REINALDO AZEVEDO
31/01/2012 às 15:57
No post anterior, a gente percebe Dilma Rousseff enrolando o verbo, tentando justificar o apoio integral que o Brasil dá a uma ditadura. O governo petista se esforçou para criar uma “Comissão da Verdade” no Brasil para “apurar os crimes da ditadura” — para todos os efeitos, o objetivo é “apurar violações dos direitos humanos entre 1946 e 1985″. Mentirinha! Querem mesmo é investigar o regime militar, ignorando os crimes das esquerdas. E só não partem para a revanche aberta porque o Supremo, nesse caso, disse que vale a lei…
É amor pelos direitos humanos que faz Dilma instalar a “Comissão da Verdade”?
É amor pelos direitos humanos que faz Maria do Rosário ser uma militante da causa?
É amor pelos direitos humanos que leva essa gente a mobilizar o estado para definir a verdade oficial?
Ora, os fatos gritam, e a lógica que move essas personagens revela outra coisa. Não amam os “direitos humanos”, mas os direitos de alguns humanos em detrimento de outros, que, em razão de divergências ideológicas, “humanos” não são. No “Radar”, de Lauro Jardim, leio uma declaração desta patética Maria do Rosário sobre Cuba: “A marca de Cuba não é a violação dos direitos humanos, e, sim, ter sofrido uma violação histórica, o embargo americano.”
Trata-se de uma afirmação nojenta, asquerosa, estúpida. Desde a instalação da ditadura comunista, 100 mil pessoas morreram vítimas do regime — 17 mil fuziladas, e as demais, afogadas, tentando fugir do “paraíso”. O que o embargo tem a ver com isso? Dissidentes morrem em cadeias infectas, e os espiões do regime se espalham nas ruas, denunciando à polícia o menor sinal de atividades “contra o regime”. Uma simples reunião sem prévia autorização pode ser considerada subversão. Mas Maria do Rosário não vê nada de mal nisso.
Nem Dilma. A fala da presidente, reproduzida pelo Estadão, reassumiu aquela sintaxe miserável que tão bem a caracterizava durante a campanha. Como não tinha o que dizer, ainda sem treinamento marqueteiro, falava qualquer coisa. Não sabendo como justificar racionalmente a ditadura cubana, saiu-se com esta:
“O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo têm de se responsabilizar, inclusive o nosso (…). De fato, é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral. Não podemos achar que direitos humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também”.
A fala vazou em dilmês, aquele idioma que já foi português um dia, mas a gente consegue perceber o sentido geral. Entende-se que, segundo a Soberana, não existe diferenças entre Brasil e Cuba. Não? Sim, é certo que há, por exemplo, tortura de presos comuns por aqui ou que a situação das cadeias, na média, é lamentável. Mas o país não pune ainda, NÃO OFICIALMENTE AO MENOS, crimes de opinião. Na prática, os petistas fazem isso (direi como em outro post). Ademais, a situação dos presos comuns em Cuba não é melhor do que a dos presos políticos.
O Brasil tem hoje 190 milhões de habitantes. Cuba tem 11 milhões. Ao longo de 21 anos de ditadura, as próprias esquerdas admitem que morreram, no Brasil, no máximo, 424 pessoas - e os números são alargados: estão aí os guerrilheiros do Araguaia, os que morreram nas cidades com armas na mão e até alguns desaparecidos em razão de causas supostamente políticas, sem comprovação no entanto. Tudo bem: tomemos o número pelo teto. Em Cuba, que tem 1/17 da população do Brasil, o regime dos Castros fez 100 mil mortos. Como não dá para saber exatamente qual era a população de cada país no momento das mortes, faço as contas segundo os números atuais: no Brasil, morreu 0,23 pessoa por grupo de 100 mil habitantes. Na Cuba de Fidel, há 909 cadáveres por grupo de 100 mil. Sabem o que isso significa? Que o Coma Andante e o anão de circo que o sucedeu são 3.951 vezes mais assassinos do que os ditadores brasileiros. “Ah, mas a nossa ditadura durou 21 anos, e a de Cuba, já tem 52″. É verdade. A média de mortes, por ano de ditadura, no Brasil, seria de 20,1 pessoas; na ilha, de 1.923!!!
Ora, não se pretende que Dilma jogue pedra em Cuba ou que mantenha relações comerciais só com países que sigam a nossa cartilha de direitos humanos. Ninguém é ingênuo a tal ponto. A questão é de outra natureza. O Brasil está se oferecendo como fiador do regime cubano e enfiando dinheiro público na ilha. Se não lhe cabe “exigir” que o governo daquele país se comporte assim ou assado, é uma obrigação moral fazer um discurso inequívoco em defesa dos direitos humanos e da democracia. Em vez disso, a ministra Maria do Rosário nega as violações, e Dilma as relativiza. E também isso tem explicação.
Por Reinaldo Azevedo
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