas legítimas representantes. As massas cultivam a catarse gerada por líderes carismáticos, que nelas provocam contínuas descargas emotivas. Vão perdê-la. Se a perda ocasionará algum vazio para elas, fará bem à identidade do governo Dilma. A alteração da maneira de agir do governante, pela forma de contato com as plateias, será benéfica ao País, pois o império da razão suplantará o reinado da emoção. Ciclos calcados na glorificação de imagens geralmente descambam na anestesia social. E uma sociedade anestesiada fecha as portas do futuro.

Não é preciso ser profeta para anunciar que a primeira mulher a comandar o País abrirá a era da racionalidade. Basta examinar sua trajetória na coordenação do Ministério Lula. Trata-se de pessoa afeita a planejamento, gerenciamento, controles e cobrança. Isso, por si só, é merecedor de aplausos, eis que passamos - e perdemos - um bocado de tempo interpretando a expressão do presidente que saiu ou ensaiando versões sobre o que disse ou tentou dizer. A substituição do verbo pela ação constitui um avanço. Os grupamentos pragmáticos, a partir das forças produtivas, terão motivos para comemorar o fato de que, doravante, encontrarão pautas mais concisas e objetivas. Os eventos serão desprovidos da verve de discursos improvisados e metáforas, ganhando mais substância. O que será condizente com um país que precisa regular os parâmetros a uma nova ordem. Há uma conta (grande) a ser paga e que, sabe-se, tem sido empurrada com a barriga - 2011 se prestará a ajustes, entre os quais o financiamento da área da saúde, o preenchimento dos buracos da Previdência, cada vez mais fundos dada a expansão da conta dos aposentados, carências no setor de segurança, etc.

Quando se diz que o Brasil passou ao largo da crise financeira internacional (2008-2009), pouco se destaca que isso não se deu de maneira fortuita. A política que propiciou a milhões de brasileiros amplo acesso ao consumo oxigenou as veias da economia. Chegou, porém, o momento de o País adequar a política econômica às novas disposições da economia internacional, no entendimento de que não é uma ilha de segurança no mundo conturbado. O início de um novo governo é ideal para integrar políticas e alinhar posições. Nesse ponto emerge o perfil da presidente. Não se espere que o primeiro ano da governante seja pleno de realizações e ações de impacto. Servirá, isso sim, para a correção de rumos e desvios, justaposição de programas e projetos, a partir de rígida revisão do PAC. Como agirá Dilma? É possível distinguir na nova mandatária-mor um senso crítico mais acentuado que o de seu antecessor. Será mais exigente e inflexível do que Lula nas cobranças. Essa característica, aliás, ganhará relevo, até porque é esse vetor que balizará sua identidade. O alinhamento da equipe ministerial tomará um bom tempo, não se devendo descartar a possibilidade de substituição de um parafuso na engrenagem, em caso de desgaste. Trata-se de uma constelação sem grandes estrelas, facilitando sua harmonia. Mas o conjunto de ministros escolhidos deve ser considerado um grid de largada. No meio e no final da pista, a disposição poderá ser diferente.

As expectativas em torno do desempenho da presidente levam ainda em conta a questão do gênero. Há muita curiosidade para saber se uma mulher terá melhor desempenho que um homem no comando da Nação. Especula-se que suas dificuldades serão menores nos espaços do obreirismo e nas áreas sociais (programas assistenciais) e mais complexas nas frentes econômica e política. A permanência do ministro Guido Mantega na Fazenda, a escolha de um perfil técnico para o Banco Central (Alexandre Tombini) e a nomeação de Antônio Palocci para comandar a Casa Civil, tendo sido ele ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula, lhe darão conforto e garantia de que a política econômica estará sob controle. E para ajudá-la a administrar a relação com as esferas política e jurídica a presidente terá à disposição a experiência de seu vice, Michel Temer, professor de Direito Constitucional e presidente do PMDB, que dirigiu a Câmara dos Deputados por três vezes. Com esse respaldo são mínimas as possibilidades de grandes crises na frente política.

Por último, a pergunta recorrente: Lula mandará no governo Dilma? Trata-se de hipótese débil. A dirigente deverá impor seu estilo. O ex-presidente, por sua vez, quer ver a glória da sucessora. A intromissão descabida na gestão seria um desastre para ambos. É evidente que deverá ser acionado para dar conselhos, principalmente em circunstâncias tormentosas. Luiz Inácio, como animal político, continuará a circular por muitas plagas, usufruindo o prestígio que angariou, fazendo palestras, recebendo honrarias, comovendo-se com aplausos. Sabe, porém, que há uma liturgia de poder a ser preservada. Sob pena de esboroamento do edifício que construiu. E queima da própria imagem.

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP E CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".