SÉCULO DIÁRIO
Mais do que papel de ofício, a investigação é um compromisso com a história do ES
Nerter Samora
24/08/2012 18:01 - Atualizado em 25/08/2012 09:58
“Quem está no topo da pirâmide do crime organizado?”. A questão lançada pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), desembargador Pedro Valls FeuRosa, expôs que o verdadeiro núcleo do crime organizado no Estado não foi atingido graças ao “alto poder de corrupção e intimidação”. Com essas palavras, o chefe do Judiciário capixaba fez história, pela segunda vez, nos desdobramentos da “OperaçãoLee Oswald”, que desarticulou uma quadrilha especializada em lesar os cofres públicos no Espírito Santo.
Assim como na primeira decisão, em abril deste ano, quando expôs a transcrição de denúncias de corrupção no governo Paulo Hartung (PMDB), Pedro Valls colocou o dedo na ferida ao devolver a denúncia feita pelo Ministério Público Estadual (MPES) que, na interpretação do magistrado, não avançou nas investigações das peças de informações constantes nos autos do processo.
Mais do que isso, o presidente do TJES fez questão de pontuar, no voto proferido esta semana, que o escândalo em Presidente Kennedy (litoral sul do Estado) não poderia se resumir apenas ao pequeno, mas milionário município no litoral sul do Estado. As investigações feitas pela Polícia Federal deram conta da existência de uma complexa rede de tráfico de influência que ignora as divisas de municípios e chega até mesmo ao Executivo estadual.
Relações de poder tão promíscuas que o próprio Ministério Público se manifestou quanto à existência de uma “estrutura piramidal” do crime, mas este não fez questão de apresentar os nomes. Motivando a queixa não só do desembargador, mas como de toda sociedade capixaba, que ouve há quase uma década de que uma tal “onça não estaria morta, mas adormecida”. Será que ela chegou a ser abatida? Pelo visto, não.
Nesse sentido, a decisão de Pedro Valls também é repleta de simbolismo. Talvez o maior deles seja a confirmação da procedência de algumas das denúncias lançadas por ele contra o governo passado, como a deflagração da “Operação Pixote”, que prendeu acusados de fraudes no sistema prisional capixaba. Se a Polícia Civil desenvolveu as investigações e confirmou os ilícitos, qual a razão do MPES não ter avançado nas demais denúncias de corrupção?
Enquanto questões como essas permanecerem em aberto, as palavras de Pedro Valls vão continuar ecoando – mesmo que parte da chamada imprensa corporativa tente minimizar este fato. Afinal, estamos falando de talvez o “maior escândalo de corrupção na história do Estado”, como bem resumiu o desembargador.
Desta forma, a investigação sobre toda essa pirâmide se torna mais que uma função de ofício, mas um compromisso histórico. A história deste novo Espírito Santo.
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