NIVALDO CORDEIRO
08/03/2012
Bastou Lula calar-se, por força de sua enfermidade, que vimos o governo de Dilma Rousseff perder o rumo, fato tão bem ilustrado pela derrota na recondução de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, ocorrida ontem no Senado. O fato em si é irrelevante, mas indica que a retirada de cena do ex-presidente significa perda de prestígio e de autoridade do governo do PT.
Não que Lula seja um gênio da política, como querem alguns apologistas, mas os caciques sabem do seu poder eleitoral e o respeitam. A chave para a autoridade de Lula é que ele tem votos, aqueles mesmos que transferiu a Dilma Rousseff e que esta de forma alguma se tornou deles proprietária. É de fato o poste governante. Sem Lula ela está ao relento, desprovida de articulação política e de liderança sobre a tal “base aliada”, ajuntamento de interesses heterogêneos, entre os quais se conta a vontade de reduzir o poder e a arrogância do PT.
O desamparo provocado pela ausência de Lula é ainda mais notável no candidato Fernando Haddad, nome escolhido pelo ex-presidente para disputar a prefeitura de São Paulo, contra todas as objeções dos caciques locais do PT e dos nomes naturais, como Marta Suplicy. Não ao acaso a colunista Dora Kramer referiu-se a ele hoje como o “ainda pré-candidato”. O advérbio está muito bem posto. A frase pode expressar um ato falho da jornalista, mas relata um fato possível: o eventual passamento de Lula ainda no primeiro semestre pode retirar do candidato a sua única base de sustentação. E mesmo que sobreviva à moléstia, se Lula perder a condição de comunicador político deixará de ser ator relevante no processo.
A situação de Fernando Haddad é dramática, ainda mais dramática do que a de Dilma Rousseff. Precisamos aguardar os acontecimentos.
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