SÉCULO DIÁRIO
Editorial
17/08/2012 19:02 - Atualizado em 17/08/2012 20:23
Não é mais novidade para quase ninguém que o chamado arranjo institucional do ex-governador Paulo Hartung foi quase perfeito. Durante os oito anos de seu governo (2003 – 2010), o ex-governador conseguiu manter em suas mãos as principais instituições do Estado: Judiciário, Tribula de Contas, Ministério Público, Assembleia Legislativa, boa parte da imprensa, empresários e até as organizações da sociedade civil. Lembram da Espírito Santo em Ação?
Pois é, tudo beirou a perfeição, não fosse uns e outros mais enxeridos tentados desnudar os bastidores que movimentavam o tal arranjo. Humildemente, sem recalque, incluímos Século Diário nesse rol de denuncistas que não se calaram às intimidações dos comandantes do arranjo.
O próprio Hartung em pessoa, em relação a Século Diário, fez de tudo para minar o jornal: por meio de boicotes financeiros, processos “arrumados” na Justiça ou ainda através do trabalho sistemático de desacreditar o conteúdo do jornal perante seus leitores e iminentes anunciantes, que temiam se aproximar do jornal.
Foi assim, por exemplo, com relação à série de reportagens que denunciaram o esquema de corrupção no Iases, como revela a matéria em destaque (Prisões de Gallina e Mondragón trazem à tona esquema de corrupção no Iases), que antecipou o conteúdo da coletiva do delegado Rodolfo Laterza, responsável pela Força Tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública para apurar as irregularidades nos contratos entre Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) e a Associação Capixaba de Desenvolvimento e Inclusão Social (Acadis).
Como outras tantas reportagens que Século Diário publicou durante a Era Hartung, essa, embora veiculada no governo Casagrande, também sofreu o boicote imposto por Hartung, que usou a imprensa corporativa para rebater as matérias que apontavam indícios claros de corrupção no Iases.
Enquanto Século Diário sustentava em provas documentais as denúncias envolvendo a diretora-presidente do Iases Silvana Gallina e o presidente da Acadis Gerardo Mondragón, num flagrante esquema de corrupção, a Gazeta oferecia aos seus leitores as seguintes matérias: "Ex-infrator colombiano, Gerardo Bohorquez Mondragón lança livro no Tribunal de Justiça"; "Educador Gerardo Mondragón mostra que é possível recuperar dependente químico"; "Ele esteve no mundo do crime e hoje resgata os infratores".
Mesmo após as denúncias publicadas por Século Diário envolvendo o colombiano, o periódico não se preocupou em apurar as os fatos e preferiu deixar seus leitores com a versão promocional montada pelo lobby de Mondragón (o “ex-obrigado-a-trabalhar-para-as-FARC”).
As prisões incontestáveis de Mondragon, Gallina e companhia, finalmente fazem justiça em duas frentes: em primeiro lugar com a sociedade, com o contribuinte, que não merece ver seu dinheiro sendo gasto para enriquecer um oportunista colombiano que se tornou personalidade no Espírito Santo da noite para o dia, graças ao lobby movimentado por Gallina, pelo deputado Josias da Vitória (PDT) e mais um monte de interesseiros de ocasião que queriam enriquecer à custa da tragédia humana.
Em segundo lugar, as prisões legitimam o trabalho jornalístico sério de Século Diário, que investigou fatos e não fofocas. As prisões e as provas levantadas pela Força Tarefa do delegado Laterza estão aí para quem ainda duvidava do nosso trabalho.
Voltando ao escândalo no Iases, as denúncias são graves e merecem apuração rigorosa, mesmo que as investigações recaiam sobre o secretário de Justiça, o deputado Da Vitória ou ainda o ex-governador Paulo Hartung, que foi quem alçou Gallina no Iases e fez questão de mantê-la no cargo mesmo no governo de seu sucessor.
Século Diário continuar fiscalizando as investigações da Força Tarefa, pois estamos falando de dinheiro público que está sendo desviado para atender a interesses pessoais. Dinheiro público que deveria estar sendo gasto no trabalho de ressocialização de adolescentes em conflito com a lei num Estado que ocupa a segunda posição no ranking nacional de homicídios.
Aqueles mesmos jovens que, quando não recebem tratamento adequado do Estado, voltam para as ruas e enfiam sem piedade um revólver na nossa cara para cobrar a dívida social à maneira deles. Nada justifica, concordamos. Mas esta a realidade com a qual nos deparamos todos os dias. O lamentável desfecho de muitas dessas histórias nós já conhecemos – os índices assustadores de homicídios no Estado dizem tudo e mais um pouco.
São esses adolescentes que entram nas unidades socioeducativas atrás de uma segunda chance, que acabam sendo os autores e as vítimas da violência urbana que mantém o Espírito Santo em permanente guerra civil.
Nessa lamentável história de corrupção no Iases há uma compensação: pelo menos nos próximos cinco dias – tempo que dura a prisão preventiva - essas 13 pessoas que foram detidas terão a oportunidade de conhecer o outro lado do sistema de privação de liberdade do Espírito Santo: um sistema perverso, violento e corrupto que eles mesmos ajudaram a construir.
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