Otto Maria Carpeaux
(1900-1978)
(1900-1978)
Uma amostra dos Ensaios Reunidos
Numa edição preparada, com introdução e notas,
por Olavo de Carvalho,
a Topbooks e a Faculdade da Cidade Editoraestarão lançando breve
o primeiro dos três volumes dos
Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux.
Informações pelo fone (021) 233.8718.
por Olavo de Carvalho,
a Topbooks e a Faculdade da Cidade Editoraestarão lançando breve
o primeiro dos três volumes dos
Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux.
Informações pelo fone (021) 233.8718.
Apresentação, por CARLOS HEITOR CONY
A importância da atuação de Otto Maria Carpeaux na cultura nacional é um fato que nunca foi contestado, embora nem sempre compreendido em sua extensão humanística. Durante a sua vida, formou-se em torno dele um grupo de intelectuais e artistas que nele encontraram, em primeira mão, as tradicionais heranças que sempre buscáramos na Europa, momentaneamente interrompidas pela segunda guerra mundial. Agora, 21 anos após a sua morte, com a reedição cuidadosa de suas obras principais pela Faculdade da Cidade Editora sob orientação de Olavo de Carvalho, as novas gerações nele poderão encontrar a visão abrangente de um verdadeiroscholar, de um espírito superior que armazenou amplos conhecimentos em vários setores da cultura ocidental e soube transmiti-los em notável coleção de ensaios, artigos e estudos.
No substancioso prefácio à reedição dos principais livros de Carpeaux, assinado por Olavo de Carvalho, temos um painel crítico desse importante momento da vida cultural brasileira. Ao mesmo tempo em que Carpeaux transmitia, também assimilava, interpretava e ampliava a nossa realidade intelectual. Daí que dois dos maiores espíritos daquela época, Carlos Drummond de Andrade e Alceu Amoroso Lima, apesar de cultivarem pontos de vista diferentes, uniram-se em consenso para realçar a importância do autor de A Cinza do Purgatório no panorama paroquial de nossa cultura.
Curiosamente, Carpeaux e Olavo não se conheceram. Um dos desencontros que eu considero mais cruéis do destino, uma vez que os dois, guardadas as posições radicalmente pessoais de cada um, tinham umapproach idêntico da condição humana. Até mesmo na capacidade da exaltação e da polêmica. De minha parte, considero-me redimido por encontrar na presente edição das obras de Carpeaux o sonho que persegui durante anos mas para a qual não tive tempo e competência para realizá-lo.
CARLOS HEITOR CONY
Um trecho da Introdução de OLAVO DE CARVALHO
...Carpeaux não foi até hoje objeto de nenhuma pesquisa séria, malgrado a imensa dívida que nosso país tem para com esse homem extraordinário e malgrado o interesse que apresenta, para a compreensão do espírito do século XX, o conhecimento de um personagem em cuja formação espiritual se cruzaram todas as correntes decisivas da história das idéias.
A Faculdade da Cidade do Rio de Janeiro, que nem mesmo existia na época de Carpeaux, foi até agora a única instituição que se interessou em dar apoio às investigações sobre sua vida e sua obra, apoio do qual resultaram, como primeiro passo de um trabalho destinado a prosseguir talvez por décadas, as pesquisas empreendidas para a elaboração destesEnsaios Reunidos, em três volumes, aos quais deverá seguir-se a reedição ilustrada da História da Literatura Ocidental, para a qual a Faculdade da Cidade Editora já iniciou entendimentos com o Dr. Joaquim Campelo Marques, diretor da Editorial Alhambra, responsável pela segunda edição da obra.
Se em matéria de pesquisa biográfica tudo ainda está por fazer — principalmente no que se refere ao período que vai do nascimento de OMC até sua chegada ao Brasil1 —, nenhum trabalho significativo se empreendeu tampouco no sentido de melhor definir o seu perfil intelectual e o seu lugar na história da crítica brasileira e mundial. Os artigos e comentários a seu respeito publicados durante sua vida e logo após sua morte são na maioria apenas jornalísticos e raramente vão além da constatação das qualidades mais óbvias do escritor.2
A indiferença ante uma obra tão importante parece ainda mais estranha porque Carpeaux, como se acaba de ver, foi o que pode haver de mais diferente de um ilustre desconhecido. Foi figura popularíssima nos meios literários, jornalísticos e estudantis e ao morrer se tinha elevado quase à condição de herói nacional. A fama que ele teve em vida foi obscurecida pela inexplicável modéstia do seu destino póstumo.
Não há como não enxergar nesse fenômeno um dos indícios mais eloqüentes da debilitação intelectual brasileira das últimas décadas. Mas, ainda que reduzida a uma mistura deshow business e propaganda ideológica, a atividade daintelligentzia nacional não teria por que excluir de sua órbita de interesse a figura de Otto Maria Carpeaux: mesmo que lhe escapasse a finura superior do personagem, restaria sempre sua imagem de combatente político, tão enaltecida nos últimos anos de sua vida pela unanimidade do público esquerdista, e sempre útil, afinal, como emblema publicitário de uma facção que se arroga, por motivos que só Deus sabe, o monopólio das qualidades intelectuais mais altas.
Há nesse esquecimento algo mais sério do que simples ingratidão. Há o fato de que seria muito difícil explorar politicamente a herança de Carpeaux sem fazer ao mesmo tempo um esforço para estar à altura do restante do seu legado — e a tanto não chegava uma devoção de aproveitadores. Carpeaux não é facilmente divisível: a força de sua atuação de polemista sustentava-se no imenso prestígio intelectual que o crítico havia acumulado ao longo de três décadas de magistério informal sobre a vida literária brasileira — um prestígio superior a toda conveniência política de grupos e facções, e que só não fora unânime porque manchado durante breve tempo por intrigas e calúnias vindas, por ironia, da esquerda mesma.3 Se ninguém quis explorar o legado político do falecido Carpeaux, foi porque isso implicava a obrigação de arcar com o peso de sua herança intelectual, isto é, de tentar compreendê-lo.
