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segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Instituto Millenium, a universidade e a imprensa: desafios do presente e uma ideia para o futuro. A questão dos valores.

INSTITUTO MILLENIUM


Luis Lopes Diniz Filho06/08/2009

O Instituto Millenium e a Universidade

Luis Lopes Diniz Filho

“o brasileiro ama o Estado"

É fato bastante comentado que o Brasil é um país onde os valores liberais nunca foram muito difundidos. No livro A cabeça do brasileiro (Record, 2007), Alberto Carlos Almeida confirmou isso ao mostrar os resultados da aplicação de uma metodologia quantitativa no estudo da mentalidade, tendo concluído que “o brasileiro ama o Estado”. Por isso é extremamente importante a existência de uma organização como o Instituto Millenium, independentemente da concordância ou discordância que se possa ter dos valores associados à tradição de pensamento liberal.

De fato, o pouco conhecimento e aceitação das ideias e valores liberais representa um sério problema político para o Brasil, e isso por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, porque este é um país de pouca tradição democrática, e tanto que a maior parte de sua história republicana se fez sob regimes autoritários. Basta lembrar que os golpes de 1937 e de 1964, para citar apenas dois exemplos, ocorreram simplesmente porque as forças políticas comprometidas com a defesa dos valores democráticos eram minoritárias, tanto à direita quanto à esquerda. Em segundo lugar, cabe dizer que, na universidade, a fragilidade do liberalismo abriu espaço para uma aceitação bastante ampla de ideias marxistas de variados matizes, o que contribuiu enormemente para que os debates intelectuais e políticos, dos anos 80 em diante, permanecessem anacrônicos. Enquanto nos países desenvolvidos as disputas políticas são polarizadas por partidos de orientação liberal e social-democrática, no Brasil essas disputas veem sendo travadas principalmente entre PSDB e PT. O primeiro é um partido de orientação social-democrata que assimilou a tendência de seus congêneres europeus a apoiar a redução do intervencionismo estatal na economia sem abandonar o apoio a políticas que visem reduzir as desigualdades. O segundo é um partido que se constituiu com um discurso socialista, mas, uma vez no poder, mostrou-se um continuador de velhas práticas autoritárias, patrimonialistas e corporativistas. A diferença entre o PT e as velhas oligarquias é que esse partido substituiu a lógica pessoal das relações de compadrio por um aparelhamento do Estado que se organiza em bases efetivamente partidárias, o qual estende seus tentáculos também para inúmeros sindicatos, ONGs e “movimentos sociais”.
Diante desse quadro, a construção de uma sociedade mais próspera e democrática passa pelo estabelecimento de uma polarização entre tendências social-democratas e forças políticas que enfatizem os benefícios sociais da eficiência econômica, o que implica trabalhar por uma mudança cultural no país. O Instituto Millenium vem buscando promover essa mudança por uma via construtiva, isto é, pela divulgação das ideias de organizações e indivíduos comprometidos com a defesa de valores democráticos e com a liberdade econômica, como o site Escola Sem Partido e o Instituto Mises Brasil, respectivamente.
Mas quais são os maiores obstáculos a enfrentar nessa caminhada? Um deles, com certeza, é a baixa escolaridade média da população brasileira. Como demonstra o já citado A cabeça do brasileiro, as pessoas com ensino superior completo tendem a ser mais exigentes com os políticos em questões éticas, a cultivar valores democráticos e a ser menos favoráveis à intervenção econômica estatal, dando-se o inverso com os menos instruídos. Segundo Almeida, isso se deve ao fato de que, uma vez de posse de um diploma universitário, as pessoas passam a ver as suas oportunidades de ascensão social como resultado da qualificação que conquistaram e de sua iniciativa pessoal, não de benefícios estatais. Ao mesmo tempo, porém, o autor afirma que existe uma cultura brasileira que tem na valorização do Estado um dos seus componentes fortes, o que se reflete no fato de que um brasileiro com ensino superior completo tende a ser mais estatista do que um norte-americano com mesmo nível de instrução. Nesse sentido, podemos identificar um segundo obstáculo para o fortalecimento dos valores políticos e econômicos liberais na existência de uma cultura nacional difícil de mudar.
Haveria, porém, um terceiro obstáculo importante a considerar?
Os formadores de opinião
