| 24 JULHO 2010
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
Alejandro Peña Esclusa afirma que os funcionários da Sebin invadiram sua residência, não permitiram a presença do seu advogado, e roubaram dinheiro e objetos."Quem é capaz de roubar também é capaz de plantar".
É um homem pragmático. Quase não há nele nenhuma ironia. Tampouco é amplo em sorrisos. Vozes do continente se levantaram para defendê-lo, dentre eles Fernando Londoño Hoyos. E nos sótãos da polícia política que antes era a DISIP e agora é SEBIN, permanece encarcerado Alejandro Peña Esclusa que, em entrevista exclusiva para Quinto Día, confessou que quem o queria preso era o presidente Chávez.
"A opinião pública conhece somente minha faceta como lutador ou meu trabalho de denúncia; porém, há outra muito mais relevante, que tem a ver com minhas propostas. Durante anos estudei como nações sub-desenvolvidas converteram-se em potências industriais, particularmente os casos dos Estados Unidos, Japão e Alemanha".
"Tenho certeza de que posso contribuir com o futuro desenvolvimento da Venezuela. Muitas dessas propostas as condensei por escrito desde o novo lugar que Deus me colocou: o cárcere".
O que você acredita que há por trás de toda esta declaração de Chávez Abarca e sua detenção?
Trata-se de uma montagem para tratar de neutralizar meu trabalho opositor.
Esta pergunta pode parecer absurda mas, você pode provar que não tinha explosivos em sua residência?
Nunca manipulei explosivos em toda minha vida. Seria uma loucura lê-los em minha casa, e muito menos no escritório de minha filha de oito anos.
É verdade que tinha câmeras em sua casa que gravaram a suposta plantação de provas por parte do SEBIN?
Não tenho câmeras em minha casa.
Qual foi ou é sua relação com Chávez Abarca?
Nenhuma. A primeira vez que soube dele, foi quando li seu nome nos jornais.
Chávez Abarca tem algum motivo ou razão para envolvê-lo em atos terroristas contra o presidente Hugo Chávez?
Quem tem interesse em envolver-me é o próprio Hugo Chávez. O salvadorenho é só um instrumento como foi a "testemunha estrela" Giovanny Vázquez.
Relata-me em detalhes como foi sua captura.
Aproximadamente 20 funcionários do SEBIN entraram em minha casa. O fiscal não permitiu a presença do meu advogado. Estiveram em todos os ambientes, evidentemente sem supervisão alguma. Por isso lhes foi muito fácil "plantar" os explosivos. Além disso, roubaram dinheiro e objetos. Quem é capaz de roubar, também é capaz de plantar.
Você chegou a pensar que sua detenção pudesse acontecer depois da deportação de Chávez Abarca?
Sim. Eu adverti em um vídeo gravado dois dias antes da invasão, publicado em www.fuerzasolidaria.org. Além disso, um jornal dominical também havia advertido.
Você diria que suas ações contra Chávez e o governo são do tipo terrorista ou golpista?
Ao contrario! Sempre condenei publicamente o terrorismo. Critiquei a aliança de Hugo Chávez com as FARC, justamente por ser um grupo terrorista.
Você trabalha pelo derrocamento do presidente Chávez?
Eu trabalho para criar um grande movimento nacional que consiga a renúncia ou a destituição de Chávez pelas vias pacíficas, democráticas e constitucionais. Chávez não está apto para governar e, além disso, viola a Constituição todos os dias.
Com que pessoas você tem relação na oposição venezuelana?
Depois de 26 anos de vida política ininterrupta, conheço praticamente todos os dirigentes opositores, embora me relacione melhor com a sociedade (ONGs). Tenho sido muito crítico da Mesa da Unidade porque ela participa de eleições sem dizer a verdade sobre a fraude que o Conselho Nacional Eleitoral comete. Estou certo de que a oposição obterá duas terças partes dos assentos nas eleições parlamentares de 26 de setembro, porém o governo só reconhecerá uns quantos deputados.
Que alcance têm esses trabalhos que você disse que vinha realizando contra o presidente Chávez e o Foro de São Paulo?
Meu trabalho contra Hugo Chávez e o Foro de São Paulo é muito amplo e bem documentado. Fui o primeiro a denunciar os nexos de Chávez com Fidel Castro e com as FARC (1995). No ano de 2000, o acusei ante a Procuradoria por Traição à Pátria, devido a seus vínculos com as FARC. Fui eu quem organizou as primeiras marchas contra Chávez (2001), exigindo-lhe a renúncia. No ano passado viajei a Haya e iniciei os primeiros trâmites para acusá-lo por delitos de lesa-humanidade ante a Corte Penal Internacional. Depois viajei a Washington e o acusei ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos por promover a violência e a guerra na América Latina. Viajei por todo o continente e inclusive pela Europa, denunciando as características totalitárias do modelo chavista. Meu trabalho opositor tem sido tão efetivo, que por isso Chávez necessitava neutralizar-me pondo-me preso.
E o do Foro de São Paulo?
Tenho sido seu principal detrator, fazendo denúncias gravíssimas contra ele nas principais cidades do mundo. Meus livros contra o Foro de São Paulo circulam em espanhol, inglês e português.
Que relação tem ou teve com Francisco Chávez Abarca?
Absolutamente nenhuma! Não tenho a menor idéia de quem é ele, exceto pelo que li na mídia. Suspeito que trabalha para o G2 cubano e que sua missão era prejudicar aos que nos opomos ao regime.
Você é cabeça ou pertence à seita Tradição, Família e Propriedade, que em 1984 pretendeu assassinar o Papa João Paulo II?
Jamais pertenci à Tradição, Família e Propriedade. Essa é uma das calúnias mais difundidas pelo governo. Quanto à tentativa de assassinato do Papa, quem vai acreditar em semelhante estupidez? Boa parte do que eu escrevi, como o livro "O Continente da Esperança", é inspirado em João Paulo II. O Cardeal Rosalio Castillo Lara era meu bom amigo e mentor. A ele dediquei outro de meus livros, "Arte Clásico y el Buen Gobierno".
Que tipo de identificação ou aproximação teve com Lyndon La Rouche?
Quando eu era jovem, entrei em contato com as idéias de La Rouche, as quais devido à minha inexperiência me pareceram interessantes, porém depois fui detectando seus erros e inconvenientes e rompi definitivamente com ele. Há muitos anos não tenho nada a ver com La Rouche.
Você preside a União de Organizações Democráticas da América. Que fim persegue UnoAmérica?
UnoAmérica é uma das iniciativas mais valiosas e esperançosas da história recente. Trata-se de uma plataforma que no momento já conta com 200 ONGs e que luta para defender a democracia e a liberdade em toda a região. Em minha opinião, UnoAmérica é a semente da verdadeira integração ibero-americana. Além disso, é a antítese ideológica e pragmática do Foro de São Paulo.
Você tem relação, como disse Nicolás Maduro no ano passado, com o terrorista Posada Carriles?
Jamais tive a ver com Posada Carriles, nem sequer o vi pessoalmente. O governo se vê obrigado a me caluniar porque não tem nada concreto contra mim. Nunca cometi nenhum crime. Não tenho antecedentes penais. Estou orgulhoso de afirmar que, durante meus 56 anos de vida, nunca sujei meu nome ou o de minha família.
Quinta-feira, 23 de julho de 2010.
Entrevista publicada no semanário Quinto Día de Caracas - Venezuela
Sebastiana Barráez Pérez - Sebastianabarraez@yahoo.com
Tradução: Graça Salgueiro
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