Ora, Carpeaux, um dos escritores mais claros e límpidos que já empregaram a língua portuguesa, é, ao mesmo tempo, um dos mais difíceis de compreender. Não digo isto de seus escritos tomados um a um. Suas frases são simples, seus julgamentos são nítidos, e ele é sempre maravilhosamente didático, insistindo em escrever antes para o povo do que para um grêmio de scholars.4 As dificuldades aparecem quando começamos a comparar um escrito com outro, em busca da unidade de pensamento que subentendem.
Aí descobrimos, por exemplo, que esse militante da esquerda, perseguido e censurado pela ditadura reacionária, compartilhava das temerosas reservas de Ortega y Gasset ante a rebelión de las masas;5 que esse apologista da revolução cubana tinha horror da politização geral da cultura;6 que esse denunciador das mazelas do capitalismo fazia a apologia do economista Friedrich Hayek, precursor do neoliberalismo;7 que esse ídolo dos estudantes brasileiros sentia o mais fundo desprezo pelo "proletariado intelectual", as massas de bacharéis que as universidades despejam todo ano na atividade cultural e política, vazios de cultura superior e intoxicados de slogans demagógicos.8
Cavando um pouco mais fundo, descobrimos que esse comentarista de imprensa, empenhado em tudo explicar da política imediata pela luta entre países ricos e países pobres, era, como historiador, exatamente o avesso de um marxista: não acreditava na primazia do econômico, enfatizava a importância dos fatores espirituais e identificava mesmo de vez em quando, nos movimentos da História universal, sinais misteriosos de uma intervenção da Providência, o que o tornava mais próximo de Bossuet que de Marx. Ele contava, entre seus mestres na ciência da interpretação histórica, principalmente o cristão Eugen Rosenstock-Huessy,9 o conservador Jakob Burckhardt e o liberal Benedetto Croce. Reconhecia também as influências de Max Weber, de Georg Simmel, de Wilhelm Dilthey, de Max Scheler. Nenhuma de autor marxista — nem mesmo a de Marx em pessoa, que é citado muitas vezes neste volume, mas geralmente no contexto de alguma comparação com Weber (vantajosa a este último) ou de uma condenação explícita a todos os "totalitarismos fascistas, marxistas, capitalistas e idiotas".10Lenin só é citado para mostrar a persistência, em seu pensamento, de elementos tradicionalistas.11 Lukács e Benjamin são mencionados algumas vezes, respeitosamente, como originais e dissidentes. E, quando ele reconhece alguma verdade no marxismo, é em termos que hoje causariam escândalo:
"Há uma grande verdade histórica no marxismo, há uma grande verdade humana na psicanálise, e há mesmo uma verdade antropológica incontestável no racismo. Mas o que existe de essencial nessas grandes heresias do nosso tempo é o passivismo fatalista que lhes é comum: a convicção da inevitabilidade do destino econômico, do destino subconsciente, do destino racial. Não é por um acaso que essas ‘escolas’ tendem a estabelecer Inquisições mais ‘ortodoxas’ e mais intolerantes do que qualquer Inquisição que tenha tentado suplantar a consciência humana. E essa tentativa é característica das falsas tradições."12
Poder-se ia tentar explicar pela evolução biográfica as aparentes contradições entre o fundo ideológico e as atitudes políticas ostensivas do personagem. Carpeaux, que ao chegar trazia ainda viva em seu coração a marca não só das "ciências do espírito" de Dilthey e Simmel ou do idealismo de Croce, mas também a de uma cultura espiritual católica fortemente impregnada de agostinismo e platonismo,13 teria ido aos poucos se afastando desses quadros de referência para se integrar na atmosfera brasileira dominada pelo marxismo. É verdade que Carpeaux mudou de idéia sobre muitas coisas.14É verdade também que, à medida que os anos passavam, ele se permitiu cada vez mais ser afetado por uma atualidade política mesquinha, deixando dissolver-se em parte, no ambiente de imediatismo brasileiro, a soberana concentração espiritual que lhe permitira sair ileso das mais deprimentes experiências européias. Enfim, é verdade que o fervor antifascista o levou algumas vezes a subscrever as mentiras mais cínicas da propaganda esquerdista, e até a ampliá-las.15Mas ainda em seus últimos ensaios críticos — contemporâneos de suas mais violentas polêmicas antiamericanas — ele mostra um senso da supratemporalidade que só pode ser diagnosticado como idealista ou como cristão e que é estranho a toda sensibilidade marxista. Ademais, não se atenuou até o fim seu apego a autores conservadores como Burckhardt, Rivarol ou Joseph de Maistre.
Não, Carpeaux jamais se tornou marxista. Se no jornalismo político suas posições coincidiam em gênero, numero e grau com aquelas defendidas simultaneamente pelo Partido Comunista, só pode ter sido porque, no seu entender, nada impedia que um totalitarismo idiota tivesse razão temporariamente contra outro totalitarismo idiota, cabendo apoiar o primeiro pelo simples motivo de ser, na ocasião, o mais fraco perseguido pelo mais forte. Há no austríaco Carpeaux, de fato, algo de rebeldia espanhola, de quixotismo sempre sensível ao apelo de Ortega y Gasset — "Prestad noblemente vuestro auxilio a los que son los menos contra los que son los más" —, ferozmente alheio a toda exigência de "coerência" ideológica exterior.
