Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mau exemplo

Mau exemplo

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 22 de fevereiro de 2010
http://www.olavodecarvalho.org/semana/100222dc.html



Nada têm nisso, porém, de excepcionais  e singulares. Sua conduta mental está entre as mais típicas da burrice geral brasileira, tal como a literatura a exemplifica e qualquer educador com algum senso de observação pode confirmar. Essa conduta não se compõe só da alienação existencial, do abismo entre pensamento abstrato e experiência concreta, mas da fusão desse handicap com um talento todo especial para o mimetismo linguístico. 

Dilma Rousseff e Marco Aurélio Garcia ... só são "intelectuais" no sentido elástico e figurado que o termo possui em Antonio Gramsci



Que o sr. Marco Aurélio Garcia e Dona Dilma Roussef cochichassem entre si alguma opinião sobre a vida intelectual brasileira já seria, da parte deles, uma presunção descabida. Mas quando a emitem em público, e o fazem dando-se ares de quem dita regras de perfeição, entram em cheio no campo da obscenidade.


Pessoas que ocupam ou disputam cargos públicos deveriam refrear um pouco os seus impulsos exibicionistas antes de sair dando o mau exemplo de pontificar ex catedra sobre assuntos que estão acima da sua competência e até da sua compreensão.

Nem o ministro nem a candidata escreveram jamais um livro, deram um curso ou proferiram uma conferência que se notabilizasse pela amplitude da erudição, pela profundidade do pensamento ou pela criatividade das idéias. Nada produziram, sequer, que os ombreasse à estatura mediana da classe acadêmica. Não são pensadores, nem artistas, nem educadores, nem profissionais da ciência. Não são sequer jornalistas. Não têm com a vida intelectual senão a relação distante -- e até inversa -- de quem se beneficia das aparências dela para fins de propaganda partidária ou promoção pessoal. No mundo da alta cultura, não passam de parasitas e aproveitadores. O único direito que lhes cabe, em tais matérias, é o de calar-se humildemente e dar ouvidos a quem sabe mais. Que se atrevam a ir um passo além disso, e devem ser escorraçados de um recinto onde sua presença só serve para tudo aviltar e prostituir.


No fundo, o atrevimento da sua crítica aos "subintelectuais de direita" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1602201005.htm) revela menos uma empáfia consciente do que uma falha de percepção, uma total incapacidade de apreender, não o mero sentido das palavras que empregam, mas as dimensões e proporções da situação de discurso, a relação entre fala e realidade, a diferença abissal entre aquilo que dizem e aquilo que são. Eles falam como autoridades no assunto precisamente porque ignoram que o desconhecem. Tomam-se a si próprios como unidades de medida porque não percebem o imensurável da distância que dele os separa.


Nada têm nisso, porém, de excepcionais e singulares. Sua conduta mental está entre as mais típicas da burrice geral brasileira, tal como a literatura a exemplifica e qualquer educador com algum senso de observação pode confirmar. Essa conduta não se compõe só da alienação existencial, do abismo entre pensamento abstrato e experiência concreta, mas da fusão desse handicap com um talento todo especial para o mimetismo lingüístico. O brasileiro, com efeito, capta num relance os novos giros verbais que lhe chegam do ambiente e passa de imediato a utilizá-los com um agudo senso de eficácia persuasória, desacompanhado, porém, de qualquer compreensão da sua carga semântica efetiva. Só para dar um exemplo tirado da minha própria experiência pessoal, quando meus dois livros sobre a ciência da argumentação repuseram em circulação a velha expressão argumentum ad hominem, a nova geração, que a desconhecia por completo, notou o potencial ofensivo do termo e passou a empregá-lo a torto e a direito para fins de ataque, com a desenvoltura mais autoconfiante, sem ter a menor idéia das distinções e precauções que esse emprego exige (por exemplo, um exemplum in contrarium, logicamente uma das refutações mais legítimas, é com freqüência apresentado sob a forma aparente de mera argumentação ad hominem). Centenas de expressões extraídas diretamente dos meus escritos circulam hoje por aí com sentido diminuído, coisificado, prova de que foram copiadas por mimetismo instantâneo e não absorvidas mediante compreensão séria do seu significado. A velocidade mesma com que se operam esses golpes de parasitagem verbal faz com que se tornem, por sua vez, infinitamente reprodutíveis e se alastrem em proporções epidêmicas, daí resultando que, no fim das contas, todo o debate público nacional se reduza a um obsessivo intercâmbio de camuflagens.


Juntem à deficiente ancoragem na realidade o mimetismo lingüístico superficial, e terão a fórmula exata do impostor inconsciente, do vigarista que só consegue ludibriar os outros porque primeiro se ludibriou a si próprio ao ponto de poder praticar a vigarice com um elevado sentimento de idoneidade e mérito.


Dona Dilma e o ministro Garcia exemplificam perfeitamente essa síndrome, cuja disseminação em escala nacional consolida a incultura presunçosa como uma espécie de título acadêmico, de especialidade científica ou prova de superioridade. Tal é hoje o típico "intelectual de esquerda" que se apresenta como modelo normativo e cobra da direita o dever de copiá-lo, sob pena de condená-la como "subintelectual".


Não que subintelectuais inexistam na direita. Existem, e o primeiro a apontá-los ao descrédito sou em geral eu mesmo. Porém o mais burro deles é ainda superior a Dilma Roussef e Marco Aurélio Garcia, que só são "intelectuais" no sentido elástico e figurado que o termo possui em Antonio Gramsci.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".