| 29 JUNHO 2008
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
Não fora os petrodólares do tiranete Hugo Chávez e a cobertura diplomática dada pelo Itamaraty Vermelho ao velho ditador Fidel Castro, a esta hora Cuba estaria vivendo num real clima de abertura democrática.
“A minha aspiração suprema é sentar-me a mesa para governar o mundo inteiro”
Fidel Castro, ora atravessando fase de senilidade mórbida, virou blogueiro. Ele está se valendo, por assim dizer, do avançado instrumental tecnológico desenvolvido pelo capitalismo, a internet, para destilar a sua tradicional verborragia totalitária. O velho ditador, famoso por colocar o povo cubano de castigo para ouvir suas intermináveis ladainhas antiamericanas, agora, com auxílio de funcionários do PC cubano, manda recados e distribui puxões nas orelhas dos aliados que ousam lamentar as desditas políticas e sociais que afligem o infernal “paraíso caribenho”.
Semana passada, depois de cutucar o cantor “simpatizante” Caetano Veloso por causa da música “Baía de Guantánamo”, na qual se levanta de forma ambígua a intolerável questão dos direitos humanos na ilha-cárcere, o Vampiro do Caribe soltou o verbo para atacar os chanceleres da União Européia (UE) que derrubaram, com senões, as sanções diplomáticas impostas ao regime comunista de Cuba. A medida punitiva, como se sabe, foi tomada pela UE depois que Fidel Castro, em 2003, ordenou pessoalmente a prisão de 75 dissidentes políticos e a execução sumária de três nativos que pretendiam emigrar para os Estados Unidos.
Em vez de agradecer aos diplomatas puxa-sacos da UE, Fidel, como de hábito, esperneou por causa dos senões. No frigir dos ovos, deu-se o seguinte: para derrubar em caráter definitivo as sanções estabelecidas pelo bloco europeu contra a ilha, a Suécia, a Alemanha e os países ex-comunistas, fugindo ao consenso, exigiram sejam avaliadas ao cabo de um ano, a real condição dos direitos humanos em Cuba - e, por extensão, a verdadeira dimensão da abertura política do regime ditatorial ainda arbitrado pelo déspota pouco esclarecido. No entender da comissária das Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, porta-voz da decisão, caso tudo permaneça como está, sem que ocorra em Cuba as urgentes reformas de abertura democrática, o bloco europeu volta a impor sanções punitivas, entre elas as que se reportam aos acordos de cooperação e empréstimos facilitados. A rigor, Dona Benita está com a razão: de fato, como acreditar num sujeito que é capaz de enganar o próprio Papa com ocas promessas de diálogo?
No uso bélico da Internet (site www.cubadebate.cu), Fidel Castro tachou a decisão conciliatória da UE de “hipócrita”, visto que, na sua paranóia, ela tem como meta “entregar a pátria (cubana) ao imperialismo”. Em seguida, num assomo de demência cínica, típica das personalidades doentias, depois de acusar os Estados Unidos de genocida, proferiu a mais deslavada mentira até hoje jamais expressa por qualquer ditador latino-americano - uma patacoada digna de encabeçar os anais da história universal da infâmia. O tirano teve o desplante de afirmar o seguinte: “Aqui (em Cuba) nunca torturamos ninguém, nem privamos ninguém da vida por métodos extrajudiciais”.
Caso alguns dos nossos leitores não saibam, Fidel Castro (e sua revolução socialista) é o responsável direto e indireto pela morte e desaparecimento de, no mínimo, 50 mil pessoas (dados do “Livro Negro do Comunismo”, editora Bertrand Brasil, Rio, 1999). Nas suas mais de 200 prisões de segurança máxima, entre as quais as sinistras masmorras de La Cabaña e Puerto Boniato, onde se processavam (e processam) torturas medievais e sevícias sem fim, foram executados centenas de prisioneiros em julgamentos sumários ou mesmo sem julgamento algum.
No seu livro “Contra Toda Esperança – As prisões políticas de Fidel Castro” (Editora InterMundo, 3ª Edição, 1988, São Paulo), o poeta cubano Armando Valadares, considerado pela Anistia Internacional como Prisioneiro de Consciência, relata como conviveu com a morte diária por pancadas de canos de ferro envoltos em mangueiras de borracha, a ingestão de fezes e o extermínio de prisioneiros - como na Alemanha Nazi - em laboratórios de experiência biológica. O próprio Valadares, depois de 22 anos de masmorra, três dos quais confinado numa cela-gaveta, saiu da prisão em cadeira de rodas (graças à gestão de François Mitterrand, então presidente da França).
Outro prisioneiro cubano, o escritor Pedro Juan Gutiérrez, dá conta dos horrores sofridos nas UMAP (Unidades Militares de Ayuda a la Produción), planejadas por Fidel, para onde eram levados os filhos de presos políticos, comerciantes, religiosos, artistas, homossexuais e órfãos (filhos de políticos executados pela revolução). Em tais “unidades de ajuda”, tornaram-se corriqueiras as lições de “reeducação ideológica” aplicadas no espaço das “tostadoras”, jaulas de grades de ferro em que o preso não podia deitar nem permanecer de pé, ficando sempre exposto ao calor do sol escaldante alternado com o frio das madrugadas chuvosas.
No mesmo dia em que o celerado Castro expressava suas barbaridades pela Internet, a realidade o desmentia: em Matanzas, nos arredores de Havana, oito dissidentes do regime foram presos quando se preparavam para realizar uma manifestação de protesto defronte ao Ministério do Interior. E em entrevista concedida em Berlim, depois de fugir da ilha-cárcere, o campeão olímpico de boxe Erislandy Lara - o mesmo que Tarso Genro (leia-se Lula) entregou às feras comunistas quando da realização dos jogos Pan-Americanos do Rio - foi preciso: “Estou feliz por estar na Alemanha, ansioso para me tornar profissional e ganhar o título mundial. Não quero falar sobre os detalhes de minha saída de Cuba, mas ali não se respeita os direitos das pessoas”.
Em suma: não fora os petrodólares do tiranete Hugo Chávez e a cobertura diplomática dada pelo Itamaraty Vermelho ao velho ditador, a esta hora Cuba estaria vivendo num real clima de abertura democrática. Mas como na agenda do Foro de São Paulo a ordem é beatificar Fidel, os cubanos, para atingir a liberdade, terão mesmo de enfrentar os tubarões do mar do Caribe.
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