Olavo de Carvalho - 24/5/2010 - 22h15
Desgraçado o país que, na falta de sensibilidade intelectual, escolhe os seus conselheiros mediante critérios de etiqueta, indumentária e posição social
Dos comentários à coluna de Reinaldo Azevedo de 16 de maio, uma dúzia enfatizava que as notícias recentes, com provas definitivas da cumplicidade do PT com as Farc e outras organizações criminosas, já constavam de meus artigos de 10 ou 15 anos atrás. "É preciso – diz um leitor – fazer justiça ao jornalista Olavo de Carvalho, que durante anos foi motivo de chacota por denunciar sozinho o Foro de São Paulo."
Outro recorda: "Neste vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=c4taMM83xp8), Olavo de Carvalho já denunciava a ligação das FARC com o PT, CV e PCC." E outro: "Parabéns a Reinaldo, um dos primeiros a apoiar Olavo de Carvalho, que já falava disso há anos – o único cientista político honesto do Brasil." E assim por diante.
Nos vinte anos de governo militar, nunca vi um só jornalista ser expulso de toda a "grande mídia" brasileira por divulgar algum fato indesejado politicamente. Esse privilégio, que me lisonjeia ao ponto de me corromper a alma, ficou reservado para ser conferido à minha pessoa no período histórico imediatamente posterior, chamado, por motivos esotéricos, "redemocratização".
Por informar ao público a existência do Foro de São Paulo e os laços mais que íntimos entre partidos políticos e quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores, fui chutado do Globo, Época, Zero Hora, Jornal do Brasil e do Jornal da Tarde. O número dos que, por esses e outros canais, me chamaram de louco, de mentiroso, de desinformante,e teórico da conspiração e coisas similares conta-se como as estrelas do céu. Excluído do círculo, encontrei um último abrigo neste bravo Diário do Comércio, onde me sinto cinicamente bem entre outros meninos malvados como Moisés Rabinovici, Roberto Fendt e Neil Ferreira. Estou grato aos leitores da Veja pela sua fidelidade à memória dos fatos, mas – confesso – nunca me senti entristecido ou magoado com aqueles indivíduos, oficialmente profissionais de imprensa, que imaginaram poder destruir minha reputação a pontapés.
As marcas de seus sapatos no meu traseiro desvaneceram-se em questão de segundos, tão logo os enviei, por via postal ou radiofônica, à p. que os p. ou à prática do sexo anal consigo próprios.
A satisfação que esses desabafos me trouxeram foi tão grande, tão sublime, que, em vez de rancor, passei a sentir uma terna gratidão pelos ex-patrões, por terem me dado a ocasião de viver tão deliciosos momentos. Mais deliciosos ainda pela certeza de os destinatários engoliriam tudo calados, fingindo que não era com eles, quando todo mundo sabia que era.
Não há dinheiro que pague uma coisa dessas. Liberto de mágoas pessoais, não posso, no entanto, deixar de sentir tristeza ao ponderar que o curso deplorável tomado pelos fatos, desde há duas décadas, poderia ter sido contornado se algumas pessoas em posição de poder e destaque na sociedade tivessem dado ouvidos à voz deste esfarrapado observador da realidade, em vez de dá-los aos bem-pensantes, bem vestidos e bem barbeados bonecos de ventríloquo da mídia e das universidades.
Quem perdeu com isso não fui eu, foi o Brasil. Desgraçado o país que, na falta de sensibilidade intelectual, escolhe os seus conselheiros mediante critérios de etiqueta, indumentária e posição social.
Olavo de Carvalho é ensaísta, jornalista e professor de Filosofia
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