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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mockus e a memória vencida

MÍDIA SEM MÁSCARA

Após dois meses de campanha eleitoral, ninguém se lembra agora, por exemplo, quem é e o que fez o presidente Álvaro Uribe nestes oito anos. Quem obrigou as FARC a pôr suas barbas de molho na Venezuela? Quem reduziu eficazmente o seqüestro? Quem arrancou das FARC 15 de seus reféns políticos?
Em seu último comício de campanha Antanas Mockus demonstrou que é capaz de fazer maravilhas: ele venceu a chuva. Venceu a chuva que ameaçava sua reunião na praça de Bolívar em Bogotá. Levou pouco tempo para fazer isso. O ato começou com duas horas de atraso. O líder verde demonstrou assim que pode vencer a chuva. Seus seguidores chegaram, por fim, com guarda-chuvas e tudo, e ele pôde enviar-lhes sua mensagem de salvação. Que outra coisa poderá fazer don Antanas se for eleito presidente? Ele poderá vencer as FARC. Mockus já disse: se encontrar outro grupo das FARC no Equador, ele irá a Quito e rogará ao presidente Correa que capture os insurrectos, coisa que Correa fará no minuto seguinte.
Com um presidente assim, os colombianos podemos dormir tranqüilos e os terroristas serão aterrorizados. Se alguém lhe mostrar em que fazendas estão abrigados os cinco mil homens que as FARC têm na Venezuela, Mockus viajará a Caracas, porá o "chip cenoura" [1] no presidente Chávez (ou utilizará o "chip beterraba"?), lhe mostrará o plano dos santuários e este despachará seus aviões russos de combate para pulverizar esses lugares um após o outro. Se Mockus venceu a chuva em Bogotá, ele pode, em Caracas, obrigar Chávez a fazer isso, pois o método da "legalidade democrática" é infalível e é mais firme que a segurança democrática. Todo mundo sabe disso!
A cinco dias do primeiro turno da eleições presidenciais, temos que admitir outra coisa: se Antanas Mockus venceu a chuva em Bogotá, ele pode vencer a memória dos colombianos. Já o fez, em parte. Após dois meses de campanha eleitoral, ninguém se lembra agora, por exemplo, quem é e o que fez o presidente Álvaro Uribe nestes oito anos. Quem obrigou as FARC a pôr suas barbas de molho na Venezuela? Quem venceu a insegurança, salvou a economia, melhorou o aspecto social, aumentou a cobertura da saúde, reduziu a pobreza, preservou as liberdades? Nada, ninguém sabe. O que todo mundo sabe, é que com o professor Antanas obteremos tudo isso. O candidato verde diz, por exemplo, que com ele "a presença da Força Pública chegará a todo o território colombiano". Uribe já não fez isso? Não, assegura sua eminência; isso só o fará a "legalidade democrática". Quem permitirá que haja juízes e prefeitos em todo o território? Antanas, pois não se sabe o que Uribe fez a esse respeito.
E assim vão as coisas. Antanas promete que com ele chegará "o monopólio da Força Pública por parte do Estado". Pois isso tampouco existe, parece, na Colômbia. Quem desmantelou as AUC (Autodefensas Unidas de Colombia)? Quem extraditou seus chefes? Quem está desbaratando as Bacrim? Quem golpeia a máfia mexicana na Colômbia? Não se sabe. Ou, melhor, nos esquecemos. Pois Mockus, que venceu a chuva, pode prodigalizar a mais vasta amnésia.
Quem reformou 220 hospitais e revolucionou a cobertura social, a qual passou de 23 milhões a 41 milhões de beneficiários? Quem estendeu a cobertura de saúde de 60% em 2002, para 91% em 2010? Ninguém sabe. Mockus diz, ao contrário, que "o sistema de saúde está a ponto de naufragar".
Quem reduziu eficazmente o seqüestro? Quem arrancou das FARC 15 de seus reféns políticos? Quem fez com que um importante embaixador dissesse, em fevereiro passado, que "as Forças Armadas da Colômbia encontram-se entre as melhores do mundo?". Não se sabe. Não deve ser verdade. Pois Mockus parece pensar todo o contrário. Ontem disse a um jornal de Barcelona que "A oferta de um sistema de incentivos pode ter distorcido a atividade dos soldados, que buscaram licenças com assassinatos simulados. Matavam camponeses, inclusive gente com algum retardo mental ou com histórico delitivo, as vestiam com uniformes da guerrilha das FARC e os reportavam como rebeldes mortos. Assim conseguiam licenças para visitar a família ou incentivos econômicos". Ele disse isso depois de admitir que a investigação judicial a respeito ainda não deu sua última palavra.
Se a memória for vencida, pelo vencedor da chuva, esqueceremos o que foi a Segurança Democrática e qual papel desempenhou nela o ex-ministro Juan Manuel Santos. Pois trata-se disso, de que esqueçamos, de que a verdade seja sepultada por uma grande mentira, para não saber como votar no próximo 30 de maio. A única coisa que nos está ficando claro é que, como diz o candidato Mockus, "a legalidade democrática foi muito violentada durante o mandato de Uribe".
Assim, o professor Antanas, que diz não querer o apoio do partido de Gustavo Petro, nem dos amigos de Piedad Córdoba, põe-se a repetir o que eles dizem. Para Mockus, por exemplo, "há uma responsabilidade eventual por omissão", do presidente Uribe e de Juan Manuel Santos nos chamados falsos positivos (La Vanguardia, Barcelona, 25 de maio de 2010). Ele acrescenta que "os subornos a congressistas para conseguir a reeleição de 2004" foram feitos "pelos colaboradores de Uribe", e que todos eles devem ser julgados. Mockus insiste: "Eu pedi em uma carta pública a renúncia do presidente Uribe em razão desse escândalo de subornos a parlamentares".
Porém, o vencedor da chuva não conseguiu. Se ele for eleito, a "legalidade democrática" abrirá um processo contra todos, pelo menos, e os entregará a quem seja. Pelo de Raúl Reyes, quantos enviará à justiça equatoriana? No mesmo tom que Piedad Córdoba utiliza para tratar desses temas, o candidato Antanas lançou outra sábia sentença ao diário espanhol: "no passado - disse - o estabelecimento colombiano foi responsável pelos assassinatos de candidatos presidenciais". Antanas se apresenta, em Bogotá, como um candidato verde, moderado e até de centro. Entretanto, quando fala à imprensa estrangeira pode mostrar, nas entrelinhas, que seu programa verdadeiro é coerente com a visão da esquerda mais fanática e cavernosa do continente.


Nota da tradutora
[1] O autor aqui refere-se a um programa estabelecido por Mockus quando foi prefeito de Bogotá, no qual todos os policiais de trânsito foram demitidos e em seu lugar, atores fantasiados mostravam uma cenoura de tecido enorme ao motorista transgressor do semáforo, que acabava obedecendo envergonhado.
Tradução: Graça Salgueiro

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".