17 de março de 2010
Don Feder
Não vou tratar do espetáculo de aberrações libertárias que a Conferência de Ação Política Conservadora (CAPC) se tornou. (“Olha a senhora barbuda promovendo gays nas forças armadas e conduzindo a guerra contra o terrorismo do jeito que os franceses lutaram na 2ª Guerra Mundial.”)
Minha intenção não é condenar o parlamentar Ron Paul — que representa para o debate político sério o que uma comédia de televisão representa para uma pesquisa filosófica.
Não vou também abordar as tentativas de Grover Norquist de tornar o movimento conservador amistoso para com a guerra santa dos islâmicos. Norquist — que é membro da diretoria da União Conservadora Americana, a organização que criou a CAPC — é padrinho do Instituto de Mercado Livre Islâmico, que no passado era um dos patrocinadores da CAPC. (Será que eles cortam nossos impostos antes ou depois de cortar nossa cabeça?)
Meu propósito é usar esses exemplos para mostrar a ignorância e a ilusão generalizada com relação a uma palavra — e é uma palavra cuja compreensão correta é essencial para a sobrevivência dos EUA — conservador.
Só o conservadorismo poderá fazer com que os EUA recuem do abismo iminente: o pesadelo do socialismo, do entreguismo, do multiculturalismo, da ciência fraudulenta e da sodomia como liberdade civil — sodomia na qual o atual presidente dos EUA está determinado a nos atirar.
Mas as imitações de conservadores que entram na batalha armados com as teorias da esquerda não conseguirão conservar nada. A CAPC de 2010 mostra a desesperança do conservadorismo de lanchonete (pegue um pouco disso e um pouco daquilo e deixe de fora o que você não quer).
GOProud, um grupo de republicanos homossexuais, se orgulhou de ser um dos patrocinadores da CAPC neste ano. Como é que um conservadorismo baseado na lei natural pode acolher atos antinaturais em seu meio?
GOProud é prova viva de quantos jovens “conservadores” se deixarão seduzir por qualquer coisa que venha embrulhada no slogan da liberdade. Mas a liberdade não é um valor absoluto. (Aqueles que não conseguem imaginar nenhum valor mais elevado estão com sérios problemas de falta de imaginação.) Deixando isso de lado, os ativistas da liberação homossexual buscam poder sobre o resto de nós.
A essência da agenda gay é a participação forçada, ridicularizando a soberania popular.
Só dá para se concretizar a tentativa de desconstruir o casamento por meio de juízes ideológicos. Atualmente, 41 estados definem o casamento como a união de um homem e uma mulher — a maioria dessas leis foi decidida pelo voto do povo. O tão chamado casamento gay é uma tentativa da elite de alterar de forma radical uma instituição que é fundamento da sociedade e ao mesmo tempo ignorar os desejos expressos de maiorias esmagadoras.
A essência dos direitos gays é doutrinar nossos filhos em condutas que fariam um médico especialista em doenças do ânus ficar engasgado. Sua essência é criminalizar opiniões divergentes por meio de leis de crimes de ódio e leis limitando o que pode e não poder ser dito. É uma agressão frontal à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. É liberdade só no sentido de que matar bebês em gestação é direito de escolher.
Por falar em atos antinaturais, Ron Paul venceu a eleição presidencial informal da CAPC, com 31% dos votos. Sem dúvida, só um quarto dos estimados 10.000 participantes votaram. Contudo, Paul foi o favorito indiscutível daqueles que se importaram o bastante para votar. Seus lacaios — lésbicas e prostitutas nazistas sequestradas por alienígenas e forçadas a falar sobre abolir o governo federal — estavam em toda parte.
Ron (que é conhecido por dizer que quem provocou o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 foram os próprios Estados Unidos) — agora há um modelo para os conservadores jovens imitarem. O parlamentar de uma remotíssima galáxia crê que a legalização da heroína, cocaína e prostituição é coerente com os princípios da fundação dos EUA, conforme ele explicou numa entrevista para John Stossel da TV ABC.
Paul, que é uma espécie de Jeremiah Wright com deficiência de melanina, crê que o ataque ao World Trade Center foi uma consequência negativa das políticas americanas no Oriente Médio. Como é que ousamos negar aos islâmicos sua rica herança — matar infiéis, escravizar mulheres e propagar sua religião por meio da espada?
