AUGUSTO NUNES
01/02/2012 às 18:32
Em resposta ao convite para tratar do caso Celso Daniel numa entrevista ao site de VEJA, o ministro Gilberto Carvalho ditou ao assessor Sérgio Alli o texto que o colunista recebeu por email e transcreve em itálico:
Ao senhor Augusto Nunes.
O ministro Gilberto Carvalho já deu exaustivos e suficientes depoimentos no processo de investigação do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, de quem era amigo e secretário de governo. A Polícia Civil do Estado de São Paulo realizou e concluiu dois inquéritos a respeito desse episódio. O ministro Gilberto Carvalho, além de inúmeras entrevistas, compareceu a duas audiências da CPI dos Bingos, tendo respondido durante várias horas a todos os questionamentos dos senadores, além de realizar uma acareação com as pessoas que o acusavam, que não apresentaram nenhuma prova contra ele. O relatório dessa CPI não o indiciou.
Atenciosamente,
Sérgio Alli
Assessoria de Comunicação da Secretaria-Geral da Presidência da República
Acabo de enviar o seguinte email:
Senhor Gilberto Carvalho (a/c Sérgio Alli):
Não sei lidar com evasivas e ambiguidades. O email que acabo de receber não informa objetivamente se o ministro aceitou, ainda examina ou decidiu recusar o convite para tratar do caso Celso Daniel numa gravação para o site de VEJA. O texto subscrito por seu assessor parece sugerir que o ministro já disse tudo sobre o assunto. Garanto que não. Os depoimentos “exaustivos e suficientes” podem atér ter sido extenuantes, mas não bastaram para eliminar as numerosas dúvidas, contradições, suspeitas e sombras que impedem a elucidação do crime ocorrido há dez anos.
Uma entrevista nos termos propostos certamente contribuiria para remover interrogações que, repito, intrigam milhões de brasileiros. O tom e o conteúdo das conversas registradas nos seis áudios divulgados por esta coluna, por exemplo, obrigam-me a formular pelo menos 28 perguntas. Todas imploram por explicações que só o ministro poderia fornecer. A começar pela mais óbvia: por que um grupo formado por amigos e assessores da vítima , além da viúva, resolveu interferir tão acintosamente e com tanta afoiteza no rumo das investigações policiais, mantendo sob estreita vigilância o comportamento de testemunhas e suspeitos?
Prefiro guardar as perguntas para a entrevista, mas não custa antecipar outras duas zonas cinzentas:
1. Numa conversa com o ministro, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh se mostra inquieto com o iminente depoimento de um irmão da vítima e ressalta que é importante evitar que ele “destile ressentimentos”. Reproduzo seu comentário: “Pelo amor de Deus! Isso é fundamental!”. Por que a solicitação da ajuda divina? O que havia de “fundamental” a silenciar? Caso o depoente mentisse, a polícia seria incapaz de restabelecer a verdade?
2. Os áudios escancaram o esforço do grupo para afastar Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, do caminho percorrido pelos investigadores policiais. Também evidenciam o descontrole emocional do principal suspeito, que cobra com aspereza a solidariedade ativa dos interlocutores. Numa conversa com Klinger Luiz de Oliveira, por exemplo, Sombra faz uma exigência: “Fala com o Gilberto aí! Tem que armar alguma coisa, meu chapa!”. Armação e armar, por sinal, são palavras que aparecem com frequência nos diálogos, quase sempre associadas ao atual secretário-geral da Presidência. O que foi ou deveria ter sido armado? Em quais trunfos se amparava o possível mandante do crime para fazer tais exigências e cobranças?
Há mais, muito mais. Sobram perguntas sem resposta. Como Celso Daniel, a verdade está sepultada. Diferentemente do prefeito assassinado, contudo, pode ser ressuscitada por entrevistas semelhantes à que insisto em propor-lhe. Coragem, ministro.
Atenciosamente,
Augusto Nunes
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