Mas a coerência ideológica, como se sabe, consiste apenas em acompanhar fielmente uma facção ao longo de todas as suas infidelidades a si mesma, em dizer-lhe amém a despeito de todas as incoerências de sua doutrina e de todas as incongruências de sua política oportunista.
Não é nesse plano que pode estar a coerência interior de um homem de pensamento. Ao contrário, quanto mais apegado ele seja aos princípios que norteiam sua consciência, mais incoerente e anárquico há de parecer desde fora, desde as catalogações do hombre masa universitário, que, politizado até a raiz, vê o mundo como um ringue dividido entre amigos e inimigos.
A coerência de Carpeaux não deve ser buscada no rés-do-chão. Ela está, ao mesmo tempo, mais alto e mais fundo.
O homem de quem estamos falando é autor da única história da literatura jamais escrita na qual a sucessão das idéias e criações literárias no Ocidente, de Hesíodo a Valéry, aparece como um movimento contínuo que, por baixo da variedade desnorteante das suas manifestações, não perde jamais a unidade de sentido. Veremos adiante em que consiste essa unidade. Por enquanto é preciso dizer que esse homem adquiriu direito de cidade em todas as épocas da História, e que, se era capaz de mergulhar apaixonadamente na discussão da atualidade, nunca se sentiu, por dentro, mais ligado a este tempo do que a qualquer outro. Ele citava muitas vezes a frase de Ranke — "todas as épocas são iguais perante Deus" — e ilustrava-a, na prática, ao mostrar que um conflito de estilos poéticos, no século XVI, ou uma discussão de escolásticos, no XIII, podiam às vezes ter atualidade mais explosiva que as manchetes do dia. O passado, para Carpeaux, não tinha jamais a pompa venerável e inofensiva de um leão empalhado. "As vozes proféticas do passado — escreveu ele na abertura de seu primeiro livro de ensaios, quase como num manifesto de intenções — ensinam-nos a interpretar a nossa situação; interpretação que equivale a um julgamento do mundo e de nós mesmos, a um exame de consciência." Note-se, por favor, nessas palavras, a enfática inversão do progressismo vulgar e estúpido que relativiza o passado absolutizando o presente como juiz soberano de todas as épocas; ou que, pior ainda, julga toda a história desde o patamar utópico de um futuro meramente imaginado. Para o autor de A Cinza do Purgatório, é o passado que é juiz do presente, assim como as esperanças da infância são o juiz da vida madura. Confrontar-nos com o passado é medir-nos pela realidade do que já foi e não pode mais não ser. Para o homem que se elevou à contemplação da História como conjunto, facções e opiniões de épocas dissolvem-se num oceano em perpétuo movimento, onde as palavras de homens e grupos acabam por adquirir significados e produzir efeitos que podem ir parar bem longe de suas intenções originárias. Progressismo e reacionarismo, tirania e liberdade, ódios e amores trazem dentro de si os seus contrários, numa permanente intermutação de sentidos, da qual o fanático simplório pode se imaginar ileso, mas o historiador não tem o direito de ignorar.
Levado por sua formação e pela contínua meditação da história à tranqüilidade compassiva de uma contemplação que tudo perdoa porque tudo compreende, Carpeaux continuou no entanto, por temperamento, um homem combativo, inflamado, capaz de arrebatamentos de cólera na defesa de posições que para ele tinham significação menos política do que moral.
O permanente vaivém entre a contemplação superior e a participação apaixonada nas lutas do dia é um dos traços que marcam a personalidade intelectual de Carpeaux com o sinal de uma originalidade inconfundível.
Mas é esse também o fator que produz na sua obra escrita tantas mudanças de plano, que obrigam o leitor a meticulosos ajustes de foco para não enxergar contradições onde há apenas um contraponto consciente ou um trânsito sutil entre duas significações de uma palavra, bem como para não deixar despercebidas algumas contradições autênticas, a que nem mesmo a mais coerente das inteligências poderia escapar no meio de uma atividade tão variada, tão rica, e sobretudo tão veloz.
A obra de Carpeaux exige do leitor um contínuo exercício da distinção, o distinguo escolástico, tão obsessivamente presente em cada uma de suas páginas e tão difícil de praticar, hoje em dia, pela massa de imbecis letrados que a militância acostumou ao pensamento unilinear e às generalizações peremptórias. A distinção é a arte aristotélica de captar, numa afirmação, o nível e a direção da generalidade que pretende abarcar. Aristóteles chamava a essa diferença de nível o antepredicamento: aquilo que está "antes" da afirmação, que está pressuposto nela e que dá a medida de suas pretensões à veracidade. Tudo o que se afirma de uma coisa é afirmado seja como seu caráter específico e definidor, seja como traço genérico que ela compartilha com outras coisas, seja como sua propriedade (decorrência lógica de seu caráter), seja como mero acidente. Tudo isso pode ser "verdade", mas não do mesmo modo nem no mesmo plano. Daí a necessidade do distinguo preliminar à concordância ou discordância. Os ensaios de Otto Maria Carpeaux não são senão um vasto mostruário da arte da distinção, elevada às alturas de um virtuosismo quase alucinante. Ora, a distinção é a operação fundamental da arte da dialética, segundo a concebia Aristóteles.
