QUINTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2010
(Este blog inicia hoje a publicar a análise sucinta, feita por Carlos Alberto Montaner, aos participantes de Conferência das Américas, sobre a situação do momento em Cuba. O documento será dividido em 3 partes, sendo esta a parte l, em tradução de A. Montenegro)
Cavaleiro: juntei as três partes neste único post
Carlos Alberto Montaner
Conferência das Américas
Hotel Biltmore, Coral Gables, FL
15 de Setembro de 2010
O governo cubano acaba de anunciar a demissão de 500.000 trabalhadores das empresas estatais. O projeto de demissões atingirá 1.300.000 pessoas no prazo de tres anos. Nada menos que 10% da força de trabalho. Mesmo sendo esperada, a medida abalou a sociedade cubana.
Os poucos comunistas ortodoxos, acreditam que foram traídos e deixam escapar seus comentários na internet (caos na rede). Para sua visão ideológica é uma vergonha, ue um governo marxista leninista abandone a classe trabalhadora e além disso estimule seus membros a integrar a classe exploradora.
Por outro lado, os trabalhadores não contam com um sindicato que os ampare. Sentem a insegurança sem ter quem os defenda: que vai acontecer com eles e suas famílias se não encontram um trabalho? Eles sabe que o mundinho construído pelos comunistas era miserável e sem esperanças, mas era conhecido e seguro. Agora percebem que a jaula foi aberta para lançá-los numa selva desconhecida e insegura. O alto nível de ansiedade é inevitável.
Não foi surpresa. Há mais de dois anos, antes deste passo transcendental, Raul Castro, Ramiro Valdés e outras autoridades do regime, vinham denunciando o paternalismo do estado cubano e a atitude passiva de alguns cidadãos que esperavam do governo, a solução de todos os seus problemas. pelo governo.
Esta situação paradoxal foi criada pela revolução, quando estatizou todo o sistema produtivo nos anos 60 do século XX. O governo, abraçado freneticamente ao estatismo e ao coletivismo, empenhado em converter os cubanos em solidários e angelicais „homens novos“ do marxismo leninismo, destruiu o espírito empreendedor de milhares de pessoas, reprimindo e prendendo, qualificando de „vagabundos“, 'enroladores“ e outros epítetos, para injuriar ou ridicularizar a todos que demonstravam criatividade, individualismo e desejo de construir um futuro melhor para si e para a família. O patriótico era trabalhar duro para a coletividade, mesmo sem esperar estílulos materiais, como indicava o evangelho guevarista. O contra revolucionário e abominável, era buscar melhorias individuais.
Um país na bancarrota
De repente, no verão de 2006, Raul Castro teve que assumir o governo, devido ao grave estado de saúde que quase liquidou com Fidel Castro. Dois anos depois, no outono de 2008, a presidência interina passou a ser permanente e Fidel Castro, que contra todos os prognósticos foi se recuperando lentamente, abandonou a gerência do governo para fazer suas aparições com textos delirantes, que chamava de „reflexões“, pretensamente para iluminar a humanidade peculiar visão enviesada dos problemas internacionais.
Ao assumir o controle do governo, Raul Castro instaurou milhares de auditorias nas empresas do estado e fez o balanço da situação econômica e social de Cuba. Finalmente chegou à razoável conclusão de que o país estava irremdiavelmente quebrado. Sobravam mínimas reservas e o governo não tinha liquidez nem créditos internacionais substanciais.
A dívida per cápita era das mais altas do mundo e a moeda carecia de valor real. Evidenciava-se cruelmente a diferença entre o cambio oficial e o paralelo. Um dólar que se supunha custar 80% do peso (moeda cubana), no mercado paralelo valia entre 20 e 25 pesos cubanos. A diferença entre o pais real e o país oficial era monstruosa. Isto ocorria em todos os setores.