Embora sem negar a pertinência das conclusões elaboradas por Alberto Carlos Almeida em seu estudo, já existem muitas evidências para demonstrar que a doutrinação teórica e ideológica praticada no sistema brasileiro de ensino, desde o nível fundamental, é também um fator de grande importância para explicar a força de visões políticas anacrônicas no Brasil, especialmente entre as pessoas mais escolarizadas. Vejamos algumas delas:
· Levantamentos feitos por jornalistas em até 130 apostilas e livros didáticos de história e de geografia revelam que muitos deles silenciam sobre os milhões de mortos produzidos pelas revoluções socialistas, usam relativizações históricas e mentiras para justificar as atrocidades (quando são admitidas) e ainda elogiam os resultados econômicos e sociais alcançados pelos regimes socialistas, muito embora dezenas de milhões de pessoas tenham morrido de fome em sua vigência. Além disso, os temas econômicos são tratados nesses livros com um claro viés ideológico de esquerda (Weinberg; Pereira, 2008; Kamel, 2007a; 2007b; Leal; Mansur; Vicária, 2007).
· Pesquisa realizada pelo Instituto CNT/Sensus revelou que, segundo declarações dos estudantes, figuras como Che Guevara, Lênin e Hugo Chávez são comentadas em aula de forma positiva na maioria das vezes. Che Guevara é o campeão, pois 86% dos alunos afirmam que ele é citado em contextos positivos, enquanto Lênin aparece com 65% de citações positivas e Chávez com 51% (Weinberg; Pereira, 2008).
· Pesquisa realizada sob minha orientação, junto a 121 alunos de colégios de Curitiba, demonstra que as referências teóricas dos livros didáticos e o viés ideológico das aulas, revelados pela pesquisa CNT/Sensus, pautam fortemente as opiniões emitidas pelos estudantes do último ano do ensino médio desse município sobre temas de geografia geral (Diniz Filho, 2009).
Portanto, embora seja válida a hipótese de que os brasileiros com instrução superior tendem a ser mais estatistas do que os norte-americanos com a mesma escolaridade devido a diferenças culturais, não há como ignorar que a doutrinação teórica e ideológica praticada no sistema brasileiro de ensino é também um sério obstáculo para a consolidação dos valores democráticos. E essa conclusão impõe uma pergunta: o Instituto Millenium deve continuar concentrando seus trabalhos na elaboração de uma agenda positiva para o fortalecimento dos valores que lhe servem de norte ou será preciso, também, denunciar o unilateralismo e as práticas doutrinadoras vigentes no ensino?
Neste momento, em que o Instituto está concentrando seus esforços principalmente na construção de um website que sirva de referência para o pensamento liberal pragmático, seria prematuro indicar a luta contra a doutrinação como um dos objetivos estratégicos de curto prazo. Mas cabe indicar um exemplo de como isso pode ser feito no futuro, por iniciativa do Instituto ou numa colaboração entre este e outras instituições comprometidas com seus valores. O exemplo em questão vem de uma pesquisa elaborada pelo ACTA – American Council of Trustees and Alumni, para avaliar a politização e partidarização do ensino nos 50 melhores colleges e universidades dos EUA, cujos resultados foram divulgados no final de novembro de 2004. O número de estudantes entrevistados foi de 658, e os dados produzidos apresentam uma margem de erro de 4% para mais ou para menos. Resumidamente, os resultados foram os seguintes:
· 49% dos estudantes afirmaram que os professores frequentemente inserem comentários políticos em seus cursos, mesmo quando eles não têm nada a ver com o assunto tratado;
· 29% sentem que devem concordar com a visão política do professor para conseguir boas notas;
· 48% relataram que as exposições feitas pelos professores sobre temas políticos “parecem totalmente unilaterais”;
· 46% disseram que os professores “usam a sala de aula para apresentar visões políticas pessoais”, embora a maior parte dos entrevistados estudasse em áreas que não têm a política como objeto, tais como biologia, engenharia e psicologia;
· A pesquisa, realizada pouco antes e depois de uma eleição presidencial, apurou que 68% dos estudantes afirmaram que seus professores fizeram comentários negativos sobre o presidente George W. Bush em sala de aula, ao passo que 62% relataram que os professores elogiaram o senador John Kerry, candidato oposicionista derrotado;
· 42% dos alunos acusaram as leituras designadas para as disciplinas de apresentar apenas um tipo de interpretação para temas controversos;