"Toda dialética é movimento", escreve Otto Maria Carpeaux — e a dialética é o traço mais saliente do estilo mental do grande crítico e historiador. Dizia Aristóteles que a lógica parte de postulados, a dialética de problemas e perguntas. A dialética de Otto Maria Carpeaux coloca desde logo um problema: é que não é dialético somente o seu modo de pensar, mas o seu estilo literário. A dialética é um pensamento dialogal: constitui-se de duas ou mais linhas de raciocínio que se confrontam, se fundem, se transformam e enfim, quando tudo corre bem, se resolvem em favor de uma delas, de ambas em sentidos diferentes, ou de uma terceira. Em geral o pensador dialético, por não poder aderir a nenhum dos partidos, se mantém tranqüilamente à distância, imparcial, relatando os passos da peleja com a frieza do juiz que reduz a termo o depoimento das partes, despojando-o de toda ênfase emocional ou floreio oratório. Mas essa superioridade olímpica não convém a Carpeaux, temperamento apaixonado e fogoso. Ele se joga de cabeça nos debates, toma partido ora de um, ora de outro lado, argumentando em favor de ambos com a candura de quem defendesse opiniões pessoais. Ele não é um juiz: é dois advogados, é réu e vítima em turnos, passando de um papel a outro com naturalidade e sem mudar de tom. Eis aí o problema: o que pensa, realmente, Otto Maria Carpeaux? O leitor que deseje guiar-se pela opinião do crítico desorienta-se, num fogo cruzado onde o atirador dispara contra si mesmo de um lado e de outro do saloon. Para complicar mais as coisas, o virtuose da dialética deleita-se ainda no jogo sutil de usar as mesmas palavras, repetir as mesmas frases em ambos os discursos, variando o seu sentido conforme o contexto, fazendo-as ecoar em várias oitavas, explorando a ambigüidade, a inversão da ambigüidade e a ambigüidade da inversão, transfigurando a defesa em ataque e o ataque em justificação do adversário.
Não é de desprezar, nessa técnica maravilhosa, a influência de elementos de composição musical, tão profundamente impregnados na alma de quem foi não apenas um ouvinte devoto e um temperamento musical por excelência, mas um consumado historiador e crítico de música. Carpeaux, com efeito, tem um senso artístico da musicalidade das idéias, trabalhando um conceito, um juízo, como um compositor trabalha um tema musical em várias oitavas e com muitas variações, ora com o rigor matemático de Bach, ora com a magia transfiguradora de um Debussy, ora desorientando o leitor com sutilezas parecidas à de Sir Edward Elgar emEnigma Variations, exibindo as variações sem revelar o tema.
Diante desse movimento sinuoso, que nunca se antevê onde vai parar, o leitor sequioso de afirmações peremptórias, infectado daquela "pressa indecente" que Nietzsche via como sinal da burrice moderna, pode ser levado ao desespero ou evadir-se do labirinto mediante o apelo a alguma simplificação incompreensiva.
Mas a dialética, em Carpeaux, também não é "simples" dialética. Ela abrange pelo menos três níveis de abordagem, entre os quais o autor sobe e desce conforme as conveniências do tema e a inspiração do momento. A dialética é, em primeiro lugar, a arte aristotélica do confronto das opiniões contrárias, que, por meio de sucessivas distinções de planos, chega (ou não chega) a uma resolução — arte que os escolásticos levaram à suma perfeição e que, na obra de Carpeaux, surge ainda valorizada pela técnica musical da exposição.
Mas, num segundo plano, é também dialética no sentido de Hegel e Marx — já não o confronto das puras teorias, mas o seu entrechoque no tempo, na história. Assim, os vários níveis lógicos de uma disputa (assinalados pelos vários sentidos de uma afirmação segundo os quatro antepredicamentos) encarnam-se em atos e valores, em compromissos políticos, religiosos e sociais pelos quais os homens matam e morrem.
É admirável a desenvoltura com que Carpeaux transita de uma a outra dessas dialéticas, exemplificando a lógica com a história e descobrindo, por trás da história, uma unidade lógica. Fatos e idéias separados por séculos de intervalo revelam suas afinidades, como na repetição de um tema sob variações ao longo de uma sinfonia.
Mas Carpeaux absorveu Hegel, sobretudo, através de Benedetto Croce. Assim, às distinções e ao movimento temporal ele acrescenta três toques inconfundivelmente croceanos: a valorização do elemento intuitivo na percepção da obra de arte, o senso da distinção entre os seus elementos "poéticos" e "empíricos" — vale dizer, essenciais e acidentais — e a unidade sem confusão dos quatro momentos do espírito: o verdadeiro e o bem, o belo e o útil. É através destes instrumentos que ele consegue, quando sobe às grandes generalizações históricas ou quando arbitra um confronto de idéias, não perder jamais de vista a singularidade da obra que está discutindo. Ao contrário: quanto mais vasto e coeso o referencial histórico-filosófico sobre cujo pano de fundo se ergue a obra, mais nítidos se tornam os traços singulares que a diferenciam. Saltando sobre as várias gradações do "geral", o universal se reencontra no singular. É assim que o crítico realiza o prodígio — para mim o mais alto momento da crítica literária neste país — de descobrir em Vidas Secas elementos subjacentes de metafísica hindu, que ao mesmo tempo conferem a Graciliano um lugar singularíssimo no quadro do romance brasileiro e o integram no vasto panorama recorrente das idéias arquetípicas que sustentam o movimento da história do mundo.16
Um dos recursos que permitem a Carpeaux operar prodígios de aproximação entre o geral e o singular é o emprego constante que ele faz dos métodos da estilística — ciência que consiste, toda ela, em comparar essas duas dimensões. Articulados aos da sociologia, esses métodos revelam a complexidade do fenômeno literário como expressão que retroage sobre aquilo que expressa e, muitas vezes, o modifica decisivamente. A ênfase de Carpeaux na autonomia do fenômeno literário ecoa e revaloriza não uma, porém duas lições de seu mestre Croce. De um lado, a constatação de que generalizações sobre épocas, gerações e estilos costumam apreender antes os elementos materiais, acidentais e "não poéticos" das obras do que seus elementos formais,17essenciais e "poéticos". De outro, mais importante ainda, a consciência de que a "expressão" não é nunca exteriorização passiva, mas, ao contrário, é o momento propriamente ativo, luminoso e "libertador" do processo espiritual, do qual a matéria expressa não é senão substrato nebuloso, escravo e, de per si, ineficaz. Somente pela expressão, que objetiva seus estados interiores, o homem toma posse de si e se torna sujeito criador de seus atos, seja no plano da psicologia individual, seja no histórico.18 Eis por que a literatura não pode ser apenas "reflexo" da história social: ela é, junto com as outras expressões criadoras do espírito humano, justamente uma das forças agentes que a produzem. Eis também por que certos princípios criadores da literatura — como por exemplo o realismo estudado por Erich Auerbach19— podem atravessar as épocas, ajudando a moldá-las, sem ser por elas essencialmente afetados e não sofrendo senão modificações secundárias: eles são fatores estruturantes de toda uma civilização, não a expressão de situações históricas mutáveis.
