em 26 de janeiro de 2011
por Peter Hof
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará
João, 8:32
OBrasil é um país fortemente armado”. Esta declaração é da lavra do senhor Antonio Rangel Bandeira, um dos diretores do Viva-Rio em entrevista publicada na página 10 do Globo de 21/12/2010. Não sei qual o critério usado pelo senhor Bandeira, mas posso assegurar que não é esta a situação do Brasil no que tange ao cidadão armado. E quem informa isto é o Small Arms Survey, um dos patrocinadores da ONG do senhor Bandeira.
O referido instituto, com sede em Genebra, Suíça, é dedicado à causa do desarmamento e publicou uma pesquisa intitulada Small Arms Survey - 2007, onde mostra a situação em 33 países. A análise é corretamente feita com base em armas de posse de civis por 100 mil civis. Para os não familiarizados, estudos são feitos com base em 1.000, 10 mil ou cem mil habitantes. Por exemplo: o índice de mortalidade infantil é de 35 em cada 10 mil crianças até 3 anos de idade. Isto evita o erro de se comparar a China, com 1,4 bilhões de habitantes, com a Bélgica com seus 10,6 milhões de habitantes.
Qual é a melhor maneira de se saber se algo se enquadra dentro dos limites do aceitável? É estabelecendo-se uma comparação com outros elementos de perfil semelhante. No caso em questão a idéia é se escolher um grupo de países representativos (através da análise do IDH, por exemplo) e comparar o elemento que queremos testar contra o grupo selecionado. E assim foi feito.
Como escrevi acima, os fatos não estão exatamente de acordo com o senhor Bandeira. O primeiro país do mundo em armas nas mãos dos cidadãos é, e não há surpresa nisto, os Estados Unidos, com 90 armas por 100 mil civis. O Brasil ocupa um modestíssimo vigésimo quinto lugar com nove armas por 100 mil civis. O interessante de se notar é que os países europeus, de modo geral bastante restritivos a posse de armas por seus cidadãos, tem seis países (Finlândia, Suíça, França, Suécia, Grécia e Áustria) entre os dez primeiros do ranking. E a Grécia, a última do ranking dos dez, tem duas vezes e meia mais armas por cidadão do que o Brasil.
Digno de nota também é o fato de ONGs antiarmas receberem generosas doações de entidades daqueles países. Mais ainda: hoje os grandes fabricantes de pistolas automáticas (Walther, Glock, Sig-Sauer, CZ, Beretta, FN) são europeus e boa parte das receitas da Comunidade Européia vem exatamente da exportação de armas de fogo - só Deus sabe para quem.
Mas vamos aos números para testar a validade da afirmação do ilustre cientista social... Os elementos da análise, repito, são dados de uma pesquisa conduzida pelo Small Arms Survey, uma ONG sediada na Suíça e que, embora se diga imparcial, é nitidamente contrária ao seu direito de se defender com uma arma de fogo.
É importante salientar que estes dados não foram inventados por defensores ou simpatizantes do cidadão armado. Não são, reitero, números produzidos pelaNRA ou Viva Brasil, esta última uma das poucas vozes a se levantar contra o esbulho a que o cidadão armado vem sendo submetido.
Num cálculo simplista, e sem querer aborrecer o leitor com tecnicidades, a média aritmética dos 33 países pesquisados é de 22 armas por 100 mil civis. E é importante se ter em conta que os países representados na pesquisa não são apenas aqueles com altas restrições ao cidadão armado (Inglaterra e China), mas também os situados no outro extremo do espectro - Estados Unidos, Suíça e Finlândia.
Com seu vigésimo quinto lugar no ranking, o Brasil se encontra 40% abaixo da média dos países pesquisados. Voltando à afirmação do senhor Bandeira, eu gostaria de saber se algum dos leitores ficaria contente se as notas de seu filho na escola fossem 40% abaixo da média das notas dos outros 32 alunos? Se a média da classe fosse 7.5 e a nota de seu filho fosse 3, ainda assim o senhor acharia que seu filho é forte em matemática?
Vejam que o Brasil vem em um modesto vigésimo quinto lugar com nove armas por 100 mil civis, muito atrás de países do primeiro mundo, com um IDH muito melhor do que o brasileiro. Observem que a pacífica Suíça tem 46 armas por 100 mil civis, ou seja, cinco vezes mais cidadãos armados do que o Brasil.
Um outro exemplo interessante é o da Austrália, que também fez uma campanha de desarmamento pouco antes da realizada pelo Brasil. A Austrália ainda tem, anos depois de duas campanhas de recolhimento de armas, 67% mais cidadãos armados do que o Brasil. Por outro lado, o último pais da lista, o 33º, é a Nigéria, com apenas uma arma para cada 100 mil civis. Alguém acredita que com tão baixo números de armas em mãos de civis, a Nigéria seja mais tranqüila, segura e pacífica do que a Suíça, Finlândia, Canadá, França, Suécia ou Áustria? E note que todos esses países têm mais de 30 armas por 100 mil cidadãos civis. Onde o leitor se sentiria mais seguro andando sozinho à noite: em Lagos (Nigéria) ou Zurique (Suíça)?
Seguindo-se a lógica dos antiarmas e dos governantes brasileiros, os países citados devem estar no topo da lista das mortes por armas de fogo. Afinal, segundo tal lógica, menos armas significa menos mortes. Vejamos então o que se passa por lá. Para isto, vamos nos servir de um estudo realizado pela UNESCO entre 2002 e 2007 e publicada no jornal O Globo. Infelizmente tenho o recorte, mas não tenho a data da sua publicação no jornal. Como a cobertura de países não tem correspondência absoluta com a pesquisa do Small Arms Survey, fui obrigado a usar apenas os países que constam das duas pesquisas e que apresentam o seguinte cruzamento:
A primeira conclusão que se pode tirar é que a conversa das autoridades e das ONGs antiarmas tipo Viva Rio e Sou da Paz de que mais armas significam mais mortes é pura balela. Se assim fosse, os Estados Unidos estariam vivendo hoje uma situação pior do que a das favelas cariocas, e se tropeçaria em cadáveres baleados nas ruas da Basiléia. Isso num país onde comprar um AR-15 demora cinco minutos e só requer a apresentação da carteira de motorista. Vejam que todos os países, sem exceção, têm uma situação muito melhor do que a brasileira, e nenhum desses países tem uma legislação sobre armas mais restritiva do que a brasileira.
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