Tradução: A. Montenegro
ÊXODO SILENCIADO
Por José Luis Restán
Com quatrocentos dólares de esmola do governo e uma trouxa com os pertences essenciais, talvez uma lembraça mais querida. Engolindo as lágrimas por uma história secular que fica para trás. Assim caminham 500 famílias cristãs iraquianas ara uma região autônoma do Kurdistão, onde as autoridades prometeram protegê-las. Fecharam suas casas nos bairros outrora cheios de vida em Bagda e em Mosul, onde seus antepassados viveram dores e alegrias durante gerações, construiram e conviveram com os vizinhos, conservando intacta a fé recebida de mãos apostólicas.
Não acredito que Hollywood faça um filme, para que o mundo saiba desta história amarga e heróica. O mundo global ficou cego e surdo à injustiça que padecem as vítimas deste êxodo sem foco, sem primeiros planos. É verdade que há umas duas semanas, foram lembrados no Parlamento Europeu , graças à tenacidade de deputados como Mario Mauro e Jaime Mayor Oreja, mas isto é pouco, muito pouco para enfrentar esta tragédia que incomoda os muçulmanos moderados, escanteia os norte-americanos e sua falida experiência de democratizar a antiga Babilônia. Que enlameia os progressistas ocidentais tão atentos na denúncia de islamofobias e a empurrar os cristãos para aos acostamentos empoeirados da vida pública europeia.
No silêncio da noite desta Segunda-feira, um casal de velhos cristãos foi assassinado no bairro de Baladiyat, em Bagda. Os pistoleiros entraram na pobre casa e os mataram como cães. Eram cristãos e não haviam abandonado sua casa. Eram cristãos que falavam no idioma árabe. A pele morena não deixa dúvidas. Eram da terra, daquela terra doce e dura, regada pelos rios Tigre e Eufrates, terra de aromas e cantos misteriosos, terra das primeiras gerações de discípulos de Jesus. Os malvados não queriam matar somente o casal de velhinhos, queriam matar a história e talvez possam conseguir durante um tempo. Porque não está escrito que alí no Iraque, como em outras partes da terra, esta presença estranha dos cristãos, que incomoda tanta gente em Madri, Barcelona, Londres ou Berlim, vá sobreviver.
Por que os que decretam a expulsão de cristãos da Universidade, que lutam para retirar os crucifixos das encruzilhadas dos nossos povoados, que proibem presépios em nossas escolas, iriam preocupar-se com aqueles velhinhos assassinados no Iraque? Por que os Papas de 68, que decretaram a Tradição cristã inimiga da modernida e do progresso, teriam de comover-se? Este silêncio espesso e culpado é natural. Porque aquelas 500 famílias que deixaram para trás suas casas, escolas e igrejas, somos também nós, os católicos do ocidente.
É impossível não lembrar o inefável ex-ministro Moratinos, desfraldando na Europa, a bandeira da anti-islamofobia. Quantos bilhões de euros, quanta energia diplomática, quantos congressos para denunciar e debater sobre estes fantasmas. Mas nem uma palavra piedosa sobre os cristãos com traços árabes, sobre estes filhos de uma história que é a nossa e que agora deixamos vagar no deserto, em direção a local no desconhecido Kurdistão iraquiano. Poderão começar de novo? Quem sabe.
Diante das preocupações do mundo, isto é insignificante (peanuts). Falar daquelas 500 famílias enquanto os mercados financeiros pegam fogo, enquanto a Coréia do Norte ameaça com uma guerra nuclear, enquanto a greve continua e são reduzidas as prestações do nosso antigo bem estar... Entretanto nosso futuro tem tudo a ver com a sorte deste exodo desconhecido dos grandes Fóruns. Porque se os cristãos desaparecem do Oriente Médio, pagaremos muito caro. Pagarão todos os países muçulmanos sobre os quais recai uma crise de proporções brutais. Pagará a segurança deste ocidente cético e desligado de sua propria raiz, esta raiz que tem abominado em grande medida. Haveremos de utilizar toda a nossa energia, meios econômicos, relações políticas, alianças, para proteger a vida de nossos irmãos e acompanhar seu futuro. Devemos fazê-lo sem descanso. Mas falta dizer uma coisa.
Era uma vez uma noite assim. Uma noite desconhecida para os poderes deste mundo, quando um casal saiu às escondidas do vilarejo de Belém, com uma criança no lombo de um burrico, rumo ao Egito, para contornar o decreto real que estabelecia sua eliminação. Naquele tempo ninguem daria um tostão pela sorte daquela família, como ninguém o faz hoje pelos nossos irmãos do Iraque. Mas a história do mundo mudou graças àquela família que parecia insignificante, porque existe um amor e um poder sobre a face da terra, que excede as equações dos políticos e da mídia. Um amor e um poder que muitas vezes não entendemos e que se vale do desarmado e do pequeno, para realizar seu designio.
É preciso lembrar a prodigiosa meditação de Bento XVI no começo do Sínodo sobre o Oriente Médio: "a transformação do mundo, o conhecimento do verdadeiro Deus, a perda de poder das forças que dominam a terra é um processo doloroso... é o processo da transformação do mundo que custa o sangue e o sofrimento dos testemunhos de Cristo. E se olharmos bem, vemos que este processo não acaba nunca. Se manifesta em diversos períodos da história, com formas sempre novas. Hoje também, no momento em que Cristo, o único filho de Deus, deve nascer para o mundo, com a queda dos deuses, com a dor e o martírio das testemunhas".
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