AUGUSTO NUNES
13/03/2012 às 22:35 \ Direto ao Ponto
O texto de Marco Antonio Villa reproduzido na seção Feira Livre, com respostas precisas à pergunta formulada pelo título, inspirou ao jornalista Celso Arnaldo Araújo observações especialmente oportunas. Transcrevo o comentário de Celso Arnaldo sobre Governo? Que governo? e volto em seguida.
A resenha pontiaguda do grande Villa contrasta chocantemente — e auspiciosamente para os que veem e pensam — com a avaliação que a mídia amestrada continua fazendo de dona Dilma.
A mais estapafúrdia talvez tenha sido feita ontem na Globo News pela Cristiana Lôbo. Continua ela sustentando a ladainha, desmentida cabalmente por estes 14 meses de governo, de que Dilma privilegia a “gestão” em detrimento da política, que era a característica de seu padrinho Lula. E, para embasar essa esdrúxula tese, citou as nomeações do bispo Minhoca Crivella para a Pesca e do Pepe Legal Vargas para Desenvolvimento Agrário — que têm tudo a ver com a política mais rasteira de que é capaz o PT e rigorosamente nada com “gestão”!!
Trem-bala, Transnordestina, Transposição do São Francisco, obras de infraestrutura da Copa, Dilma é gestora da grotesca fraude da boa gestora — o que mais será preciso, em termos de sacrifício para o país, até que isso seja percebido?
A fraude grotesca, acrescento, é anterior à chegada de Dilma Rousseff ao gabinete que ganhou do padrinho. Nasceu em 2007, quando a chefe da Casa Civil que pouco falava porque nada tinha a dizer foi promovida a Mãe do PAC ─ criatura gerada por duas consoantes e uma vogal que desde o berço engole bilhões de reais e só expele licitações malandras, contratos superfaturados, canteiros de obras desertos, creches sem crianças, quadras esportivas sem serventia e muitas, muitas pedras fundamentais. Cinco anos depois da invenção da sigla, mesmo os candidatos ao Enem beneficiados pelo vazamento da prova não saberiam o que escrever caso fossem convidados a mencionar uma única obra relevante parida pelo PAC.
Graças à tibieza da oposição oficial, a farsa da grande gestora atravessou sem sobressaltos a campanha eleitoral e entrou em velocidade de cruzeiro depois que Dilma passou a pilotar o pior ministério de todos os tempos. Os jornalistas amestrados sabem que lidam com uma presidente incapaz de livrar da falência uma lojinha em Porto Alegre. Nenhum deles se arriscaria a elegê-la síndica do prédio onde mora. Seguem mentindo para não admitir que ajudaram a forjar uma fraude que nasceu em colunas de jornais e ali respira por aparelhos.
“Não tenho compromisso com o erro”, ensinou o presidente Juscelino Kubitschek nos anos 50. Na Era da Mediocridade, o país é governado por gente que não tem compromisso sequer com os compromissos que assume publicamente: a promessa de hoje será substituída amanhã por outro palavrório inconsequente. O Fome Zero, por exemplo, acabou com a fome que Dilma promete exterminar com o Brasil sem Miséria. Aos olhos dos jornalistas federais, tudo o que se desmancha no ar continua sólido se tiver o aval do Planalto.
O país melhora quando o governo dorme. Não são os ineptos que povoam o Planalto, muito menos os pelegos acampados no Ministério do Trabalho, que mantêm em níveis aceitáveis a taxa de desemprego ou impedem flutuações de alto risco na balança comercial. Empregos com carteira assinada são criados por empresas privadas, e tanto exportações quanto importações dependem do desempenho de industriais e agricultores. A turma no poder só cuida da multiplicação dos cargos de confiança.
O volume de investimentos perde de goleada para a gastança do mamute administrativo. O governo não fabrica um único prego, não produz um saco de cimento. Só faz encomendas, e espeta a conta nos bolsos dos pagadores de impostos. Esses bancam tudo, incluídos os “programas sociais” concebidos para anabolizar a performance dos benfeitores espertos nas pesquisas de popularidade. Nos modernos currais eleitorais, a eterna gratidão dos eleitores custa uma inscrição no Bolsa Família.
Os jornalistas amestrados sabem disso. Fingem que não enxergam porque são cúmplices do grande embuste protagonizado por executiva bisonha e uma nulidade política. Nos grotões dos que nada sabem e, por isso mesmo, nada exigem, milhões de brasileiros partilham o mesmo sonho miúdo: não morrer de fome. Eles nem desconfiam que os carrascos se disfarçaram de gênios da raça e amigos do povo. Nem imaginam que foram condenados a uma vida que não vale a pena e a dor de ser vivida.
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