25/03/2011 - 11h03 Por Shirin Ebadi* |
Londres, março/2011 – Até há pouco, minha colega Nasrin Sotoudeh era a advogada que os defensores dos direitos humanos no Irã chamavam quando nosso governo nos hostilizava ou prendia.
Lamentavelmente, agora é Nasrin que está na prisão.
Qual seu crime? As acusações do governo incluem ter atuado contra a “segurança nacional”, ter feito “propaganda contra o Estado”, e integrar o Centro para a Defesa dos Direitos Humanos que criei em 2001. O governo também a acusa de não usar hijab, a vestimenta tradicional islâmica para as mulheres. Só por algumas dessas acusações foi condenada recentemente a 11 anos de prisão e proibida de exercer a advocacia por 20 anos.
Infelizmente, Nasfin não é a única vítima. Esta valente mulher de 45 anos, mãe de dois meninos, é uma das muitas pessoas que no Irã agora estão na mira e são castigadas – por defenderem os direitos dos demais.
Como sabemos pelo caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana condenada ao apedrejamento por supostamente ter cometido adultério, as mulheres são, com muita freqüência, o objeto preferido da cólera do regime. Porém, o que torna o caso de Nasrin especialmente importante é que apresenta uma questão fundamental para o futuro do Irã.
Se o regime iraniano não protege os direitos humanos de seus próprios cidadãos, quem pode assumir esta luta? E se os advogados que assumem a defesa dos que sofrem violações de seus direitos são impedidos de exercer seu trabalho, quem será, em última instância, o encarregado de assegurar que valores como os da igualdade e da justiça sejam protegidos no Irã?
Por que o governo tem tanto medo de Nasrin?
O governo quer impedir por todos os meios que uma mulher lance luz sobre a deplorável situação dos direitos humanos no Irã. A outra razão é que Nasrin demonstrou não ter medo de assumir a defesa em casos difíceis, que outros advogados evitaram cuidadosamente, e por isso ganhou o respeito de todo mundo. Ela assumiu a defesa do jornalista Isa Saharkhiz, de Heshmatollah Tabarzadi, líder da proibida Frente Democrática do Irã, e de Zahra Bahrami, uma holandesa-iraniana que participou dos protestos contra as fraudulentas eleições de 2009. Apesar da intervenção do governo holandês e de um apelo da União Europeia, Zahra foi executada, sem aviso prévio, no dia 29 de janeiro deste ano.
Nasrin foi minha advogada em uma denúncia que fiz contra o Kayhan, um jornal conservador que está sob controle do Supremo Líder do Irã, Ali Khamenei, e também me defendeu quando as autoridades sequestraram meus bens em 2009. Igualmente valente, Nasrin participou de casos que implicaram execuções de jovens. O Irã é um dos poucos países do mundo que ainda condena crianças à morte.
Poucos dias antes de sua prisão, as autoridades congelaram os bens de Nasrin e a convocaram ao escritório de arrecadação de impostos. Isto não a intimidou. Enquanto estava no escritório, comprovou que o governo realizava “investigações” semelhantes contra pelo menos 30 advogados e, valentemente, repassou essa informação à Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos exortou o governo iraniano a rever o caso de Nasrin e acelerar sua libertação, enquanto vários grupos internacionais de defesa dos direitos humanos, incluindo Anistia Internacional e Human Rights Watch, pedem sua libertação.
Alguns países estão atualmente reclamando que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adote uma resolução para criar um mandato sobre o Irã, com um investigador especial independente para abrir um processo sobre os muitos abusos contra os direitos humanos ali cometidos. Essa iniciativa é animadora, mas é preciso que outros países a apoiem para alcançar a maioria necessária dentro do Conselho.
Já que no Irã se prende quem exige a inviolabilidade dos direitos humanos, devemos intensificar os esforços para garantir a vigência da justiça e da igualdade. Uma ação internacional concreta para fazer com que o povo iraniano saiba que o mundo se preocupa com a grave situação dos direitos humanos em seu país poderia ser, em minha opinião, o melhor modo para homenagear minha colega Nasrin.