Mas o método estilístico-sociológico seria impotente para apreender as conexões mais sutis entre literatura e civilização se não comportasse, da parte do crítico, uma aguda autoconsciência das suas relações pessoais com o objeto de estudo. Daí a importância do terceiro elemento do método de Carpeaux: a hermenêutica, a ciência da interpretação.
"Podemos, hoje, ler um livro do século XVII assim como o leu um leitor do século XVII? Podemos, hoje, ler Dante assim como o leu um leitor do século XIV? A mesma dúvida subsiste, igualmente, quanto às obras da Antiguidade greco-latina e quanto aos romances realísticos do século XIX. Lendo essas obras todas, sentimos e sabemos muito mais do que os contemporâneos porque nos está presente tudo aquilo que foi escrito e pensado depois, até hoje. Mas esse ‘mais’ também nos torna insensíveis ao que foi novo naquela época e já não é novo hoje. A distância falsifica inteiramente a perspectiva.
[A hermenêutica] é uma disciplina científica, mas permanentemente problemática. Pois quanto a obras de Bach, quadros do Greco, estátuas antigas, livros medievais, poesia barroca e textos jurídicos subsiste a mesma dúvida que separa, há séculos, os teólogos católicos e os protestantes, que lêem com olhos diferentes o maior livro do passado. Será que somos capazes de ‘compreender’ o passado? Será que somos capazes de compreender o presente? Não existem, porventura, barreiras semelhantes entre as civilizações, entre as raças, entre as classes, entre os sexos, entre todos os homens? ‘Compreendemos’ jamais nosso próximo? A psicologia moderna ensina-nos, até, os limites da nossa compreensão de nós mesmos. É uma lição de humildade."20
Mais que de humildade, é uma lição de autoconhecimento. É graças a ela que o estudo das obras do passado pode tornar-se, como propunha A Cinza do Purgatório, "um exame de consciência". Firmemente escorado no tripé estilística-sociologia-hermenêutica, e disposto a não abdicar da busca da sabedoria, que é a justificativa última se não única de toda curiosidade científica, o crítico pode fazer da investigação da unidade da história a ocasião de um nosce te ipsum que se aprofunda numa busca do sentido da existência. Aí a crítica e a história literárias assumem plenamente o seu papel no quadro de uma pedagogia espiritual, do qual, sob pretextos variados sempre oportunistas e pedantes, elas vem festivamente abdicando nas últimas décadas.21
A unidade que o olhar de Otto Maria Carpeaux apreende no desenvolvimento literário do Ocidente dificilmente poderia ser compactada na forma de uma determinada "filosofia da história" — conceito que precisamente foi impugnado pelo seu mestre Dilthey. Também não é seguro que Carpeaux subscrevesse por inteiro a concepção croceana da "história como história da liberdade". Menos ainda se observa, na sua obra, o menor sinal de um interesse muito sério pelas distinção marxista entre "infra-estruturas" e "superestruturas", um intuito qualquer de assinalar o predomínio constante de qualquer fator causal determinado na produção dos fatos da história. Sob esse aspecto, Carpeaux permanece esplendidamente "positivista", no sentido de preferir o fato solto, desde que comprovado e inteligível, à sua inserção redutiva em qualquer generalização. Contribui para isso, também, a sua afeição de leitor, espectador e ouvinte àquilo que cada obra tem de único e irredutível. No entanto, ele não endossa de todo a distinção rigorosa que as "ciências do espírito" faziam entre "compreensão" e "explicação", entre "sentido" e "causa". Não raro, ao esforço de compreensão ele acrescenta a sondagem das causas, não só de determinados acontecimentos mas também de tendências gerais. Se nisto ele está mais próximo de Weber que de Dilthey, Windelband ou Rickert, também o está pelo uso abundante que faz dos "tipos ideais" na caracterização de estilos e correntes literárias. Mas esses tipos, por sua vez, não compendiam "estilos de épocas", já que Carpeaux, seguindo a sociologia do conhecimento de Karl Mannheim, admite que "não é possível explicar todas as manifestações duma época partindo de um tipo só; sempre existe pelo menos um tipo de oposição".22 É na caracterização desses contrários que o espírito profundamente dialético de Carpeaux alcança o melhor de seu desempenho, sobretudo quando observa a coexistência de tipos antagônicos e de "épocas" diversas dentro de uma mesma obra, que assim não pode ser absorvida explicativamente em nenhuma tendência geral determinada e requer um cuidadoso distinguo. É notável, nesse sentido, a sua interpretação de Manzoni.23 Contrastes e aproximações meticulosos permitem-lhe estabelecer ligações de intenção e sentido que se sobrepõem, pela sua importância decisiva, seja aos esquemas de uma sociologia materialista que não vê na literatura senão um traslado da realidade social, seja até mesmo às exigências de uma cronologia que absolutiza o tempo, tudo reduzindo a "épocas" e "períodos".24
Ora, se Carpeaux não submete o acontecer histórico ao molde de nenhuma teoria causal preconcebida, preferindo ater-se às comparações parciais a saltar para as grandes generalizações, de onde então vem a impressão de continuidade, de unidade que se depreende da visão histórica presente não só na História da Literatura Ocidental mas em cada um dos ensaios literários aqui reunidos?