Seria extremamente oportuno que uma pesquisa desse tipo fosse realizada nas universidades brasileiras, pois é quase certo que a politização e partidarização se mostrassem ainda maiores do que no caso norte-americano. É notório que a grande maioria dos professores universitários brasileiros, assim também como dos estudantes, é simpatizante de partidos de esquerda (boa parte até militante). Isso é claramente evidenciado, nas ciências humanas, pela já comprovada hegemonia de esquerda entre autores de livros didáticos e professores do ensino médio e fundamental de história e de geografia. Provavelmente, essa hegemonia ideológica e partidária é a explicação para a inexistência de pesquisas semelhantes à do ACTA sendo feitas no Brasil, visto que a homogeneidade das formas de pensar diminui o interesse de questionar condutas a elas relacionadas.
Deve explicar também o motivo de a universidade brasileira, que não se preocupa em discutir se há unilateralismo e partidarização nos conteúdos das aulas, vir se dedicando a policiar a imprensa com pesquisas e publicações que cobram pluralismo dos grandes jornais, embora certas análises produzidas com base nessas pesquisas sejam claramente partidárias. Basta ver que o Doxa – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, do Iuperj/Ucam, realiza pesquisas para quantificar o número de matérias jornalísticas “positivas”, “negativas” e “neutras” sobre os principais candidatos em disputa nos anos eleitorais. Exemplo de estudo partidário (pró-PT) que usa os dados dessa pesquisa para acusar a imprensa de ser partidária foi elaborado por Alessandra Aldé, Gabriel Mendes e Marcus Figueiredo (2007). Mencione-se também que o OI – Observatório da Imprensa, foi organizado no estado de São Paulo pelo Labjor – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp. Embora o site do OI já tenha servido para denunciar manipulações jornalísticas favoráveis ao PT (Cunha, 2006), as matérias publicadas nesse espaço são predominantemente alinhadas com as críticas da esquerda à “mídia”, isto é, aos jornais e revistas independentes, especialmente quando estes criticam o governo Lula.
Concluindo
Em síntese, está claro que, para criar condições que favoreçam a prosperidade econômica e a democracia no Brasil, é preciso combater as ideologias e práticas autoritárias e patrimonialistas ligadas às velhas e novas oligarquias. Somente assim será possível instaurar uma polarização político-ideológica estruturada principalmente no embate entre forças social-democratas e liberais, como ocorre nos países desenvolvidos.
Para tanto, o Instituto Millenium deve prosseguir no excelente trabalho que já vem realizando, isto é, servir como catalisador de pessoas e instituições comprometidas com a defesa dos valores democráticos e da liberdade econômica. Adicionalmente, deve ter na devida conta o sério obstáculo que a doutrinação praticada no sistema de ensino representa para o fortalecimento desses valores. Deve também dar atenção para a forma como a hegemonia de esquerda tem feito de certos setores da universidade uma das frentes de patrulhamento ideológico e partidário da imprensa livre, outra séria ameaça para a democracia brasileira.
Nesse sentido, é preciso ver no horizonte o dia em que o Instituto Millenium, em parceria com instituições que defendam valores afins, deverá tomar a iniciativa de apoiar a realização de pesquisas semelhantes às do ACTA ou do CNT/Sensus nas universidades.
O trabalho a empreender é gigantesco e os obstáculos são muito fortes. Mas a elevação da escolaridade representa uma grande oportunidade, no médio e longo prazos. Daí a importância de trabalhar juntamente com as universidades, denunciando a doutrinação e as patrulhas ideológicas para fazer com que a maior escolarização possa realmente produzir todos os frutos que dela se esperam na construção de uma sociedade próspera e democrática.
BIBLIOGRAFIA
ALDÉ, A.; MENDES, G.; FIGUEIREDO, M. Tomando partido: imprensa e eleições presidenciais em 2006. In: Encontro da Compós, 16., Curitiba, jun. 2007. Disponível em: <http://www.compos.org.br/data/biblioteca_43.pdf> Acesso em: 23 fev. 2008.
CUNHA, L. C. Como IstoÉ tornou-se IstoEra. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=374IMQ004> Acesso em: 19 out. 2006.
DINIZ FILHO, L. L. A situação do ensino no Brasil: doutrinação ideológica e incapacidade de desenvolver competências. Curitiba: Departamento de Geografia da UFPR, fev. 2009. Disponível em: <http://www.escolasempartido.org/docs/Situacao_do_ensino_no_Brasil.doc> Acesso em: 12 abr. 2009.
KAMEL, A. Livro didático e propaganda política. O Globo, 02 out. 2007a.
KAMEL, A. Efeito didático. O Globo, 16 out. 2007b.
LEAL, R.; MANSUR, A.; VICÁRIA, L. O que estão ensinando às nossas crianças? Época, n. 492, 22 out. 2007.
WEINBERG, M.; PEREIRA, C. Prontos para o século XIX. Veja, São Paulo, n. 2074, 20 ago. 2008. p. 76-78.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".