SÉCULO DIÁRIO
José Rabelo
26/08/2012 13:34 - Atualizado em 27/08/2012 10:03
Desde que largou a batina de frei, e junto com ela os juramentos religiosos – sobretudo o voto de pobreza -, o diretor-executivo da Associação Capixaba de Desenvolvimento e Inclusão Social (Acadis), Gerardo Mondragón, provou que a ambição humana, muitas vezes, não tem limite. Após deixar a carreira religiosa, em 2006, o ex-frei passou a ser tentado pelos pecados da carne. Na vida entre os homens, o colombiano mostrou que estava disposto a fazer qualquer coisa para conquistar fama, poder e dinheiro. Com a ajuda de Silvana Gallina conseguiu os três, mas queria mais. Há pouco mais de uma semana, porém, ele viu seus planos ruírem. Mondragón foi preso, junto com mais 12 pessoas, suspeito de envolvimento num esquema de corrupção nos contratos firmados entre a Acadis e o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo, comandado por Silvana Gallina, que também continua detida.
Na esteira das irregularidades que cometeu para se tornar um homem poderoso e rico, Mondrágon “comprou” uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o Inbradese – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social e Educacional. A primeira irregularidade cometida por Mondragón nessa transação está no fato de ser ilegal comprar ou vender uma organização sem fins lucrativos, como ele mesmo explica. A segunda é que o colombiano “pagou” o “dono” da organização com dez cheques sem fundos.
Insatisfeito com o “calote”, um conhecido de Mondragón, que intermediava a negociação, exige o pagamento da dívida. Acompanhe as mensagens de e-mail, de setembro de 2009, trocadas entre os dois. Omitimos os nomes dos personagens que aparecem nas mensagens.
Intermediador: “Gerardo, imagine um brasileiro ir a colombia e sacanear os colombianos??? Imaginou?? Conheci um colombiano que vive fazendo isso com os brasileiros
O (...) tem 10 cheques que vc deu pra pagar os ativos do INBRADESE que hoje vc usa como sendo sua.. e nenhum cheque que voce deu compensou... o pior que depois de varios anos esse seu rolo sobra pra eu pagar.. como seu eu tivesse alguma coisa com vc.
Gostaria de saber como o (...) faz para receber o que vc deve a ele com os juros que o cara ta cobrando que é o minimo que um homem de PALAVRA pode fazer.
Me revolta em saber que vc adora sacanear a galera tanto do Brasil como seus compatriotas. Acredito eu que a propria congregação [Amigonianos] tenha sofrido com a sua falta de caráter... Mais pode ter certeza que esse mundo da muitas voltas.
Segue meus telefones de contato caso vc não se manifeste para o pagamento dos 10 cheques dado por você para o Daniel todos sem fundo..
Aqui no Brasil chamamos isso de estelionato a emissão premeditada de cheques sem provisão de fundos...não sei como vc chama em seu país”, finaliza o intermediador.
Mondragón se irrita com a cobrança, e alega que teve muitos gastos com o Inbradese. Ironicamente, ele lembra ao cobrador que é ilegal vender uma organização sem fins lucrativos, dando a entender que não vai saldar a dívida.
Mondragón: “Eu paguei o que deveria ter pago, estou pagando juros de algo que não estou utilizando e ainda mais deve estar fechada porque não fiz nenhum negocio com ela. Quando vcs passaram estava com muitas dividas de juros ale´m dos juros que (...) pagou, neste momento ainda devo pagar mais. Não estou sacaneando a ninguem, nem a (...). e muito menos a (...), dei trabalho para eles e vc vai ver quem são os sacanas. Depois de 5 anos vc vem a encher meu saco, porque? ta pensando que trabalho com essa ong. Estou mais para que vcs me deem trabalho cara, meu slario da só para pagar meu aluguel. Entra na justiça, por acaso vc não sabe que ongs não se vendem? elas são sem fins lucrativos.
Nenhuma ONG é de propriedade privada de uma pessoa, ela esta cosntituida segundo estatuto social por membros e estes membros não tem poder sobre a mesma”, explicou o ex-frei.
Apesar do currículo pouco confiável da Oscip, o Iases promoveu, inclusive com dinheiro público, uma série de eventos em parceria com o Inbradese. Veja uma das chamadas publicadas no Diário Oficial do Estado em 2011: “O Instituto de Atendimento Sócio-Educativo do Espírito Santo (Iases) está apoiando a realização do II Seminário Estadual do Projeto “Adolescência Sem Grades” (Niñez Sin Rejas), sobre o tema “Justiça Restaurativa’” que será realizado nos dias 18 e 19 de novembro, pelo Instituto de Desenvolvimento Social e Educacional (Inbradese). O evento acontecerá no auditório da ArcelorMittal Tubarão, no município da Serra, e já está com as inscrições abertas, que podem ser realizadas gratuitamente no site da Inbradese (www.inbradese.org.br)”.
Na última terça-feira (21), quando a reportagens estava trabalhando nas informações finais desta matéria, ainda era possível navegar no sítio do Inbradese (acima). Havia muitas informações e fotos de Gerardo Mondragón e Silvana Gallina provendo eventos em nome da organização comprada com cheques sem fundos.
Estranhamente, não sabemos por que motivo, o site foi retirado do ar. Inclusive todos os links que davam acesso às informações relativas a Mondragón e Gallina foram “quebrados”. Para conferir, basta colocar o nome de Silvana Gallina ou Mondragón e Inbradese. As matérias aparecem no “cash” do Google, mas não podem ser mais acessadas.
Isto nos faz suspeitar que há pessoas incumbidas de “apagar” indícios que comprovem a ligação entre Silvana Gallina e Gerardo Mondragón. Isso tudo em pleno curso da Operação Pixote, que investiga o escândalo no Iases. O delegado Rodolfo Laterza, que comanda a operação, pediu a prisão preventiva dos dois justamente para que as investigações não sofressem interferência.
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