MÍDIA A MAIS
17 | 08 | 2012
Batman: anticoletivismo
Por: Felipe Atxa
O capítulo final da nova trilogia Batman é uma obra-prima da maravilhosa arte popular do cinema. Mas não é só isso.
Nada como um filme para, em pouco mais de duas horas, abrir todas as janelas do mundo. Diretor algum consegue colocar a cabeça dos espectadores para fora em cada uma delas: mas é possível, diante de uma produção comoBatman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, sentir o vento sacudindo o cérebro, as ideias apontando caminhos, a curiosidade aflorando a cada fotograma.
Se Christopher Nolan, o escritor por trás do filme, é um ingênuo como faz parecer em suas entrevistas, então sua intuição é do tamanho de seu talento. A proeza técnica de seu último Batman, a crueza do espetáculo predominantemente mecânico (não vá para o cinema esperando ver aqueles efeitos com cara de vídeo-game), escondem e iludem (no bom sentido do termo, naquele mais "cinematográfico"): há muita coisa por trás daquelas imagens.
Quem já viu o filme pode se lembrar; quem não viu ainda, vale a pena prestar atenção. Sem revelar segredos para o segundo grupo, aqui vai uma pequena série de tópicos que o filme levanta, preocupações que discute vagamente (não há discussão cinematográfica que não seja "vaga", e reside exatamente nessa ligeireza a maior qualidade da arte - popular - do cinema, porque nenhuma outra faz da plateia a senhora do significado tanto quanto esta):
- Ecos da Revolução Francesa, que permeiam o filme inteiro: os tribunais populares, a conotação perversa que a palavra "cidadão(ã)" assume em determinado momento da trama. Repare na nacionalidade de um dos atores/atrizes, e como nem essa informação é desprezível dentro do contexto.
- Preste atenção em quem defende com unhas e dentes "fontes de energia alternativa", e depois o que tal personagem faz ou deixa de fazer.
- A maravilhosa cena em que se confrontam poder econômico vs. poder real (das armas, da violência), e quem finalmente vence.
- Como os milicianos lembram bolcheviques destruindo casas e colocando a "aristocracia" para correr.
- Lembre-se de que Batman é, acima de tudo, um defensor da ordem, mas não de qualquer ordem: da ordem burguesa.
- O terrorista/homem-bomba, que aceita com felicidade seu destino logo na cena de abertura.
- Como o filme traz à tona o velho tema dos capitalistas (corporações) financiando as revoluções.
O último Batman de Nolan está longe de ser um "filme de arte": é, repito, um espetáculo da extraordinária arte popular ("para todos") que é o cinema. Por isso mesmo é capaz de propor uma miríade tão vasta de temas em tão pouco tempo para um número absurdamente grande de pessoas dos mais variados perfis sociais e culturais. Seria Nolan um "conservador"? Seria "Batman" um herói extemporâneo da moribunda "direita cinematográfica"? Seria seu enredo um alerta quanto à fraqueza dos homens de bem na guerra ao terror, da leniência quanto às relações suspeitas entre capital e movimentos revolucionários, do relativismo moral da sociedade moderna, uma crítica velada aodeterminismo histórico?
Não faço a menor ideia. Mas um filme que consegue irritar e incomodar de Barack Obama a Slavoj Žižek, passando por todos os estupefatos críticos brasileiros de cinema, merece ser visto. E visto de novo. E por que não uma terceira, uma quarta vez...
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