ESTADÃO
Governo quer reagir, mas economistas veem soma de fatores negativos, como real forte, escassez de mão de obra e custo da energia
11 de março de 2012 | 3h 10
FERNANDO DANTAS / RIO - O Estado de S.Paulo
A ameaça de desindustrialização chegou ao núcleo das preocupações do governo, com os números muito ruins da indústria no PIB de 2011 e na produção industrial mensal. O pior, porém, é que as projeções para 2012 também são desanimadoras. Instituições ouvidas pelo 'Estado' preveem queda na produção industrial mensal no primeiro trimestre, e acham difícil que o crescimento no ano supere os 2%. Em 2011, a expansão foi de 0,3%.
Nos últimos dias, em resposta aos problemas da indústria, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que vai estender a desoneração da folha salarial a diversos novos setores industriais. Além disso, deixou claro que fará tudo ao seu alcance para evitar a sobrevalorização do real, que prejudica a indústria.
Para alguns economistas, algumas características da economia brasileira combinaram-se com um contexto global desfavorável para debilitar a indústria brasileira. Em contrapartida, o setor de serviços, que não sofre a concorrência internacional, está cada vez mais aquecido.
Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos últimos anos parecem sustentar aquela visão. Entre 2002 e 2011, os desembolsos para o setor de serviços e comércio cresceram dez vezes, saindo de R$ 2,8 bilhões para R$ 29,2 bilhões.
No mesmo período, em que houve uma expansão de quase quatro vezes na carteira do BNDES, os desembolsos para a indústria cresceram duas vezes e meia, de R$ 17,4 bilhões para R$ 43,8 bilhões. Em 2002, a indústria levava seis vezes mais do que os serviços e o comércio. Em 2011, apenas 50% a mais.
Para o economista Samuel Pessôa, sócio da consultoria Tendências, "os problemas da indústria brasileira estão ligados ao modelo de desenvolvimento do País, mas a situação sofreu um agravamento depois da grande crise global".
Na sua visão, a redemocratização favoreceu uma política socioeconômica de redistribuição de renda e estímulo ao consumo. Isso, por sua vez, acentuou a característica histórica brasileira de ter taxa de poupança doméstica muito baixa, hoje em 17% do PIB, que se compara a níveis bem acima de 20%, e mesmo de 30%, de muitos emergentes.
Países de baixa poupança e alto consumo têm a demanda pressionada, mas enquanto a alta de preço dos bens industriais é limitada pelas crescentes importações, o setor de serviços, protegido, é mais atingido pela inflação.
No Brasil, a inflação dos 12 meses até janeiro nos serviços atingiu 9,2%, comparada à deflação de 1,9% dos bens duráveis no mesmo período. Assim, a indústria fica emparedada entre preços contidos pela invasão de produtos importados e custos, incluindo salários, que sobem na mesma toada dos serviços.
A situação difícil da indústria também está ligada ao boom do preço das commodities, puxadas pela demanda asiática. Ao produzir um enorme superávit comercial, o setor de matérias-primas permite que o País tenha uma situação de relativa tranquilidade no setor externo, mesmo com o câmbio muito valorizado.
Um fator adicional são os trilhões de dólares e euros que os BCs dos países ricos têm injetado nos mercados, para estimular as economias avançadas e salvar bancos. A enxurrada de liquidez chega ao País atraída pelos juros altos e valoriza ainda mais o real.
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