sábado, 11 de outubro de 2008
Jornalista Alexandre Lima, dono do jornal eletrônico O Alto Acre, teve prisão expedida por autoridades bolivianas.
CHICO ARAÚJOchicoaraujo@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA — A instabilidade política que impera no Departamento (estado) de Pando, na Bolívia, região fronteiriça com o Acre, começa a ter reflexos do lado brasileiro. Depois de prender o governador de Pando, Leopoldo Fernández, sob a acusação de genocídio, o Exército da Bolívia — que administra a cidade desde o dia 17 de setembro — agora também iniciou uma caçada a jornalistas brasileiros. Pando está sob estado de sítio desde o dia 12 de setembro.
Desta vez, o alvo do Exército boliviano é o jornalista Alexandre Lima, dono do jornal eletrônico O Alto Acre. Lima mora na cidade de Brasiléia (AC), localizada na fronteira com a cidade de Pando, e separada da Bolívia pelo Rio Acre. Desde o início desta semana, o jornalista começou a ser caçado por agentes da polícia militar do Exército do vizinho país.
“Após a decretação do estado de sitio, comecei a me precaver”, conta Lima, que já comunicou o fato ao Exército brasileiro, à Polícia Federal e à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Lima ficou sabendo que estava sendo procurado na manhã deste sábado, 11, ao telefonar para um colega jornalista em Cobija. Lima procurava saber se, de fato, o presidente Bolívia, Evo Morales, faria uma visita à Província de Porto Rico (distante 80 km de Brasiléia) para inaugurar uma escola.
Ordem de prisão expedida
Durante o telefonema, Alexandre Lima manifestou ao colega boliviano o interesse de cobrir a visita de Morales e cruzar a fronteira, indo até a cidade de Pando. O colega, então, o aconselhou a não cruzar a fronteira. Devido à ameaça, Lima diz estar temeroso pela sua segurança pessoal e da sua família. O jornalista é pai de dois filhos e tem negócios na fronteira com a Bolívia. As autoridades bolivianas silenciaram após o caso vir a público.
O jornalista boliviano contou a Alexandre Lima ter informações precisas de que as autoridades bolivianas haviam emitido um mandado de prisão contra ele. Ainda avisou que, se fosse preso, Lima seria levado para La Paz, onde seria julgado conforme as leis bolivianas, a exemplo do que ocorreu com o governador deposto Leopoldo Fernández.
Assustado com a notícia, Alexandre Lima quis saber os motivos da decretação de sua prisão pelo governo boliviano. O motivo seria, confirme o colega, um contrato de publicidade que Lima tentou firmar com o governo de Pando, o que não se concretizou devido empecilhos da legislação boliviana.
Fernández foi deposto e, no dia 17 de setembro, preso a mando de Evo Morales. A partir da prisão do governador, Alexandre Lima também passou a ser alvo dos militares bolivianos pelo fato de ter boa relação com ele. “Fui informado, por exemplo, que os soldados têm em mãos minha foto para facilitar minha prisão”, contou Lima, via MSN, à Agência Amazônia.
Jornalistas bolivianos na mira
Alexandre Lima conta que, além dele, outros jornalistas — todos eles vivem em Cobija, capital de Pando — passaram também a ser procurados nos últimos dias pelo Exército boliviano. A caçada teve início, segundo ele, depois que o ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, mostrou em rede nacional uma lista de veículos de comunicação que, supostamente, estariam apoiando as ações de Leopoldo Fernández contra o cumprimento do estado de sítio em Pando. A lista inclui o jornal O Alto Acre.
No contato com a Agência Amazônia, o jornalista Alexandre Lima contou que passou a ser considerada “persona non grata” pelas autoridades da Bolívia a partir do instante que começou a divulgar os conflitos na cidade de Cobija, que começaram a pipocar há cerca de dois anos. Os confrontos entre oposicionistas e grupo pró-Evo Morales acontecem desde 2006, ou seja, bem antes de Leopoldo Fernández ser eleito governador de Pando.
A irritação de Ramón e das autoridades pró-Evo Morales para com o jornalista Alexandre Lima chegou ao ápice quando ele, juntamente com o jornalista boliviano Carlos Valverde, da Rede PAT, denunciou os planos do ministro de tomada do chamado Oriente — a parte do território da Bolívia onde se concentram os governadores oposicionistas. As denúncias abalaram seriamente a credibilidade do ministro.
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