Ricardo Giuliani Neto - 07/06/2010
Resolvi passar pelos filmes guardados na estante do meu estúdio. Reencontrei Lulu, um operário italiano posto entre dilemas: comunismo e capitalismo, patrões e empregados, sindicatos e anarquistas, pelegos colaboracionistas e homens sinceramente defensores de um sistema não bem compreendido, mas benquisto. Os dramas de uma classe onde os diálogos mais profundos acontecem nas banquetas do manicômio, estão contados em “A Classe Operária vai ao Paraíso”.
Elio Petri põe Gianmaria Volonte, ao som de Ennio Morricone, no papel de Lulu. Obra de 1971 e, considerados os padrões do cinema atual e a cultura dominante na sociedade contemporânea, o argumento proposto parece anacrônico e fora de moda. Os avatares de Lulu Massa estão nos manicômios e nos muros imaginários.
O ritmo da obra política —produto extinto no “mercado cinematográfico” atual—, mostra-nos, a partir de um “operário-padrão” italiano dos anos 70, relações ainda sobreviventes no mundo do capital e do trabalho.
Lulu é a referência para o padrão de produtividade desejado; a medição da sua produção é paradigma à organização lucrativa da fábrica. Sim, as máquinas não podem parar; os padrões produtivos foram negociados com os sindicatos. Lulu mostra as reais possibilidades de cumprirem-se os “acordos” entre capital e trabalho.
Há razão para bonificações e multas, para ritmos e consciências. Lulu faz poupança e sua companheira deseja, algum dia, comprar um vison. Sonha o sonho das multidões que todos os dias transfixam os portões das fábricas concretas.
Os dias todos e os estudantes anarquistas nas portas das fábricas denunciando a prática de sindicatos tolerantes ao “sistema”. Gritam, agitam, “o sol ainda não nasceu e entras na fábrica donde sairás somente quando o sol estiver posto; hoje não verás a luz do dia!”. A frase atordoa a já espatifada cabeça de Lulu. Lulu já não consegue o sexo noturno; afirma-se macho dizendo-se com disposição pela manhã; à noite está cansado e por isso os deveres de marido vão sonegados. O estômago dói... a cabeça, dói de novo. Ordena os talheres com a mesma repetição do fabrico de peças para máquinas que nunca conhecerá. O manicômio está cheio destes Lulus.
E ele entra na fábrica quando o sol ainda não nasceu... Isso o preocupa! Lulu está sob dilema. É “operário-padrão”, as máquinas não podem parar! Sim! numa dessas, para não perder o ritmo da produção, arruma uma peça e oferece-se para ser comido; a máquina sacia-se com um dos seus dedos. Sim! A dor física remete-lhe à dor moral e esta à dor política.
Os operários do manicômio batem nas paredes para derrubar o “muro” imaginário. Lulu está em protesto, junta-se aos estudantes, pede que os operários aos estudantes se unam. Derrubemos o muro! Na assembleia de fábrica divide sua dor com a dor dos outros Lulus. Fazem greve. É demitido! Os sindicatos e mais um acordo de produção e, por dentro do “ajuste”, o “operário-padrão” volta ao emprego; é o primeiro caso de readmissão de um demitido político.
A cabeça de Lulu não é mais a mesma. De volta à fábrica, a linha de produção mudou, os companheiros mudados, e tudo igual e tudo mudado. A companheira de Lulu quer um casaco de peles. Os estudantes ainda são anarquistas e os sindicatos ainda fazem acordos e pedem bonificações.
Lulu é referência para os vários Lulus. Diante dos sonhos que não o abandonam, sonha com um muro para ser derrubado e que n’algum momento cairá; o que haverá por detrás deste muro? Eis a pergunta de todos. A linha de produção quer saber! O que Lulu vê quando nos seus sonhos o muro é finalmente vencido? Sim, Lulu recorda a fala dos manicômios, recorda os seus caminhos e tensões e grita para que todos o ouçam: atrás do muro há uma névoa que quando se dissipa permite-nos ver o paraíso.
(Cavaleiro do Templo: não ou não são pessoas DOENTES mentais, sociais e espirituais? Isto quando não são de fato e de direito SOCIOPATAS, claro. Deixo aqui uma pergunta simples: uma família vai mudar de bairro. Será que ela conseguiria PREVER todos os eventos que acontecerão, desde a proposta de mudança, passando pela mesma até o estabelecimento na nova moradia? Claro que não, nem mesmo em 100 anos. Em princípio, uma MUDANÇA do que quer que seja pressupõe que se deseja MELHORAR o que quer que seja, MAS não se pode ter certeza que o resultado será satisfatório. Prudência e estudo são dois remédios para se tentar atenuar os impactos da novidade. Mas estes imbecis colocaram na cabeça que um MUDANÇA NA SOCIEDADE INTEIRA é algo bom "por natureza", e por isto mesmo são imbecis, se não forem de fato e de direito SOCIOPATAS. Pergunte para eles sobre o PROJETO desta "nova sociedade" e terá a certeza da má intenção das esquerdas, no mínimo do mínimo as revolucionárias (99,99% das mesmas). O delirante (para dizer o mínimo do mínimo) aí de cima vai encontrar o "paraíso"depois da névoa. É caso para internação de fato e de direito. Sei que é um daqueles filmes da esquerdalha mas pensas que o devalírio (devaneio + delírio) é diferente entre o "peçuáu do novo mundo possível"?).
Pois é, no mundo da cibernética, no mundo das teorias dos sistemas, das teorias da informação, é uma história piegas, não mais que isso, piegas. Não há efeitos especiais, é só uma história real com gente real, entrando nas fábricas reais antes do sol nascer e voltando pra casa depois que o sol já se foi.
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