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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Uma questão de responsabilidade

MÍDIA SEM MÁSCARA

A decisão confortável dos pais de permitir que um Conselho de joões-ninguém determine a dieta de seus filhos terá diversas consequências para eles. Ficará patente, no futuro, a omissão e a fuga à responsabilidade.


A notícia não é nova, mas o problema é perene. No dia 9 de novembro, o Conselho de Supervisores de São Francisco, na Califórnia, proibiu a venda casada de sanduíche, refrigerante e um brinde. O candidato natural da proibição desse tipo de venda é o "McLanche Feliz", que consiste exatamente nisso - um sanduíche, um refrigerante e um brinquedo. Outros pacotes da mesma natureza foram igualmente atingidos. Como de hábito, a regulamentação teve por objetivo evitar que crianças consumam calorias demais, gorduras demais e sódio demais.
Esse tipo de combinação é politicamente incorreto do ponto de vista nutricional, e pessoas bem intencionadas se afligem com a saúde das crianças expostas a esse tipo de dieta. Passei a minha vida adulta sem comer ovos. Adorava os sanduíches de ovo que levava como lanche para a escola. Amava um bife a cavalo, com a gema escorrendo sobre a carne e misturando-se com os acompanhamentos da refeição. Adulto, ciente dos males que o colesterol poderia causar, suspendi o consumo de ovos. Décadas após esse sacrifício, para minha estupefação, soube que ovos não fazem mal à saúde. Voltei a comê-los. Receio que dentro de alguns anos alguém nos diga que a combinação ideal para uma boa nutrição seja precisamente um sanduíche acompanhado de um refrigerante, com bastante gordura e sódio no primeiro.
E muitas, muitas, calorias. Não sou consumidor dos produtos MacDonald's. Nada pessoal contra os sanduíches. Também não como jiló e, pasmem, banana, a fruta com a melhor composição de vitaminas e sais minerais. Simplesmente não suporto bananas. A despeito de todos os esforços da família, não comi e continuo não comendo bananas. Trata-se de uma escolha que fiz e que teve como contrapartida o compromisso de comer outras coisas que me trouxessem os benefícios alimentares de que abri mão, ao deixar de consumir a planta herbácea - vivaz acaule da família Musaceae -, como informa a Wikipédia.
Se não gostava de banana, também não podia comer o que me desse na telha. A família impunha claras limitações ao que comer e em que quantidade. Refrigerantes, só no almoço de domingo, por exemplo. Graças à misericórdia do Senhor e à responsabilidade da família, continuo vivo e em boa saúde, apesar dos anos. Causa-me enorme espanto que o Conselho de Supervisores de São Francisco se sobreponha à autoridade dos pais em determinar o que crianças devem ou não ingerir, acompanhado ou não de brindes. É responsabilidade indelegável dos pais decidir o que os filhos menores podem ou não comer. Esse Conselho, simplesmente, arvorou-se responsável pelos filhos dos outros, em flagrante usurpação da responsabilidade dos pais. Temo que os eleitores de São Francisco não reajam a essa insanidade. Se não o fizerem, ficará patente que os pais dessa cidade querem desfrutar das alegrias de ter filhos, mas não pretendem arcar com as correspondentes responsabilidades de sua criação.
A liberdade de ter filhos e criá-los está umbilicalmente associada à responsabilidade de tomar decisões por eles, até que, progressivamente, estes possam tomar as suas próprias decisões. Assim criados, os filhos aprenderão a noção de limites e de responsabilidades. Perceberão que, quando os pais tomam uma decisão antipática que os contrariam, é porque estão atentos ao que julgam ser melhor para eles no longo prazo. A decisão confortável dos pais de permitir que um Conselho de joões-ninguém determine a dieta de seus filhos terá diversas consequências para eles. Ficará patente, no futuro, a omissão e a fuga à responsabilidade.
Não se cria um cidadão responsável dessa maneira, uma vez que o exemplo é a forma mais adequada de transmitir valores. Friedrich Hayek escreveu um livro, O caminho da servidão, para nos mostrar que é de pequena restrição em pequena restrição que a liberdade se perde. Referia-se, no livro, à crescente intervenção na economia pelo governo trabalhista inglês após a segunda guerra mundial. Tomou tempo, mas, depois de perceberem as consequências das restrições à liberdade, os ingleses optaram pelo fim delas, elegendo o gabinete de Margaret Thatcher para restabelecer a liberdade econômica no país. Esperemos que, a exemplo dos ingleses, os cidadãos de São Francisco se apercebam do caminho que estão trilhando, que eventualmente legitimará todo tipo de controles sobre os aspectos mais comezinhos de suas vidas. E optem por outro, de liberdade com responsabilidade.

Roberto Fendt é economista


Publicado no Diário do Comércio em 30/12/2010.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".