O baile dos hipócritas
Eduardo Mackenzie
...os que deixaram o povo venezuelano sozinho todos estes anos de pesadelo, os que olharam para o outro lado quando Chávez abria as portas às FARC, quando destruía as liberdades e a economia, minava a liberdade de imprensa, encarcerava os opositores, instalava a polícia política cubana e seus verdugos em cada quartel e em cada bairro venezuelano, toda essa gente, indolente e cínica, quer agora intervir na nova farsa: ser árbitros do “conflito” e buscar uma “saída”.
A credibilidade de Hugo Chávez está no chão. Nenhuma chancelaria européia acredita mais em sua palavra. No continente americano esse ceticismo é inclusive anterior. Os únicos que acreditam em Chávez são aqueles que, por razões ideológicas, estão com ele até a derrota final da chamada revolução bolivariana. A verdade não está do lado de Chávez, pois suas alegações sobre o estado das liberdades, da economia e da segurança em seu país são um insulto para as pessoas informadas e menos informadas. Em 25 de julho passado, Thor Halvorssen, presidente de Human Rights Foundation, escreveu isto no Washington Post: “Por sua personalização do poder, seus ataques à propriedade privada, sua perseguição aos dissidentes e a destruição da separação de poderes, Chávez não encarna o legado de Bolívar. Ele representa sua antítese”.
A resposta que Chávez acaba de dar às acusações do Estado colombiano, sobre os acampamentos das FARC na Venezuela, consolidou esse enorme receio. Chávez disse que não há chefes das FARC na Venezuela. Entretanto, o embaixador Luis Alfonso Hoyos deu as coordenadas exatas dos acampamentos terroristas, entre outras provas. Uma resposta hábil de Caracas poderia ter sido: segundo nossos informes, nesses pontos não há gente armada senão este belo arvoredo, ou este horto florido. Porém, Chávez não fez isso. Não podia fazê-lo. Negou sem propor outra coisa. Mentiu e ameaçou como nunca, a Washington e a Bogotá, pois o presidente Álvaro Uribe o havia pegado, uma vez mais, de surpresa.
O pobre ministro Roy Chaderton foi quem ficou pior. Após haver negado na OEA que “Pablo”, um chefe do ELN, havia sido fotografado em uma praia venezuelana, descobriu que já circulava a réplica a isso: alguém mostrou uma foto de Google Earth do mesmo lugar: a praia, a ladeira, o edifício e o dique enterrado. E precisou: essa praia está no litoral central, estado de Vargas. Assim mentem os chefes da revolução chavista, quando são flagrados com as mãos na massa.
Dentro de alguns meses Chávez inventará alguma coisa, quando os casarios fotografados e filmados tenham sido suprimidos. Mesmo assim, a mentira mostrará seu nariz feio: uma verificação minuciosa desses lugares encontrará vestígios desses redutos.
Chávez tenta sair do beco sem saída com sempre fez: rompendo as relações com a Colômbia. Estas já haviam sido “congeladas” por ele em novembro de 2007, quando o presidente Uribe o retirou como “mediador” ante as FARC e as voltou a “congelar” em julho de 2009, quando Bogotá denunciou o achado de armas de procedência venezuelana nas mãos da guerrilha.
Hugo Chávez trata de afogar o escândalo em um mar de ameaças e discursos incoerentes, e mobiliza seus amigos. Néstor Kirchner se ofereceu para “tratar o tema da crise” com o presidente eleito Juan Manuel Santos. Lula e Rafael Correa também querem “mediar”. Os ativistas da UNASUL se agitam e propõem seus serviços. Evo Morales, repete o refrão: que Santos reverta a “lamentável situação” criada, segundo ele, pela “provocação desnecessária” de Uribe. O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, os governos da Espanha e Rússia enviaram mensagens para pedir diálogo com o fim de “evitar uma escalada” da tensão.
Em outras palavras, os que deixaram o povo venezuelano sozinho todos estes anos de pesadelo, os que olharam para o outro lado quando Chávez abria as portas às FARC, quando destruía as liberdades e a economia, minava a liberdade de imprensa, encarcerava os opositores, instalava a polícia política cubana e seus verdugos em cada quartel e em cada bairro venezuelano, toda essa gente, indolente e cínica, quer agora intervir na nova farsa: ser árbitros do “conflito” e buscar uma “saída”.
Todos preconizam um enésimo “diálogo construtivo” entre Caracas e Bogotá para ver como tiram do aperto e reforçam, na realidade, a empresa de depredação comunista da Venezuela e do continente. Todos acreditam que abrir uma vala entre Uribe e Santos, para dividir os colombianos, é urgente e possível.
A solução à crise é, aparentemente, fácil: se não há gente das FARC na Venezuela, por que Caracas não aceita que uma comissão internacional verifique isso? Sejamos sérios: enquanto Caracas não expulsar as FARC e o ELN de seu território, o problema se agravará. Porém, os “neutros” amigos de Chávez que oferecem seus bons serviços não moverão um dedo nessa direção. Por que o fariam se sabem que as FARC e o ELN são dois elos importantes da estratégia de conquista do continente sob a batuta do Foro de São Paulo?
Seria lamentável que Bogotá caísse no delírio de acreditar que esses “mediadores” ajudarão gratuitamente a Colômbia e que os desafios são a curto prazo.
Tradução: Graça Salgueiro
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