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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O LADO CERTO e O relativismo moral de Padilha e Mantovani

NIVALDO CORDEIRO



nivaldocordeiro | 8 de dezembro de 2010 
Ontem a noite tivemos o lançamento do mais recente número da revista Dicta&Contradicta, no auditório da Livraria Cultura da Avenida Paulista, aqui em São Paulo, com a presença de José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite, bem como do roteirista Bráulio Mantovani. Tive a oportunidade de dizer à dupla da minha admiração pelos filmes, uma verdadeira obra prima. O caráter cronístico de ambos permitiu que, a despeito dos preconceitos intelectuais e morais dos realizadores o filme mostrasse o real. Certamente é esse caráter realístico e cronîstico que tem encantado o grande público, que não se cansa de elogiar e se identificar com seus principais personagens. Eu disse ao Padilha que seu relativismo moral, que identifica policial e bandido, avilta a grandeza de sua obra prima. De qualquer modo foi um evento memorável. Não é todo dia que podemos ter contato que gente tão talentosa como eles são.




O LADO CERTO
02/12/2010

Li com atenção a entrevista de Luiz Eduardo Soares dada à
 
Folha de São Paulo. Fez-me pensar. Ele é o um dos co-autores do livro que foi base para o filme TROPA DE ELITE. Supostamente tem autoridade para falar do assunto de Segurança Pública, pois exerceu cargos na área, tanto no Rio de Janeiro como no plano Federal. Apesar de todas as credenciais Luiz Eduardo Soares na entrevista demonstra uma grande confusão moral e chega mesmo a identificar o crime com as forças da ordem, onde tudo está misturado. Como alguém tão confuso assim pôde trabalhar num roteiro tão sensacional? Obra coletiva esconde às vezes as carências individuais.

Vimos pela televisão que a paz nos morros depende da presença esmagadora das forças da ordem estatais. Não tem meios termos: ou mandam os bandidos ou o Estado. Se os bandidos ficam fortes a ponto de desafiarem seriamente a ordem estatal então a guerra civil se instala, como vimos na Colômbia, vítima das FARC. E estamos a ver no México, onde uma miríade de organizações criminosas tem matado muita gente, usando armamento de guerra e desafiando as autoridades constituídas.

O fato de haver polícia de um lado e bandidos do outro mostra que não dá para confundir. “Polícia é polícia, bandido é bandido”, já declarou um antigo profissional do crime, consagrado nas telas do cinema no filme LÚCIO FLÁVIO. Todos os comentaristas que leio sobre o assunto da violência do tráfico no Rio de Janeiro responsabilizam o governo de Leonel Brizola por abandonar os morros à própria sorte, retirando as forças policiais e entregando territórios livres aos traficantes, que desde então fizeram o que bem quiseram. E desde Brizola nenhum outro governador ousou impor a autoridade do Estado nesses territórios. A exceção veio na semana passada em resposta à insolente ação de desafio guerrilheiro que fizeram, pondo fogo em veículos particulares para “protestar” contra a nova política de segurança de Sergio Cabral.

O argumento de que a corrupção policial é tão podre que torna os policiais bandidos iguais aos outros não se sustenta. Vimos que um comando do governador foi o suficiente para que centenas de traficantes pés de chinelo saíssem do seu covil correndo, entregando o território que haviam usurpado. Alguém pode até argüir que a fuga foi um ato de fraqueza das forças da ordem e mesmo de conivência. Autoridades talvez não quisessem a destruição total do Comando Vermelho. Ainda assim não se pode confudir o certo e o errado, o bem com o mal. As forças da ordem, ainda que se desviem, são as representantes do bem; os traficantes, ainda que façam benemerências e instituam uma ordem “justa”, precária que seja, são os representantes do mal.

A morte de Tim Lopes em uma fogueira medieval dá o grau de agudeza do limite a que esse mal pode chegar. Seu sacrifício nos lembra dolorosamente que o mal é sempre mal, mesmo que queira se travestir de bem.

Com o Estado agindo o negócio das drogas, como ele sugere, jamais ficará bem. É ilusão achar que traficantes vendam sua mortífera mercadoria dispensando a violência. Nem posto de gasolina, com proteção policial e judicial escapa a assaltos esporádicos, o que dirá uma mercadoria que é por natureza contrabandeada e traficada contra as leis e portadora de elevado valor agregado. Sem força armada própria, mínima que seja, o tráfico não se sustenta.

Luiz Eduardo Soares declarou: “A primeira medida fundamental é fazer com que a polícia pare de participar do tráfico”.  Para que policiais corruptos (e não toda a polícia, como sugere ele) parem de participar do tráfico urge que o trafico seja suprimido. Não se pode aceitar a hipótese de que esse fato não é alcançável. A fuga de centenas de malandros traficantes em pés de chinelo, portando seus fuzis, mostrou que são frágeis, não têm força militar para confrontar o Estado quando as autoridades têm disposição política. Subentende-se nessa confusão moral e analítica do entrevistado que a polícia como instituição é a responsável pelo tráfico. Não é.

Se há um poder político patrocinando o tráfico este está acima da polícia e mesmo das Forças Armadas. Bem sabemos das ligações do PT e de outros partidos de esquerda, no âmbito do Foro de São Paulo, com o crime organizado e com os donos da produção de cocaína na América do Sul, as FARC. Vimos os documentos que comprovam até o envolvimento eleitoral do dinheiro sujo do narcotráfico, e não apenas no Brasil. Mesmo assim Lula teve que assinar a ordem autorizando que as Forças Armadas dessem suporte aos policiais cariocas para subir o morro. A grande surpresa é que a população aplaudiu e pediu bis. O problema dessas ligações com as esferas políticas superiores não está no traficante que habita o meio urbano consumidor de tóxicos, está na liberação das fronteiras, no amparo político às fontes produtoras desde fora do Brasil, está na associação com governantes delinqüentes como Hugo Chávez, que hoje tornou a Venezuela um santuário para os chefões das FARC.

Luiz Eduardo Soares não tem uma palavra para falar disso, da corrupção em larga escala no poder político federal, que pôs o Itamaraty a serviço dos Estados delinqüentes e castrou o comando das Forças Armadas, que vêem impotentes os acontecimentos se desenrolarem. Não é a corrupção rasteira dos policiais que dá força ao tráfico. Uma única voz de comando acaba com qualquer “arrego” dos meganhas menores. Mas como acabar com a força de Marco Aurélio Garcia e de Gilberto Carvalho? E mesmo de Lula e de Dilma Rousseff? E de todo o PT e seus aliados?

Penso que os acontecidos na semana passada no Rio de Janeiro se deveram ao fato dos pequenos traficantes acharem que tinham força para afrontar a ordem estabelecida, que está fundada a despeito inclusive da vontade dos controladores do governo federal. É a força viva da Nação, que reagiu. O que vimos é que os brasileiros descobriram que têm polícia e que “seu” Exército ainda está aí, junto com a Marinha e a Aeronáutica. São forças dormentes, mas que permanecem potentes. Como o povo permanece. Nossa gente felizmente não faz a confusão mental de Luiz Eduardo Soares. Para ela, bandido é bandido e polícia é polícia e se bandidos exorbitam o Estado deve descer o sarrafo nos vagabundos.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".