Vem de que a impossibilidade de tudo reduzir a um grupo de causas unívocas em nada obsta que, na massa dos acontecimentos espirituais, a inteligência consiga discernir a identidade de um esforço humano contínuo, permanentemente voltado para um mesmo sentido. Esse sentido é o que está implícito na noção mesma da arte literária como atividade deexpressão. Carpeaux entendia a expressão no sentido croceano, como idêntica ao conhecimento intuitivo e como atividade objetivante pela qual um mundo de tensões, emoções e semipercepções obscuras, que se agitam no fundo da alma dos indivíduos e dos povos, é trazido à tona e se torna matéria de conhecimento e possibilidade de ação. A literatura, assim concebida, consiste em libertar a alma das névoas do desconhecido e do inexpresso, para situá-la no terreno luminoso do Espírito, onde "vivemos, nos movemos e somos". Nesse sentido especial, e só nele, a história da literatura seria para Carpeaux como a história geral para Croce, a "história da liberdade" — a história das ascensões e quedas da espécie humana na sua caminhada das trevas à claridade. Não há nessa caminhada a linearidade de um "progresso". Ao contrário, Carpeaux reconhece explicitamente alguma realidade nos corsi e ricorsi viquianos, e relembra de vez em quando a sentença de São Bernardo de Clairvaux, epígrafe de uma obra apocalíptica de seu amado Jan Huizinga: "Habet mundus iste noctes suas, et non paucas" — "este mundo tem suas noites, e não são poucas". Por vezes, sente-se inclinado ao mais antiprogressista dos pessimismos históricos e cita o verso de Jorge Manrique:
"Cualquiera tiempo pasado / fue mejor."
Mas, por entre as incertezas e as quedas, uma coisa é segura para ele: a permanência das obras escritas, testemunhos do que a humanidade um dia percebeu e compreendeu, esperança de que possa vir novamente a perceber e compreender amanhã. Pois, ainda que de tempos em tempos se perca mesmo a possibilidade de compreender as obras do passado, a simples presença delas é um convite à reconquista dessa possibilidade, que, uma vez realizada, atesta, para além de toda dúvida, que cada experiência que foi dita com perfeição de obra de arte ampliou, de uma vez para sempre, os limites do dizível, e marcou uma vitória humana sobre o caos e a escuridão. Que haja, na produção de cada uma dessas vitórias, por trás de todos os fatores sociais que lhe servem de cenário e motivo, a interferência de um elemento misteriosamente providencial que nenhuma ciência humana pode abarcar ou prever — eis a constatação que faz o historiador Otto Maria Carpeaux se prosternar ante o legado literário dos milênios com uma devoção que, na falta de melhor nome, direi quase religiosa.
Sem condigno similar entre nós exceto seu amigo e quase discípulo Franklin de Oliveira,25 ele poderia descrever-se com as palavras de Serenus Zeitblom, o angélico biógrafo do demoníaco Adrian Leverkuhn no Doktor Faustus, de Thomas Mann:
"No que tange a minhas origens católicas, é natural que elas tenham plasmado e influenciado minha personalidade íntima, sem que, todavia, jamais resultasse dessa matização de minha vida qualquer conflito com minha concepção humanística do mundo ou com meu amor às ‘melhores Artes e Ciências’, como se dizia em outros tempos. Entre esses dois elementos de minha pessoa reinou sempre total harmonia, tal como, sem dúvida alguma, pode ser mantida com facilidade por quem se haja criado no clima tradicional de uma cidade antiga, cujos monumentos e reminiscências recuam muito longe adentro de eras pré-cismáticas, quando ainda existia um mundo de unidade cristã."26
Essa "cidade antiga", na verdade, persistiu existindo depois do cisma protestante. É Viena. Nela conservou-se por muito tempo a unidade de religião e cultura humanística, que o restante da Europa ia perdendo. Eis por que o jovem Carpeaux repeliu com todas as suas forças a idéia de uma integração da Áustria na "Grande Alemanha" improvisada oportunisticamente pelos nazistas. Essa integração seria, na verdade, uma desintegração: a dissolução de uma identidade nacional que conservava, em miniatura e germe, o passado e o futuro da unidade cristã, a recordação da velha Europa pré-cismática e o sonho de uma nova cultura européia, redimida de todas as guerras religiosas e de todas as divisões da alma entre os direitos de Deus e os direitos do homem. Tornar esse sonho realidade, eis a "missão européia da Áustria".
