por Peter Hof em 9 de abril de 2010 Análise - Resenhas
Recentemente assisti a um programa de debates sobre Cuba na TV por assinatura e um dos entrevistados era o jornalista Samarone Lima. No decorrer do programa fiquei agradavelmente surpreso com as intervenções dele. Foi quando soube que ele havia passado dois meses em Cuba tentando entender o que se passava no feudo dos irmãos Metralha Castro.
Ao contrário de Chic Buarque, Frei Betto, Fernando Morais e outras viúvas de Che Guevara, que se hospedam em hotéis de luxo a que só estrangeiros têm acesso e que nos mostram sempre uma visão cor-de-rosa, se desmanchando em loas à “realidade fantasiosa” contada nas páginas do Granma, o jornal oficial da ditadura castrista, Samarone Lima fez algo diferente: decidiu viver o dia-a-dia dos cubanos.
Para tanto, hospedou-se na casa de cubanos apresentados a ele por amigos brasileiros, viajou para o interior do país em trens e ônibus comuns, comeu em restaurantes populares (chamados de paladares), assistiu a jogos de beisebol e a peças de teatro ufanistas, acompanhou amigos nas filas de cartão de alimentos, hospedou-se em dormitórios para estudantes universitários (de onde foi expulso apesar de haver camas vagas) e, acima de tudo, documentou a via crucis dos cubanos na luta diária e sem fim para sobreviver em meio à miséria implantada pela ditadura comunista.
Toda essa rica experiência ele colocou em um livro intitulado, muito apropriadamente, “Viagem ao Crepúsculo”. Imediatamente me interessei em adquiri-lo e aí veio o primeiro obstáculo: nenhuma das grandes livrarias (Travessa, Saraiva, Submarino, Siciliano, Nobel e Leonardo da Vinci) tinha o livro, o que me levou a crer que ele certamente fora colocado no Index Librorum Prohibitorum das livrarias brasileiras. Assim, optei por adquiri-lo diretamente da editora, o que recomendo aos leitores que queiram saber a verdade, cuidadosamente escondida pelos arautos, da excelência do regime cubano. Os interessados devem escrever para a Casa das Musas ( casadasmusas@hotmail.com ). O livro custa, frete incluído, R$36,00.
A obra de Samarone Lima é um retrato sem photoshop da (sobre)vida diária do cidadão cubano comum. Ao contrário do “babaovismo” desenfreado dos Freis Bettos da vida, ele não elogia nem critica o que se passa naquela ilha e limita-se a transcrever em um diário de viagem a que foram reduzidos 11,2 milhões de cubanos após cinquenta anos de uma brutal ditadura. Samarone deixa ao leitor a tarefa de concluir com base em suas agudas observações.
Os cubanos hoje “vivem de restos”, na palavra de uma das pessoas com quem o autor conviveu. Cinquenta anos de miséria e opressão transformaram-nos em um povo que, para sobreviver, precisa viver de expedientes – pequenas trapaças e roubos onde qualquer estrangeiro é uma vítima potencial, como no caso do garçom de um bar, ao perceber pelo sotaque que ele não era cubano, aumentou o preço do cafezinho de dois para três Pesos, sob o argumento que naquele dia o café estava mais forte e portanto mais caro. Ou dos motoristas de táxi que, ao perceberem um estrangeiro, aumentam o preço da corrida (desnecessário dizer que em Cuba não existem taxímetros).
Não vou mais adiante, pois não quero tirar dos amigos o prazer da leitura deste livro que é quase um tratado de sociologia, ao mesmo tempo amargo e triste, mas necessariamente esclarecedor sobre quem são os amigos dos atuais governantes brasileiros.
E aqui quero deixar minha resposta àqueles que irão argumentar que todo este sofrimento é culpa do embargo americano. Para estes eu lembro que existem hoje no mundo 193 paises e só os Estados Unidos não mantêm relações comerciais com Cuba. A Espanha tem grandes investimentos na área de turismo, o Brasil desde o reatamento diplomático investe em Cuba, a Venezuela fornece petróleo aos Castro a “leite de pato”. Alemanha, Japão, Inglaterra, Canadá e México sempre mantiveram relações diplomáticas e comerciais com o feudo dos Castro.
Ninguém, repito, ninguém, com exceção dos Estados Unidos (pessoas físicas ou jurídicas), é impedido de importar charutos ou cana-de-açúcar da ilha de Fidel ou de comercializar com Cuba o que acharem interessante. Será que outros países, que estão encontrando seu caminho no mundo globalizado, tal como Costa Rica, República Dominicana e tantos outros, o fazem exclusivamente devido ao manto protetor dos Estados Unidos? Será que os 191 paises restantes não são capazes de transformar uma ilha de 11,2 milhões de habitantes e pouco mais de 111 mil quilômetros quadrados em um exemplo de progresso? Já pensaram que tapa na cara do “monstro imperialista” não seria uma Cuba pujante, sem precisar mendigar sequer um dos milhões de dólares que as famílias cubanas, vivendo em Miami, México e Espanha, enviam todo mês como contribuição imperialista à manutenção do Parque Temático do Comunismo?
