UMA REAÇÃO TARDIA À CONFECOM
22 de fevereiro de 2010
Quando recebi a programação do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão e vi que o mesmo estava recebendo patrocínio das entidades patronais e das grandes empresas de comunicação que boicotaram a Confecom, além do próprio Instituto Millenium, percebi que o evento havia sido concebido como uma resposta dessas entidades e dessas empresas à grande ameaça do governo Lula (e do próximo governo Dilma, se vier a se eleger) à produção de notícias de forma empresarial. À ameaça gigantesca a todo o setor empresarial dedicado às comunicações que foi o Confecom.
Achei estranho não ter recebido convite para participar do evento, eu que, por meus próprios meios, e com o integral apoio institucional do jornal eletrônico Mídia sem Máscara, fui o único observador independente que lá estive. Fiz não apenas a reportagem dos acontecidos, bem como as análises mais originais, a partir do meu artigo Confecom: a sovietização do Brasil, fiz também uma pesquisa histórica e demonstrei as ligações entre os promotores da conferência, o Foro de São Paulo e o Foro Social Mundial e todas as modificações políticas ocorridas à época na regulação das comunicações em países como Argentina, Venezuela e Equador.
Posso dizer que ninguém da mídia fez um trabalho assim. Esses que estão reunidos para o evento no próximo primeiro de março viram os acontecimentos de longe e acovardaram-se por não dar o primeiro combate no tempo certo, conforme eu mesmo apontei na época da Confecom. A bem da verdade meus textos foram o primeiro combate direto contra a conferência e seus resultados e o Mídia Sem Máscara foi o único órgão de imprensa a denunciar o que estava acontecendo nos devidos termos, até então coberta pelo manto negro do silêncio unânime.
Um evento contra a Confecom agora é não apenas fora de época, é inútil, ineficaz. A Confecom já cumpriu seu papel, está influenciando o governo Lula, o programa da candidata Dilma, já virou portarias e decretos e está ressuscitando a Telebrás, que vai concorrer no fornecimento de serviços de infra-estrutura de banda larga com as empresas de Telecom.
Em suma, se tem alguém neste país, como diria Lula, capaz de falar com autoridade sobre os acontecidos naConfecom, suas origens e conseqüências, de sua própria dinâmica, sou eu. Fiquei surpreendido por não ter sido convidado a participar do evento, pois sei que o material que produzi foi lido por toda a gente, tendo sido inclusive reproduzido parte dele no site do Instituto Millenium.
Quando recebi a nota oficial do Heitor de Paula e da Graça Salgueiro denunciando que o evento virou um convescote de centro-esquerda, comprometido em não contrariar o governo do PT e dando voz a atores políticos e midiáticos que são, eles mesmos, autores do processo que criou a Confecom, então tudo se esclareceu de vez. Não fui convidado porque estou no campo conservador e os conservadores ali não são bem vindos. Alguém conservador não tem porque ir lá ver o evento.
Quer raio de reação é essa que não pode reagir? Para que o evento? Ora, isso não passa de um simulacro de reação, nem mesmo chega a ser um protesto, tímido que seja. Parece coisa de quem não tem o que fazer. Não será com essa arenga acovardada e adesista que o livre mercado de idéias e conteúdo no Brasil será preservado. Que as instituições democráticas serão preservadas.
Bem fizeram Heitor de Paula e Graça Salgueiro em não aceitarem integrar a farsa de sentarem-se ao lado de notórios comunistas. Não se combate o inimigo confraternizando com ele e dando a ele as armas, as poucas, para que ele mesmo as use. É mais que equívoco, é burrice. De minha parte, fui poupado de ter que recusar. Melhor assim.
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