Mas essa missão era também sonho, e o sonho terminou num amargo despertar, quando os nazistas entraram em Viena. Seu último profeta tinha sido um poeta — Hofmannsthal, um dos mestres que mais profundamente influíram na formação do jovem Carpeaux:
"Com Hugo von Hofmannsthal, uma velha família se extinguiu. A família dos povos austríacos extinguiu-se, também. O poeta está esquecido, e a sua pátria está esquecida. Mas, espiritualmente, a Áustria continua, porque, ‘para o espírito, tudo está presente’. Esta presença abrange um passado e um futuro. Não sei se esta Áustria que acabou voltará um dia, e nem o creio sequer. De qualquer forma, porém, a Áustria continua como uma missão, uma tarefa da Europa. A separação dos povos pela força fracassou, a sua reunião pela força fracassará também. Falta construir uma Europa cristã, união acima das nações. Não é a preocupação de renovar a Áustria, é a tarefa de criar uma outra Áustria que será a Europa."27
Rejeitado pelo continente ao qual tinha dedicado o próprio sentido de sua missão pessoal, obrigado a recomeçar a vida numa terra distante, sem raízes, Otto Maria Carpeaux não se mostra desorientado nem se queixa. Com inesgotável esperança e tenacidade, dispõe-se a servir à nova pátria e, aos quarenta anos de idade, começa a aprender o seu idioma. Foi, diz ele, o maior desafio de sua vida. Ele retoma sua missão, em outro plano e nas condições ambientes. Seus primeiros ensaios mostram o intuito evidente de transportar para o Brasil o legado dessa visão essencialmente austríaca de uma unidade civilizacional anterior — ou posterior — à fragmentação moderna. Essa visão indicava claramente o sentido de uma nova paideia, que poderia ter sido a matriz de uma nova e mais poderosa cultura brasileira. Poderia ter sido, mas não foi. Os elevados propósitos de Carpeaux pairavam muito acima das cabeças do seu auditório. Reconheceram nele apenas o mais visível, o exterior: a erudição germânica, a introdução de novos autores até então desconhecidos no meio brasileiro. Passaram a falar de Weber e Kafka, de Wassermann e Musil, muito gratos àquele que, por lhes ter apresentado essas criaturas, mereceu que o tratassem como um interessante divulgador jornalístico. Incapazes de elevar-se à visão universal que ele lhes oferecia, agarraram os seus elementos isolados, aceitaram respeitosamente as sugestões de leitura e, no que diz respeito às concepções gerais, continuaram confortavelmente apegados a suas filosofias provincianas, muito superiores, segundo parecia, à "mera erudição" do recém-chegado. Nunca o enxergaram por inteiro.
Quatro ensaios memoráveis de OTTO MARIA CARPEAUX
NOTAS
- Até 1997 os arquivos pessoais de OMC, conservados na Fundação Casa de Rui Barbosa, não tinham sido catalogados. [N.E.] Voltar
- V. uma lista no final destes Ensaios Reunidos. [N.E.] Voltar
- Insuflado por um grupo de comunistas de Minas Gerais, que lhe passaram informações falsas sobre Carpeaux (falsas ao ponto de fazer do exilado um suspeito de simpatias nazistas), o romancista francês Georges Bernanos, homem honesto mas de temperamento arrebatado e colérico como aliás o próprio Carpeaux, embarcou na conversa e publicou um artigo furioso contra o crítico recém-naturalizado. O episódio está documentado em artigos que serão reproduzidos no volume de Escritos Políticos. Houve também uma "campanha sórdida liderada por Oswald de Andrade" (Franklin de Oliveira, A Semana de Arte Moderna na Contramão da História e Outros Ensaios, Rio, Topbooks, 1993, p. 146) e uma intriga armada pelo semanário Diretrizes, que explico mais adiante. — Tudo isto, naturalmemente, sem contar as puras incompreensões sem malícia, como a de Eduardo Portella, que acusou Carpeaux de não entender os "caracteres específicos" da literatura brasileira (besteira pura, como explico na p. 266 de O Imbecil Coletivo, 5a. ed.), ou a de Paulo Hecker Filho, que reduziu o crítico à estatura de "um grande jornalista" (título de um artigo conservado, sem data nem nome da publicação, entre os papéis de Carpeaux nos Arquivos da Fundação Casa de Rui Barbosa). [N.E.]Voltar
- Se hoje muitos de seus textos parecem de leitura difícil pela quantidade de alusões a obras e autores desconhecidos, é porque já não existe um público medianamente culto como o de quatro décadas atrás. Massacrado sob as toneladas de insignificâncias que a indústria editorial lhe impinge, o leitor de hoje acaba não tendo tempo para formar uma idéia do passado literário mediante a leitura dos autores básicos — justamente aqueles cujo conhecimento era possível dar por pressuposto no leitor médio da época de Carpeaux. [N.E.] Voltar
- V. "A idéia de universidade e as idéias das classes médias". [N.E.] Voltar
- V. "Leviatã". [N.E.] Voltar
- V. no vol. III destes Ensaios Reunidos, "Agonia do liberalismo". [N.E.]Voltar
- Enquanto eu preparava esta edição, os fatos do dia se incumbiram de mostrar o quanto podia ser profético esse apreciador de profetas que foi Otto Maria Carpeaux: os acontecimentos da PUC-Rio, que analisei em A Longa Marcha da Vaca para o Brejo (Rio, Topbooks, 1998), ilustram da maneira mais eloqüente "A idéia de universidade e as idéias das classes médias". [N.E.] Voltar