O que as pessoas precisam entender é que o problema de Cuba não é o embargo americano, mas sim um sistema político-econômico falido. A produtividade do campo em Cuba é quase zero e, como os paises do leste europeu antes de 1989, não consegue mais nem alimentar o próprio povo, pois o pouco que produz é gasto na manutenção da repressão a uma população hoje escrava de um regime decrépito. Imaginem o medo que a canalha dirigente tem que lhe venha a acontecer o mesmo que ocorreu ao casal Ceaucescu da România.
Para encerrar, a explicação para o título deste texto. São as palavras de Dom Pepe, que perdeu dois irmãos lutando com os Castro e foi por 50 anos cozinheiro dos melhores restaurantes de Havana antes e depois da revolução, ao autor do livro na véspera do ano novo de 1998. Esse senhor hoje sobrevive graças à ajuda que recebe de seus dois filhos.
Toda essa rica experiência ele colocou em um livro intitulado, muito apropriadamente, “Viagem ao Crepúsculo”. Imediatamente me interessei em adquiri-lo e aí veio o primeiro obstáculo: nenhuma das grandes livrarias (Travessa, Saraiva, Submarino, Siciliano, Nobel e Leonardo da Vinci) tinha o livro, o que me levou a crer que ele certamente fora colocado no Index Librorum Prohibitorum das livrarias brasileiras. Assim, optei por adquiri-lo diretamente da editora, o que recomendo aos leitores que queiram saber a verdade, cuidadosamente escondida pelos arautos, da excelência do regime cubano. Os interessados devem escrever para a Casa das Musas ( casadasmusas@hotmail.com ). O livro custa, frete incluído, R$36,00.
A obra de Samarone Lima é um retrato sem photoshop da (sobre)vida diária do cidadão cubano comum. Ao contrário do “babaovismo” desenfreado dos Freis Bettos da vida, ele não elogia nem critica o que se passa naquela ilha e limita-se a transcrever em um diário de viagem a que foram reduzidos 11,2 milhões de cubanos após cinquenta anos de uma brutal ditadura. Samarone deixa ao leitor a tarefa de concluir com base em suas agudas observações.
Os cubanos hoje “vivem de restos”, na palavra de uma das pessoas com quem o autor conviveu. Cinquenta anos de miséria e opressão transformaram-nos em um povo que, para sobreviver, precisa viver de expedientes – pequenas trapaças e roubos onde qualquer estrangeiro é uma vítima potencial, como no caso do garçom de um bar, ao perceber pelo sotaque que ele não era cubano, aumentou o preço do cafezinho de dois para três Pesos, sob o argumento que naquele dia o café estava mais forte e portanto mais caro. Ou dos motoristas de táxi que, ao perceberem um estrangeiro, aumentam o preço da corrida (desnecessário dizer que em Cuba não existem taxímetros).
Não vou mais adiante, pois não quero tirar dos amigos o prazer da leitura deste livro que é quase um tratado de sociologia, ao mesmo tempo amargo e triste, mas necessariamente esclarecedor sobre quem são os amigos dos atuais governantes brasileiros.
E aqui quero deixar minha resposta àqueles que irão argumentar que todo este sofrimento é culpa do embargo americano. Para estes eu lembro que existem hoje no mundo 193 paises e só os Estados Unidos não mantêm relações comerciais com Cuba. A Espanha tem grandes investimentos na área de turismo, o Brasil desde o reatamento diplomático investe em Cuba, a Venezuela fornece petróleo aos Castro a “leite de pato”. Alemanha, Japão, Inglaterra, Canadá e México sempre mantiveram relações diplomáticas e comerciais com o feudo dos Castro.
Ninguém, repito, ninguém, com exceção dos Estados Unidos (pessoas físicas ou jurídicas), é impedido de importar charutos ou cana-de-açúcar da ilha de Fidel ou de comercializar com Cuba o que acharem interessante. Será que outros países, que estão encontrando seu caminho no mundo globalizado, tal como Costa Rica, República Dominicana e tantos outros, o fazem exclusivamente devido ao manto protetor dos Estados Unidos? Será que os 191 paises restantes não são capazes de transformar uma ilha de 11,2 milhões de habitantes e pouco mais de 111 mil quilômetros quadrados em um exemplo de progresso? Já pensaram que tapa na cara do “monstro imperialista” não seria uma Cuba pujante, sem precisar mendigar sequer um dos milhões de dólares que as famílias cubanas, vivendo em Miami, México e Espanha, enviam todo mês como contribuição imperialista à manutenção do Parque Temático do Comunismo?
O que as pessoas precisam entender é que o problema de Cuba não é o embargo americano, mas sim um sistema político-econômico falido. A produtividade do campo em Cuba é quase zero e, como os paises do leste europeu antes de 1989, não consegue mais nem alimentar o próprio povo, pois o pouco que produz é gasto na manutenção da repressão a uma população hoje escrava de um regime decrépito. Imaginem o medo que a canalha dirigente tem que lhe venha a acontecer o mesmo que ocorreu ao casal Ceaucescu da România.
Para encerrar, a explicação para o título deste texto. São as palavras de Dom Pepe, que perdeu dois irmãos lutando com os Castro e foi por 50 anos cozinheiro dos melhores restaurantes de Havana antes e depois da revolução, ao autor do livro na véspera do ano novo de 1998. Esse senhor hoje sobrevive graças à ajuda que recebe de seus dois filhos.
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