23, outubro, 2010
Hélio Viana
Em artigo publicado no Blog Regards latinos, do jornal francês “Le Figaro”, Patrick Bèle comenta que a presença na Venezuela desde 1989 de Arturo Cubillas, membro da organização terrorista espanhola ETA, está causando problemas no relacionamento da Espanha com a Venezuela.
Cubillas pertencia ao Comando Oker da ETA, tendo sido extraditado para a Venezuela mediante entendimento do então primeiro-ministro socialista espanhol Felipe González com o presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, após fracassarem as conversações de paz do governo espanhol com a ETA.
Suspeito de ter cometido três assassinatos na Espanha, Cubillas casou-se com uma venezuelana, cuja nacionalidade adotou. Hoje ele ocupa um importante cargo no Ministério da Agricultura: chefe de segurança do Instituto Nacional da Terra (INTI – o INCRA de lá), coordenando a expropriação das terras ditas improdutivas. Desde a ascensão de Chávez, em 1999, mais de 40 mil propriedades já foram expropriadas.
Cubillas voltou a chamar atenção há algumas semanas, quando dois membros do Comando Imanol da ETA, Xabier Atristain e Juan Carlos Besance, presos em setembro no País Basco, declararam às autoridades que participaram de um treinamento em manuseio de armas e explosivos na Venezuela, em julho e agosto de 2008.
Ambos afirmam que Arturo Cubillas lhes serviu de guia durante a estadia na Venezuela e os ajudaram a passar sem dificuldade pelas barreiras policiais.
O treinamento deles se realizou na companhia de membros das FARC colombianas. A informação incomodou muito, não somente as autoridades venezuelanas, mas também o governo espanhol do socialista Zapatero, que vem sendo muito criticado pela direita de excessivamente tolerante em relação ao governo venezuelano.
Zapatero pediu à Venezuela para, num gesto de boa vontade, afastar Cubillas de suas atuais funções, mas Hugo Chávez se fez de desentendido. E pelo visto só para constar, Cubillas foi ouvido há uma semana por um juiz durante 15 minutos, desconhecendo-se o teor da audiência.
Cerca de 60 terroristas da ETA, a maioria deles supostamente aposentada, estão na Venezuela desde os anos 60. É mais do que provável que eles mantêm relações constantes com as FARC colombianas. Reiteradas vezes a Venezuela foi acusada de abrigar acampamentos da guerrilha.
Os dois guerrilheiros presos na Espanha narraram suas “férias” nos acampamentos das FARC, onde intercambiaram experiências no manuseio de armas e explosivos. O caso Cubillas permite àqueles que acusam Caracas de ajudar as FARC e a ETA, de manter a atitude de suspeita em relação ao governo venezuelano.
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