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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ainda Marx e o pensamento dos outros

MÍDIA SEM MÁSCARA

Exceto para pedir dinheiro ao pai e protelar o pagamento de empréstimos aos inúmeros credores, Marx nada entendia de economia e foi Friedrich Engels (1820-1895), parceiro, provedor e filho de rico industrial alemão do ramo têxtil, que o induziu à leitura dos economistas clássicos ingleses, em especial de David Ricardo.

Vamos adiante: como a dialética hegeliana é um poço sem fundo, pois nela nada "é" e tudo vive em permanente transformação, Marx encampou com entusiasmo frenético o esquema de Hegel, mas encontrou, de início, um forte obstáculo. Se ele queria, no testemunho algo ingênuo do simpatizante Annenkov, "suplantar Deus" - como aceitar tal entidade quando se tratava justo de dinamitá-la?

Para superar a questão transcendente, que desprezava, a saída foi mamar fundo em Ludwig Feuerbach, um triste e desafortunado (morreu só e na penúria) ex-hegeliano de esquerda que, com sua obra "A Essência do Cristianismo" (Ed. Papirus, Campinas, 1988), colocou o Espírito absoluto de Hegel de "cabeça para baixo".

De fato, para derrubar o Espírito absoluto hegeliano, Feuerbach subverteu o sagrado divinizando o homem e humanizando o divino. Já no prefácio do livro, parte para o ataque frontal ao antigo mestre:

"Sou radicalmente diferente dos filósofos que arrancam os olhos para enxergar melhor. Encontrei minhas ideias em materiais que podem ser apropriados apenas através da atividade dos sentidos. Não produzo o objeto a partir do pensamento, mas o pensamento a partir do objeto. As proposições que uso como premissas não são inventadas, produtos da especulação: elas surgiram a partir da análise da religião". Muito bem. Mas o que é a religião para Feuerbach?

"A religião é um sonho da mente humana. Mas mesmo nos sonhos não nos encontramos no vazio (empirismo), ou nos céus (teologia), mas na terra, no reino da realidade. O que ocorre é que vemos as coisas reais no esplendor mágico da imaginação, em vez da simples luz divina da realidade e da necessidade".

Na sua crítica histórico-filosófica, Feuerbach esclarece que sua pretensão foi reduzir a teologia (estudos das questões do conhecimento da divindade, seu atributos e relações com o mundo e os homens) à antropologia (ciência inexata que descreve e analisa o homem com base nas características biológicas e culturais dos grupos sociais e suas variações em distintas épocas). Em estilo cristalino, ele afirma que "o ateísmo é o próprio segredo da religião", visto que o culto do homem pela perfeição divina, em suas distintas linguagens, não passa da projeção das suas próprias aspirações e desejos.

De posse do esquema dialético de Hegel, e impregnado da visão crítica ateísta de Feuerbach, que conduz a religião diretamente aos cânones antropológicos, Marx associou uma heresia à outra e, do caldo, saiu com uma heresia maior: o materialismo dialético, cuja feição determinista tinha por objetivo assegurar a tomada do poder pelo proletariado ou, nas suas próprias palavras, "o fim da pré-história da sociedade humana".Ainda que considerando a obra de Feuerbach uma contribuição para a "luta do homem contra a escravidão espiritual", Marx, no entanto, a exemplo do que sempre fez com os pensadores em que se nutria, logo descartou este, sob o pretexto de que não passava de "uma alma contemplativa", voltada apenas para o ser individual, incapaz de perceber no revolucionário método dialético o impulso necessário para tornar a filosofia um "agente ativo". (O que não deixa de ser irônico, pois, anos mais tarde, na Rússia stalinista, um filósofo, A. M. Deborin (1881-1963), avaliou o marxismo como mera variante do pensamento de Ludwig Feuerbach - para logo cair em desgraça e perder o posto oficial de filósofo do regime).

No parecer do filósofo inglês Bertrand Russel (1872-1970), autor da concisa "História da Filosofia" (Ediouro, Rio, 2001), Marx é a expressão típica da efervescência do século XIX, período em que os pensadores radicais buscavam uma teoria social com pretensões científicas em oposição ao romantismo reinante. Em uma palavra, o marqueteiro alemão compreendeu como ninguém a paixão da época pela mística da ciência. Então sistematizou as bases de um socialismo que, de forma oportunista, para impressionar, chamou de "científico" - e que prenunciava o fator econômico (e as forças de produção, divisão de trabalho e relações sociais) como chave motriz do desenvolvimento da história.

Aqui, convém antecipar um esclarecimento: exceto para pedir dinheiro ao pai e protelar o pagamento de empréstimos aos inúmeros credores, Marx nada entendia de economia e foi Friedrich Engels (1820-1895), parceiro, provedor e filho de rico industrial alemão do ramo têxtil, que o induziu à leitura dos economistas clássicos ingleses, em especial de David Ricardo, um self-made man de vasto conhecimento prático de economia (enriqueceu operando na bolsa), que, a partir de formulações concretas, concebeu vigorosa análise econômica e tornou-se, com "Princípios de Economia Política e Tributação" (Abril Cultural, São Paulo, 1978), um clássico da economia política universal. As várias contribuições de Ricardo à economia política dizem respeito, fundamentalmente, à criação das leis de associação e das vantagens comparativas e, na distinção entre custo e valor produzido pelo trabalho, à elaboração da célebre teoria do valor-trabalho, uma tentativa racional de se calcular o valor (preço) das mercadorias e dos salários.

De início, Ricardo realça, na divisão do trabalho, o papel da cooperação humana como fator social básico a impulsionar de modo decisivo o aumento da produtividade quando relacionada com o trabalho individual autossuficiente. Com respeito à lei da vantagem comparativa, que tem por objetivo ampliar o comércio internacional, o economista estabeleceu que a economia deve ser maximizada quando cada região (ou país) se especializar em bens e serviços em que for maior a vantagem comparativa - ou menor o custo comparativo - de produção.

Mas foi especialmente na teoria do valor-trabalho de Ricardo que Marx buscou fundamento para elaborar a sua insustentável mais-valia. O valor de uma mercadoria - diz Ricardo - é determinado pela quantidade de trabalho nela incorporado. Já o preço da mão-de-obra é determinado pela quantidade de capital disponível para o pagamento dos salários e pela dimensão da força de trabalho - o resíduo é o lucro. Não pode haver aumento no valor do trabalho sem uma queda nos lucros - vaticinou o inglês.

Possivelmente inspirado na teoria de Ricardo, o anarquista francês Joseph-Pierre Proudhon (com quem Marx travará mais tarde renhida polêmica), analisando em "O Que é a Propriedade?" (Paris, 1840) as relações entre capital e trabalho, descobre "um erro de conta proposital e constante" na composição do salário do trabalhador, que, assegura, "nada mais é do que uma apropriação da força coletiva do trabalho" pelo capitalista. Em obra posterior, "Sistema de Contradições Econômicas" (Paris, 1846), Proudhon trata das questões dos valores econômicos e da divisão do trabalho e procura demonstrar as falhas, a um só tempo, da economia política clássica e da falsa visão econômica do coletivismo socialista. No tocante a Marx, que considera um reles plagiário, Proudhon entende que o ódio deste por ele nasce do fato de ter "dito tudo antes dele".

Mas o que é, afinal, a tão decantada mais-valia? Dela trataremos no nosso próximo artigo.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".