Não devemos permitir que sua voz seja silenciada. Envolverde/IPS
*Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz em 2003, é cofundadora da Iniciativa das Mulheres Prêmio Nobel (WNI), http://www.nobelwomensinitiative.org.
Lamentavelmente, agora é Nasrin que está na prisão.
Qual seu crime? As acusações do governo incluem ter atuado contra a “segurança nacional”, ter feito “propaganda contra o Estado”, e integrar o Centro para a Defesa dos Direitos Humanos que criei em 2001. O governo também a acusa de não usar hijab, a vestimenta tradicional islâmica para as mulheres. Só por algumas dessas acusações foi condenada recentemente a 11 anos de prisão e proibida de exercer a advocacia por 20 anos.
Infelizmente, Nasfin não é a única vítima. Esta valente mulher de 45 anos, mãe de dois meninos, é uma das muitas pessoas que no Irã agora estão na mira e são castigadas – por defenderem os direitos dos demais.
Como sabemos pelo caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana condenada ao apedrejamento por supostamente ter cometido adultério, as mulheres são, com muita freqüência, o objeto preferido da cólera do regime. Porém, o que torna o caso de Nasrin especialmente importante é que apresenta uma questão fundamental para o futuro do Irã.
Se o regime iraniano não protege os direitos humanos de seus próprios cidadãos, quem pode assumir esta luta? E se os advogados que assumem a defesa dos que sofrem violações de seus direitos são impedidos de exercer seu trabalho, quem será, em última instância, o encarregado de assegurar que valores como os da igualdade e da justiça sejam protegidos no Irã?
Por que o governo tem tanto medo de Nasrin?
O governo quer impedir por todos os meios que uma mulher lance luz sobre a deplorável situação dos direitos humanos no Irã. A outra razão é que Nasrin demonstrou não ter medo de assumir a defesa em casos difíceis, que outros advogados evitaram cuidadosamente, e por isso ganhou o respeito de todo mundo. Ela assumiu a defesa do jornalista Isa Saharkhiz, de Heshmatollah Tabarzadi, líder da proibida Frente Democrática do Irã, e de Zahra Bahrami, uma holandesa-iraniana que participou dos protestos contra as fraudulentas eleições de 2009. Apesar da intervenção do governo holandês e de um apelo da União Europeia, Zahra foi executada, sem aviso prévio, no dia 29 de janeiro deste ano.
Nasrin foi minha advogada em uma denúncia que fiz contra o Kayhan, um jornal conservador que está sob controle do Supremo Líder do Irã, Ali Khamenei, e também me defendeu quando as autoridades sequestraram meus bens em 2009. Igualmente valente, Nasrin participou de casos que implicaram execuções de jovens. O Irã é um dos poucos países do mundo que ainda condena crianças à morte.
Poucos dias antes de sua prisão, as autoridades congelaram os bens de Nasrin e a convocaram ao escritório de arrecadação de impostos. Isto não a intimidou. Enquanto estava no escritório, comprovou que o governo realizava “investigações” semelhantes contra pelo menos 30 advogados e, valentemente, repassou essa informação à Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos exortou o governo iraniano a rever o caso de Nasrin e acelerar sua libertação, enquanto vários grupos internacionais de defesa dos direitos humanos, incluindo Anistia Internacional e Human Rights Watch, pedem sua libertação.
Alguns países estão atualmente reclamando que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adote uma resolução para criar um mandato sobre o Irã, com um investigador especial independente para abrir um processo sobre os muitos abusos contra os direitos humanos ali cometidos. Essa iniciativa é animadora, mas é preciso que outros países a apoiem para alcançar a maioria necessária dentro do Conselho.
Já que no Irã se prende quem exige a inviolabilidade dos direitos humanos, devemos intensificar os esforços para garantir a vigência da justiça e da igualdade. Uma ação internacional concreta para fazer com que o povo iraniano saiba que o mundo se preocupa com a grave situação dos direitos humanos em seu país poderia ser, em minha opinião, o melhor modo para homenagear minha colega Nasrin.
Não devemos permitir que sua voz seja silenciada. Envolverde/IPS
*Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz em 2003, é cofundadora da Iniciativa das Mulheres Prêmio Nobel (WNI), http://www.nobelwomensinitiative.org.
(IPS/Envolverde)
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