Em todos os campos a situação era muito crítica e tinha um tendão de Aquiles: a produtividade e a produção estavam no chão e a sociedade so podia se sustentar combinando perigosamente as dívidas com remessas dos exilados e a solidariedade caridosa da Venezuela, feudo de um pitoresco personagem de destino incerto, o tenente coronel Hugo Chávez, empenhado na conquista do planeta para a aventura chamada "Socialismo do Século XXI".
Se por alguma razão Chávez fosse afastado do poder, a ruina econômica em Cuba seria pior que no tempo em que a URSS desapareceu, faltando os subsídios russos e os intercâmbios favoráveis aos satélites de Moscou. Se naquele tempo a capacidade de consumo dos cubanos se reduziu em 40 a 50%, desta vez seria pior.
Reformas de êxito duvidoso
O projeto de Raúl tem possibilidades de êxito? Muito poucas! Ele é um militar sem experiência no campo empresarial e com muito pouca informação sobre o tema. Está acostumado a dar ordens numa estrutura vertical de mando, baseada na obediência. Planejou a reforma sigilosamente, sem consenso, com um pequeno grupo de generais de sua inteira confiança e com ajuda de seu filho e herdeiro presuntivo, o coronel Alejandro Castro Espin.
No bojo de sua formação autoritária, ele acredita que agora pode dizer: „faça-se o capitalismo e o cooperativismo“ e o milagre acontece. Ninguém lhe avisou que o país dispõe de pouquíssimo capital cívico, porque eles mesmos se encarregaram de destruir este elemento chave para impulsionar o desenvolvimento.
Também não acredito que atente para que a economia de mercado, baseada na existência de propriedade privada, depende da confiança, da boa fé e do cumprimento de contratos. Durante meio século, enquanto os comunistas falavam de solidariedade e bem comum, sem perceber, adestraram os cubanos no comportamento do „todos contra todos“ e no „salve-se quem puder“. Reverter estas tendências culturais e estes comportamentos, vai levar tempo. Aprender que o roubo e a mentira são censuráveis é uma tarefa de longo prazo.
Que vai acontecer com as reformas de Raul Castro?
O primeiro é que êle não vai demorar para descobrir, que as reformas dos estados totalitários jamais se ajustam ao projeto original que as sustenta. Iniciadas as mudanças as consequências são imprevistas e as reações indesejadas. Tudo abre espaço para novas mudanças, que geram desenlaces insuspeitos e acabam por pulverizar o projeto original.
Os que discorrem sobre o „modelo chinês“, ignoram que jamais passou pela cabeça de Deng Xiaoping, que a China acabaria se transformando numa ditadura de capitalismo selvagem com partido único. Nem que o obsessão nacional viria a ser - falar inglês e viver à maneira ocidental. Tudo o que Deng queria, era aumentar a baixíssima produtividade e a produção do país, para poder chegar perto dos níveis de Taiwan ou Singapura. Uma situação parecida ao que Gorbachov tentou fazer na União Soviètica e acabou por destroçar o sistema comunista.
De qualquer modo, as mudanças que Raul Castro está impondo, não vão dar frutos, nem a curto nem a médio prazo, mas provavelmente vão gerar muitos atritos dentro e fora de Cuba.
Talvez ele pudesse começar pondo em ordem o sistema monetário. Enquanto existam moedas atreladas a um cambio desonesto, as transações serão prejudiciais, dificultanto a obtenção de benefícios, economizar e investir, única sequência viável para o crescimento econômico.
Falta elaborar um sistema de preços, baseado na oferta e na procura. O que acontece com as moedas, acontece com os preços: o mercado negro ou o mercado paralelo autorizado pelo governo, está regido por preços que nada tem a ver com a realidade oficial. Se o governo tentar controlar os preços do incipiente setor privado, vai desencorajar os produtores. Se não os controla, os preços sobem, como aconteceu, certamente, entre os anos de 1964 e 1968, quando ainda existia o tecido empresarial privado, provocando conflitos sociais e inflação.
