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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O sistema de mercado do Leste Europeu e as mudanças de 1989

 

MÍDIA SEM MÁSCARA

ESCRITO POR JEFFREY NYQUIST | 27 AGOSTO 2012
ARTIGOS – ECONOMIA

Se a Guerra Fria foi uma contenda entre a liberdade econômica e a repressão, como alguém pode dizer que o lado soviético perdeu? “Não,” diz Buchar, “o Ocidente foi tremendamente derrotado...”. Como qualquer um pode ver, o livre mercado não é consistentemente
defendido no Ocidente.

Após 1989, quando o mundo comunista começou a desfazer-se, o velho sistema econômico neoestalinista do Leste Europeu foi alvo de reformas. A qualidade da reforma econômica variou de país para país assim como foram variados os estabelecimentos dos Estados de Direito. Embora seja verdadeiro o fato de algumas economias do Leste Europeu terem se afastado do invasivo controle governamental, muitas outras permaneceram na mão de apparatchiks, mafiosos e “ex-”oficiais da polícia secreta. Deste modo, a liberdade econômica não teve muito espaço naquela região.

Por que as reformas de mercado no Leste Europeu foram decepcionantes em tantos aspectos? “Não é o que as pessoas pensam”, disse o cineasta Robert Buchar, que lançou seu tão esperado documentário The Collapse of Communism: The Untold Story. Eu falei com Buchar [clique aqui para ouvir] sobre o seu documentário para perguntar o que ele descobriu ao entrevistar os participantes chave dos eventos de 1989, incluindo o diretor da CIA Robert Gates. Uma das coisas mais interessantes aconteceu quando Buchar tentou entrevistar um dos principais líderes do Partido Comunista da Tchecoslováquia em 1989, Rudolf Hegenbart, que recusou dizer qualquer coisa oficialmente. “O pessoal de Havel orientou-me a não dizer nada ou eu poderia acabar no fundo do lago” disse Hegenbart para Buchar. Mais tarde, Buchar enviou para Hegenbart uma cópia do seu livro (baseado no documentário) que mostra como as mudanças no Leste Europeu foram enganosas e mal entendidas, especialmente no Ocidente. “Sim, basicamente você está certo em tudo o que escreveu nesse livro. Nos ensinaram tudo isso em Moscou quando estudamos lá”, admitiu Hegenbart.

Buchar nasceu na Tchecoslováquia comunista e atualmente leciona no Columbia College em Chicago onde é chefe do programa de cinematografia. “Eu era de uma família burguesa”, explica Buchar, “como meu pai era um empresário, ele tinha a própria companhia com sessenta empregados”. Evidentemente, empresários eram criminosos no velho regime comunista e os filhos deles tinham qualquer oportunidade negada. Buchar saiu de sua cidade natal e foi para Praga, onde as pessoas não conheciam seu passado. “Eu consegui entrar em uma escola em Praga e, quando me mudei para lá, meu arquivo [da polícia secreta] não mudou comigo [...] Eu não tinha passado” devaneou Buchar. Mas o passado de Buchar acabou alcançando ele novamente: “Mais tarde, por volta de 1972, quando os russos reforçaram o controle sobre tudo... por não estar no Partido [Comunista] eu não poderia trabalhar na mídia”. Quando ficou impossível para ele trabalhar, ele procurou a liberdade no Ocidente.

O documentário de Buchar apresenta o testemunho de ex-oficiais da polícia secreta tcheca, que alegam que a Revolução de Veludo em 1989 foi orquestrada por Moscou. O corpo de testemunhas sobre o assunto é grande e confiável, diz Buchar. “Não apenas... (os) sujeitos que falaram no meu documentário; há muitas outras pessoas com quem eu conversei que recusaram a dizer oficialmente qualquer coisa a esse respeito (...) pois elas temiam por suas vidas [...] Há vários documentos – está muito bem documentado o fato disso ter sido umplano preconcebido […] para mudar o regime e os russos vinham trabalhando nisso há décadas...”.

Buchar entrevistou um oficial da polícia secreta que desempenhou um papel em um dos acontecimentos chave da revolução de 1989. “Ele era apenas uma pequena peça de um grande quebra-cabeça”, comentou Buchar. “Ele basicamente fez o que lhe foi ordenado [...] Ele era o encarregado de criar a organização estudantil. O objetivo era penetrar nos movimentos dissidentes [...] e organizar a demonstração de 17 de novembro de 1989, que desencadeou [...] a revolução. E no fim dessa demonstração ele fez o papel de um estudante [...] morto pela tropa de choque. É claro que era uma farsa”.

A União Soviética e seus países-satélite podem ter mudado o sistema econômico se olharmos superficialmente, mas boa parte daquilo que foi o espaço econômico soviético permanece sob indireto (senão direto) controle governamental. Essa nova forma de controle conta com intermediários financeiros, redes de agentes e o crime organzado. Usando um capitalismo de compadres, junto com o submundo da lavagem de dinheiro, o sistema econômico pós-soviético está se espalhando por todos os lugares. Ele pode até mesmo estar colonizando o sistema de mercado do Ocidente, enfim, contaminando o todo.

Se a Guerra Fria foi uma contenda entre a liberdade econômica e a repressão, como alguém pode dizer que o lado soviético perdeu? “Não,” diz Buchar, “o Ocidente foi tremendamente derrotado...”. Como qualquer um pode ver, o livre mercado não é consistentemente defendido no Ocidente. Nós pressupomos que o mercado irá triunfar, mas nós não temos um plano. O outro lado definitivamente tem um plano. “Se você assistir o meu documentário você verá que Robert Gates dá a versão oficial dos eventos de acordo com a CIA”, completa Buchar. Mas essa não é a verdadeira, ou pelo menos, toda a história. “ Vladimir Bukovsky é um dos pontos centrais do meu projeto, pois ele possui provas documentais do Partido Comunista da União Soviética [...] Ninguém pode negar esses documentos...”

É questionável se o plano de Moscou funcionou em todos os países do antigo bloco. Atualmente, a República Checa é avaliada pelo Índice de Liberdade Econômica - 2012 da Heritage Foundation como “moderadamente livre”, figurando no 30º lugar. É claro que isso não reflete os níveis secretos de controle aos quais podem operar as máfias e os oficiais conectados ao velho sistema. De modo mais evidente, alguns países do Leste Europeu continuaram manifestadamente repressivos, como as ex-repúblicas soviéticas Bielorússia, Ucrânia e Uzbesquistão. Outras repúblicas como Azerbaijão, Moldávia e Rússia são avaliadas como “majoritariamente não-livres”.

A liberdade parece ter prevalecido, porém, nas ex-repúblicas soviéticas Estônia (16ª no ranking) e Lituânia (23ª), consideradas “majoritariamente livres” pelo Índice da Heritage Foundation. Essas, claro, estão entre as menores e menos significantes das repúblicas soviéticas; e talvez elas foram as mais sofisticadas no uso das oportunidades apresentadas pela queda da União Soviética. Em última análise, porém, devemos ver o colapso do bloco comunista como um equívoco. Essa verdade foi indiscutivelmente trazida à tona no documentário de Buchar. E ele ainda avisou no fim da entrevista que fiz com ele: “Muitas pessoas hoje em dia estão refletindo sobre o que está acontecendo nos Estados Unidos e como se chegou a isso [...] Ninguém está realmente olhando o todo para perceber que não é um problema interno; é um problema externo. O que aconteceu aqui não é apenas por nossa causa, mas é por causa de outras forças que operam em uma escala global”.

Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Junior

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".