- Rosenstock-Huessy, filósofo e historiador empenhado em resgatar o elemento divino nas origens da linguagem (em estreita colaboração com o filósofo judeu Franz Rosenzweig, autor de A Estrela da Redenção), foi um dos inspiradores dos Peace Corps norte-americanos, contra os quais Carpeaux viria depois a escrever alguns artigos, sem dar sinal de saber da participação que neles tivera o seu venerado mestre. No belo comentário que Carpeaux em 1942 consagra a seu livro Revoluções Européias, Rosenstock-Huessy é designado apenas como Rosenstock, pois só veio a adotar o sobrenome Huessy ao transferir-se para os EUA no final dessa década. [N.E.] Voltar
- V. "Solidão de Croce". [N.E.] Voltar
- "Tradição e tradicionalismo". [N.E.] Voltar
- Id. — E não é significativo que mais tarde se tenha instaurado mais uma inquisição sob o pretexto de democracia racial, condenando como racista quem quer que ouse afirmar, por exemplo, a superioridade do cristianismo sobre os cultos de tribos antropófagas? [N.E.] Voltar
- V. "A lição de uma santa". [N.E.] Voltar
- Compare-se, por exemplo, seu elogio a Charles Morgan no ensaio "A lição de uma santa" (1942) com a irritada má vontade com que em 1966 ele fala do romancista na História da Literatura Ocidental, VII, p. 3372. [N.E.] Voltar
- Ele chega a procurar enxergar uma "utopia cristã" na República Espanhola de 1931 —explicitamente condenada pelo Papa por fazer vista grossa à violência comunista contra a Igreja, que acabou resultando, nos anos seguintes, no massacre de 19 mil padres e freirasantes mesmo do início da Guerra Civil. V. "García Lorca", em Origens e Fins. — Diante disso perde toda eficácia a incomparável retórica da "Oração fúnebre por Charles Maurras", onde Carpeaux, falando como porta-voz do catolicismo, assume a defesa da ortodoxia romana, que para atender a pressões do setor "progressista" condenara a Action Française, movimento ultradireitista — mas não anticatólico — chefiado por Maurras. Pois afinal a Action Française não cometera violência nenhuma e o próprio Maurras jamais defendera sequer uma aliança com o nazismo; ao contrário, insistira na necessidade de rearmar a França contra o ataque germânico, que julgava iminente, enquanto os líderes do progressismo (Emmanuel Mounier, por exemplo) pregavam o desmonte do Exército francês e enxergavam em Hitler "as melhores intenções". Maurras depois colaborou com o governo de Vichy, mas, quando no pós-guerra os progressistas o acusaram de "traição", foi apenas para esconder por trás da acusação as suas próprias vergonhas, já que eles mesmos tinham fomentado um resultado ao qual Maurras não fizera senão conformar-se ex post facto. Carpeaux, ao assumir o dircurso progressista contra Maurras, provavelmente ignorava estes fatos, que só vieram a ser enfatizados muito depois (v. Lucien Thomas, L’Action Française devant l’Église de Pie X à Pie XII, Paris, Nouvelles Éditions Latines, 1965). [N.E.] Voltar
- "Visão de Graciliano Ramos", em Origens e Fins. [N.E.] Voltar
- Emprego aqui "forma" e "matéria" no sentido aristotélico, não na acepção vulgar de "forma e conteúdo". [N.E.] Voltar
- Estetica come Scienza dell’Espressione e Linguistica Generale, 11aedizione, Bari, Laterza, 1965, pp. 24-25. [N.E.] Voltar
- Erich Auerbach, Mimesis. The Representation of Reality in Western Literature, transl. by Willard Trask, New York, Doubleday, 1957. [N.E.] Voltar
- "Perspectivas da interpretação", em Livros na Mesa. [N.E.] Voltar
- Carpeaux não viveu o bastante para estudar em profundidade as novas tendências da crítica que se tornaram hegemônicas a partir da década de 70. (Apenas examinou de leve algumas idéias de Barthes e Lévi-Strauss num artigo publicado no Jornal do Brasil, "O tema é o estruturalismo" — v. o vol. III destes Ensaios Reunidos —, concluindo que a nova moda, nascida das desilusões da esquerda, era "um ópio dos intelectuais".) Mas creio que hoje subscreveria a opinião de Harold Bloom e René Girard, que reduzem essas tendências a sintomas de um ressentimento de acadêmicos medíocres contra a literatura criadora. V. Harold Bloom, The Western Canon: The Books and School of the Ages. New York: Harcourt Brace, 1994; René Girard, A Theater of Envy: William Shakespeare. New York: Oxford University Press, 1991; e Mathew Schneider, "Mimetic Polemicism: René Girard and Harold Bloom contra the ‘School of resentment’. A review essay", emAnthropoetics II, no 1 (June 1996). [N.E.] Voltar
- História da Literatura Ocidental, "Introdução", vol. I, p. 30 da 2a edição (Rio, Alhambra, 1978). [N.E.] Voltar
- "Obra-prima da literatura universal", em Livros na Mesa. [N.E.] Voltar
- V. História da Literatura Ocidental, pp. 34-36 da edição Alhambra. [N.E.] Voltar
- Outro injustiçado, outro homem nobre que sacrificou seu gênio e sua carreira literária ao jornalismo e à política de esquerda, para depois ser solenemente ignorado por imbecis presunçosos que não seriam dignos de lhe beijar os pés. Franklin escreveu a única coletânea de ensaios que pode ser comparada sem desvantagem às de Otto Maria Carpeaux: A Fantasia Exata. Ensaios de Literatura e Música (Rio, Zahar, 1959). Só o insubstituível José Mário Pereira tem feito algo por que não se perca o legado dessa grande alma e grande inteligência, editando por exemplo a "antologia crítica" A Dança das Letras (Rio, Topbooks, 1991). [N.E.]Voltar
- Thomas Mann, Doutor Fausto, trad. Herbert Caro, Rio, Nova Fronteira, 1984, p. 13. [N.E.] Voltar
- "Hofmannsthal e seu Gran Teatro del Mundo", em A Cinza do Purgatório.. [N.E.] Voltar
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