JULIO SEVERO
14 de março de 2012
Aron Heller
JERUSALÉM, Israel (Associated Press) — Ele é considerado um dos maiores cientistas de todos os tempos. Mas Sir Isaac Newton também foi um influente teólogo, que aplicou a abordagem científica ao estudo das Escrituras e do misticismo hebreu e judeu.
ARQUIVO – Gravura de Isaac Newton baseada em um quadro de 1726 pintado por John Vanderbank, parte da capa de uma edição de 1726 do Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica, exposta em 8 de outubro de 2004 na Biblioteca de Ciências Humanas e Sociais da Biblioteca Pública de Nova Iorque. A biblioteca nacional de Israel, uma improvável detentora de uma vasta coleção de escritos de Newton, digitalizou a sua coleção teológica e a disponibilizou online. O curador da coleção de Ciências Humanas da biblioteca disse em 15 de fevereiro de 2012 que Newton era um cristãos devoto que abordou muito mais a Teologia do que a Física, e que acreditava que as escrituras forneciam um “código” para o mundo natural. (Foto AP: arquivo da Biblioteca Pública de Nova Iorque)
Agora a Biblioteca Nacional de Israel, dona de uma enorme coleção de escritos de Newton, digitalizou sua coleção teológica (cerca de 7.500 páginas escritas a mão) e as disponibilizou online. Entre os textos amarelados está a famosa previsão de Newton do apocalipse em 2060.
Newton revolucionou a Física, a Matemática e a Astronomia nos séculos XVII e XVIII, lançando as bases de grande parte da mecânica clássica, como o princípio da gravitação universal e as três leis do movimento que levam seu nome.
No entanto, o curador da coleção de Ciências Humanas da Biblioteca Nacional de Israel afirma que Newton era um cristão devoto, que abordou muito mais a Teologia do que a Física, e acreditava que a Bíblia fornecia um “código” para o mundo natural.
“Hoje em dia, tendemos a fazer uma distinção entre ciência e fé, mas para Newton era tudo parte de um mesmo mundo”, afirma Milka Levy-Rubin. “Ele acreditava que o estudo cuidadoso dos textos sagrados era um tipo de ciência, que se analisado corretamente poderia prever o que estava por vir”.
Dessa forma, ele aprendeu a ler em hebraico, percorreu a Bíblia e se aprofundou no estudo da Filosofia Judaica e do misticismo da Cabala e do Talmude (um compêndio da lei oral judaica e histórias de cerca de 1500 anos).
Por exemplo, Newton baseou seu cálculo do fim dos dias na informação coletada no Livro de Daniel, que projetou o apocalipse para 1260 depois. Newton calculou que sua contagem começou com a coroação de Carlos Magno como imperador romano no ano 800.
Os textos abordam assuntos como interpretações da Bíblia, Teologia, a história de culturas antigas, o tabernáculo e o templo judeu.
A coleção também contém mapas esboçados por Newton para ajudá-lo nos seus cálculos e tentativas de revelar a sabedoria secreta que ele acreditava estarem codificada neles.
Ele tentou prever como seria o fim dos dias, e o papel que os judeus desempenhariam quando ele chegasse. A curiosidade objetiva de Newton com o judaísmo e a Terra Santa contrastou com o sentimento antissemita expressado por muitos expoentes acadêmicos do cristianismo da época, afirma Levy-Rubin.
“Ele tinha grande interesse pelos judeus, e não encontramos expressões negativas para com os judeus nos seus escritos”, afirma Levy-Rubin. “Ele declarou que os judeus mais cedo ou mais tarde iriam retornar à sua terra”.
Como essa enorme coleção de trabalhos foi parar nas mãos do estado judaico parece místico por si só.
Anos após a morte de Newton em 1727, seus descendentes deram seus manuscritos científicos à sua alma mater, a Universidade de Cambridge.
Mas a universidade rejeitou os seus manuscritos não científicos, então a família os leiloou na casa de leilões Sotheby’s em Londres em 1936. Por acaso, outra casa de leilões famosa de Londres, a Christie’s, estava oferecendo uma coleção de arte impressionista que chamou muito mais atenção.
Apenas dois lançadores sérios se interessaram pela coleção de Newton naquele dia. O primeiro foi o renomado economista britânico John Maynard Keynes, que comprou os manuscritos de alquimia de Newton. O segundo foi Abraham Shalom Yahuda, um pesquisador de estudos orientais judaicos, que levaram os escritos teológicos de Newton.
A coleção de Yahuda foi legada à Biblioteca Nacional de Israel em 1969, anos após sua morte. Em 2007, a biblioteca exibiu os papeis pela primeira vez, e agora elas estão disponíveis para todos online.
A coleção contem páginas e mais páginas da letra cursiva de Newton em pergaminhos desbotados em inglês do século 18, com palavras como “similitude”, “prophetique” e “Whence” (“donde”).
Duas versões impressas em letras de forma modernas também estão disponíveis para mais fácil leitura: Uma “diplomática”, que inclui mudanças e correções feitas por Newton ao manuscrito original, e uma versão “limpa”, que incorpora as correções.
Todos os textos estão ligados ao Projeto Newton, organizado pela Universidade de Sussex, na Inglaterra, e inclui outras coleções dos escritos de Newton.
A biblioteca israelense diz que os manuscritos ajudam a esclarecer a ciência de Newton, assim como sua pessoa.
“No que diz respeito a Newton, sua abordagem da História era tão ciência quanto à da Física. Sua visão de mundo era que o seu ‘laboratório’ para entender a história era a Bíblia”, afirma Levy-Rubin. “Sua fé não era menos importante para ele do que sua ciência”.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do artigo da Associated Press: Israeli library uploads Newton’s theological texts
Para acessar os documentos em inglês de Isaac Newton, clique aqui.
Fonte: www.juliosevero.com
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