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sábado, 30 de outubro de 2010

O nosso Muro de Berlim

A VERDADE SUFOCADA
29/10


 
       Professora Sandra Cavalcanti
Por Sandra Cavalcanti - O Estado de S.Paulo - 29/10/10


Na vida dos países, como na nossa, é fundamental a presença de lideranças formadoras do caráter dos cidadãos: a família, os professores, os religiosos, os governantes, os representantes no Legislativo e nos sindicatos, os dirigentes de empresas, os companheiros de trabalho. Enfim, o ambiente que nos cerca durante nossa existência. Nesse ambiente o que vale, principalmente, são os exemplos, o testemunho de vida, o temor a Deus e à Justiça. Só assim o ser humano aperfeiçoa a sua alma, pauta o seu comportamento, distingue entre o certo e o errado e, com sabedoria, guarda esses valores. A palavra só tem força quando é a expressão de tais valores.

A História oferece-nos muitos exemplos de lideranças extraordinárias. Algumas até foram capazes de ressuscitar a alma de um povo, como foi o caso de Konrad Adenauer, o grande líder da resistência alemã ao nazismo. Sua presença na vida alemã foi decisiva. Uma vez derrotado Hitler, era preciso reconstruir a Alemanha. Dezenas de cidades tinham sido reduzidas a escombros. O país vencido viu seu território ser vingativamente dividido em duas partes. E o pior era a alma do povo, ainda muito doente, após anos de inacreditável submissão e da perda dos valores do ser humano.

Enquanto refazia a parte material do país, o grande estadista lançava-se ao desafio de devolver aos alemães a esperança, a alegria e a fé. Era preciso ensinar aos corações, treinados na arrogância e na submissão cega, os valores da verdade e da liberdade. Nos longos anos em que foi primeiro-ministro, Adenauer formou uma plêiade de excelentes políticos, até em áreas programaticamente diferentes das dele. Implantou um regime de total austeridade para os ocupantes do poder e suas equipes ficaram famosas pela seriedade e pelos êxitos.

Mas a alma alemã ainda vivia uma tristeza: irmãos separados pelo Muro de Berlim. Um muro que não era só de pedras e trincheiras de arame, com guardas implacáveis. Era, acima de tudo, um muro que separava os cidadãos livres dos infelizes súditos da tirania soviética.

O sonho alemão de derrubá-lo só se realizou em 1989, quando o mundo pôde acompanhar sua heroica demolição. Adenauer não estava lá, mas sua obra de estadista havia preparado a alma dos alemães livres para receber, generosamente, a chegada dos libertados. A Carta Fundamental, que rege o regime parlamentarista alemão, previa todos os direitos para os irmãos do lado oriental.

Nós aqui, no Brasil, temos um "Muro de Berlim" a derrubar: nosso sistema eleitoral. Esse muro da vergonha, herdado do ditador Vargas, continua a envergonhar o País e impede o aperfeiçoamento do caráter dos nossos políticos. Na realidade, mesmo nos períodos ditos democráticos, o voto proporcional é uma vergonha.

Sem a adoção do voto distrital vamos continuar com a proliferação insensata de partidos de aluguel, partidos sindicais, partidos fundamentalistas, partidos ditos nacionais, partidos "internacionais", partidos ligados a movimentos subversivos, enfim, uma geleia geral! A maioria deles existe apenas para ganhar preciosos minutos de rádio e TV, pagos com o dinheiro do povo e apelidados de gratuitos.

Sem a adoção do voto distrital os custos das campanhas continuarão exorbitantes, jogando todo o processo eleitoral na vala enlameada do uso vexaminoso do dinheiro público. O voto é obrigatório, livre e secreto. Mas com o voto proporcional o caixa 2 também é obrigatório e secreto. E quando alguém fala, hoje, em financiamento público de campanha, é de apavorar!

Faço estas considerações no momento em que se aproxima o dia D do segundo turno. Qualquer resultado, para mim, vai significar dias muito difíceis para todos nós.

O Senado (já quase todo composto), a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas que emergiram das votações no dia 3 de outubro, tudo leva a crer que em matéria de qualidade a piora foi muito acentuada. É o voto proporcional.

Em toda a minha vida de cidadã, esta foi a mais desalentadora de todas as eleições. A mão pesada do Estado está comandando tudo. O presidente transformou-se em artista de palanques. A candidata que ele impôs a seu próprio partido oferece um espetáculo doloroso de arrogante submissão. A oposição, por sua vez, confusa e sem garra, apresenta apenas a biografia de um político muito sério, mas não de um estadista. É pouco para os anseios brasileiros. Chega a ser frustrante.

O que salta aos olhos é que o Brasil está sem valores! A avaliação internacional do povo brasileiro, na questão de ser capaz de perceber a corrupção, e de se insurgir contra ela, chega a ser constrangedora!Figurar entre os povos mais corruptos do planeta é de chorar de vergonha.

Em momento algum qualquer dos candidatos assumiu compromisso quanto à reforma do sistema eleitoral. É tabu! O voto proporcional é a garantia dos caudilhos enrustidos, dos ditadores potenciais, dos que aspiram mandar sem ter de dar satisfações. É a mais feroz distorção do sistema democrático de representação da vontade do eleitor. Por isso mesmo será mantido. O uso da urna eletrônica dá a muita gente a impressão de que nossas eleições são corretíssimas e a vontade dos eleitores é respeitada. Mentira! Embuste!

Enquanto vivermos neste presidencialismo quase caudilhesco, com um titular que, com sua caneta mágica, nomeia da noite para o dia mais de 30 mil funcionários; enquanto Brasília estiver livre da vigilância próxima de um povo atento; enquanto a criação de partidos não depender, de fato, da presença ativa de filiados; enquanto o senador for escolhido juntamente com um vice que ninguém sabe quem é; enquanto a infidelidade partidária não for objeto de punição real; e, principalmente, enquanto votar num candidato, pelo voto proporcional, significar eleger outro e os partidos tiverem direito a horários gratuitos - nosso Muro de Berlim ainda estará de pé.

Professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".