Enquanto for vigente a constituição estalinista no país, não existirão instituições de direito capazes de tutelar as transações comerciais no setor privado. Não existe uma lei de comércio adequada à nova realidade. Não existe uma lei regulamentando falências. Os juizes e advogados são inexperientes com problemas e conflitos típicos das sociedades onde existe a propriedade privada.
O país não dispõe de um sistema financeiro que disponibilize recursos. Não existe economia nacional e os poucos recursos existentes não vão ser utilizados para sustentar investimentos privados. Os bens imóveis não podem ser utilizados como garantia de empréstimos, porque as pessoas não são proprietárias de suas casas. Habitam-nas em usofruto e não podem nem efetuar consertos por conta propria.
O estado está desabastecido, o que significa que não pode atender as necessidades de insumo dos empresários privados. De onde vai sair o capital e os insumos para iniciar a construção de empresas privadas ou cooperativas? Raúl Castro e seu pequeno grupo de colaboradores, esperam que o capital seja aportado pelos exilados, desejosos de ajudar familiares e amigos e fazer negócios que possam beneficiá-los.
É provável que o governante cubano tenha razão e que muitos exilados estejam dispostos a aventurar pequenas quantias. Mas as consequências políticas e sociais destes investimentos, serão devastadoras para o prestígio em baixa das ideias comunistas. Se vão viver melhor em Cuba, os que tem a possibilidade de enriquecer, as pessoas empreendedoras que se associem a seus parentes e amigos que vivem exterior, para desenvolver atividades privadas, não há dúvida que os cidadãos de segunda serão aqueles que ficarem ancorados na retórica e na prática comunista e revolucionária.
Diante disto, certamente muitos membros da nomenclatura, especialmente os mais jóvens, vão querer afastar-se do partido e das instituições governamentais, para desenvolver atividades empresariais privadas. Os sintomas deste fenômeno já são claros. Dois dos filhos de Fidel Castro, o filho de Machado Ventura e milhares de jovens, que pertencem às famílias do poder, que já não tem a menor convicção comunista ou revolucionária. Vão separar-se do aparato governamental, para dedicar-se ao mundo dos negócios, evidenciando a velha frase que assegura: „o comunismo é um pesadelo que as vezes se interpõe entre o capitalismo e o capitalismo“.
Nenhuma das tensões que se aproximam vão surpreender Raúl Castro. Enquanto elaborava seu plano de reformas, enviava à China o general Comomé Ibarra, para comprar grande partida de equipamentos anti-motim, preparando-se deste modo contra qualquer disturbio na ilha. Por temperamento e formação, o pulso de Raul não vai tremer quando acredite que deva mobilizar os carros de combate, ordenando a repressão sangrenta e massiva. Já criou um corpo especial de elite disposto a matar, se necessário.
Em definitivo, que vai acontecer em Cuba? Na metade do século XIX, Alexis de Tocqueville advertir: este tipo de regime estremece e entra em colapso quando tentar mudar. O mesmo não acontece quando permanece quieto e indiferente no meio do desastre. Fidel Castro leu Tocqueville e sabia disto. No fim da linha, Raúl vai entender a lição que aprendeu de Gorbachov: o sistema não admite reformas. É preciso derrubá-lo, pacificamente se se quer assim, mas a demolição é requerida.
NOTA DESTE BLOG: Os equipamentos anti motim, adquiridos na China e na Espanha, já foram inaugurados para controlar a greve de 1000 estudantes do Paquistão. O empenho de Cuba neste momento é garantir a fraude eletrônica das eleições na Venezuela. COMO FUNCIONA A FRAUDE NAS URNAS? O blog do Aluizio Amorim traz um vídeo técnico, mostrando como é fácil interferir nas urnas que utilizam o sistema utilizado no Brasil - http://aluizioamorim.blogspot.com/ - o mesmo sistema que a Venezuela vai utilizar. Lá como aqui, os "donos da bola" já cantam vitória. Escândalos não faltam. Nem dinheiro com que êles compram o "cala a boca" dos opositores.
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