29/07/2010 - 13h33
DE SÃO PAULO
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, disse nesta quinta-feira que "deplora" a referência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à crise de seu país com a Venezuela como "um caso de assuntos pessoais". Na véspera, Lula afirmou que há apenas um conflito verbal entre os dois países e não uma disputa mais grave.
"Uribe deplora a forma com a qual Lula, com quem cultivamos as melhores relações, tenha se referido a nossa situação com a República Bolivariana da Venezuela como se fosse um caso de assuntos pessoais", diz um comunicado da Presidência, que critica o brasileiro por ter ignorado a ameaça que representa a presença de guerrilheiros colombianos em território venezuelano.
O comunicado diz ainda que Lula desconhece o esforço colombiano para buscar soluções através do diálogo. "Repetimos com todo o respeito ao presidente Lula e ao governo do Brasil que a única solução que a Colômbia aceita é que não se permita a presença dos terroristas em território venezuelano".
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas com Bogotá na quinta-feira passada (22), depois que o país vizinho levou à OEA (Organização dos Estados Americanos) denúncias de que Chávez abriga guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional) em território venezuelano.
Depois de discursos agressivos de Chávez contra Uribe, a quem chamou de mafioso, a Venezuela aposta no apoio dos colegas de Unasul (União das Nações Sul-Americanas) para resolver a disputa.
O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, deu início a um giro pela América Latina em busca de apoio regional e apresentará, em reunião de chanceleres da união nesta quinta-feira, um plano de paz à Colômbia.
O texto se refere às declarações desta quarta-feira do presidente Lula, que afirmou que pretende se reunir com Chávez e o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que toma posse dia 7, em prol de uma conciliação.
"Pretendo conversar muito com o Chávez, muito com o Santos, porque acho que o tempo é de paz e não de guerra", afirmou Lula, em entrevista após reunião de trabalho e de almoço com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.
"Ainda não vi conflito. Eu vi conflito verbal, que é o que ouvimos mais aqui na América Latina. O que temos de ter primeiro é paciência. (...) Acho que temos interesse da Unasul construir a paz. Acho que temos de restabelecer a normalidade nas relações entre Venezuela e Colômbia porque são dois países importantes", afirmou.
ADIAMENTO
O Brasil não tem expectativa nenhuma do encontro desta quinta-feira em Quito, no Equador. Brasília que vê a reunião de chanceleres como mera estratégia para ganhar tempo até a posse de Santos, informa a colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde.
Desde a crise gerada há uma semana pelo rompimento das relações bilaterais pela Venezuela, o Brasil aposta em adiar a mediação até a posse de Santos, que apesar de ser o candidato de Uribe, promete reconciliação com Caracas.
O Brasil será representado na reunião de hoje em Quito pelo secretário-geral do Itamaraty, embaixador Antônio Patriota, que se preparava ontem para ouvir mais e interferir menos, a não ser para, eventualmente, apagar incêndios.
A reunião começará por volta das 15h local (17h em Brasília).
Em Bogotá, o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, disse hoje que não tem grandes expectativas com relação à reunião de Quito, onde insistirá na necessidade de criar um "mecanismo eficaz" para que a Venezuela colabore na luta contra as guerrilhas.
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