Paul também crê que Israel criou o Hamas, e que a Guerra Fria foi um conflito desnecessário alimentado pela paranóia. Falta-lhe ainda dizer se foi Winston Churchill quem inventou a blitzkrieg.
Fico aqui imaginando o que foi que os EUA fizeram para incitar os muçulmanos a conquistar Constantinopla em 1453, a ocupar a Grécia e os Bálcãs, a subjugar a Espanha por quase 500 anos, a perseguir cristãos coptas e outras minorias religiosas e a promover massacres de judeus que varreram a Palestina nas décadas de 1920 e 1930. Mas tenho certeza de que Paul conseguiria nos dar um resumo.
Desde seu início no sétimo século, o islamismo tem sido a versão árabe das máfias de assassinos profissionais — mas sempre há os infiéis úteis prontos para jogar sobre os EUA a culpa de todos os atos islâmicos de livre expressão.
A conferência da CAPC incluiu também vozes de criaturas humanas que não padeciam de apatia e paralisia cerebral. Marco Rubio, candidato ao Senado da Flórida, observou de forma convincente: “Permitam-me ser claro acerca de algo. Esses terroristas não estão tentando nos matar porque os ofendemos. Eles nos atacam porque querem impor sua visão do mundo em tantas pessoas quantas puderem, e os EUA estão no caminho deles”. Os americanos que estão no caminho deles se chamam conservadores.
Então, o que é um conservador? Você não achará a resposta na conferência da CAPC de 2010, que teve uma reunião intitulada “Mentiram para você: Por que os conservadores genuínos são contra a guerra contra o terrorismo”. (Isso faria de Michael Moore, George Soros e Cindy Sheehan conservadores genuínos.) Outro debate de grande “interesse” foi anunciado como — “A segurança (como na segurança nacional) leva a melhor sobre a liberdade?” (Mas como é que dá para se ter liberdade sem segurança?) — e apresentou Bob Barr, ex-parlamentar e atual simpatizante da organização esquerdista ACLU.
Vamos começar explicando o que não é um conservador:
* Um conservador não é um libertário. Um conservador valoriza a liberdade (liberdade individual); um libertário presta culto a ela como se fosse uma divindade. O único valor político que o libertário reconhece é a liberdade. O libertário é o utopista da direita. A utopia da esquerda é um governo que inclui tudo. A utopia do libertário é um governo que não existe — ou quase isso. A esquerda crê que as pessoas são anjos corrompidos pelo capitalismo. O libertário crê que as pessoas são anjos corrompidos pelo Estado. O conservador crê que os seres humanos são imperfeitos — daí, são corruptíveis.
* Um conservador não é um embriagado de direitos. Ele crê em direitos sob o equilíbrio de responsabilidades. Ele sabe que o conceito de direitos sofre muitos abusos — por exemplo, o direito de uma mulher matar seu bebê em gestação, o direito de homossexuais servirem assumidamente nas forças armadas. Quando foi que o serviço militar se tornou um direito, em vez de um dever? Um cidadão idoso tem o direito de se alistar nos fuzileiros navais?
* Os conservadores e esquerdistas crêem em direitos, mas aplicam esse conceito de forma diferente. Os conservadores querem que você tenha o direito de criar e educar seus filhos, cuidar de seu negócio, expressar suas opiniões e dispor da maior parte de sua renda. A esquerda quer lhe dar o direito de cometer suicídio, usar drogas (o que na essência é a mesma coisa) e pegar uma doença de uma prostituta. Os direitos defendidos pelos conservadores apelam de forma absoluta para a maior parte da população. Os valores defendidos pelos esquerdistas apelam de modo geral para os viciados, os Tiger Woods e aqueles que estão em busca de uma escapatória da própria existência.
* Um conservador não é reflexivamente anti-governo — ele não odeia o governo. Um conservador crê que o governo é necessário. Limitado às suas devidas funções, o governo não é um mal necessário, mas um bem inegável. Quem dirá que foi errado o governo federal lutar para libertar os escravos — ou que foi errado os EUA destruírem a Alemanha nazista e acabarem com o Holocausto? Somente quando ultrapassa suas devidas funções, o governo se torna aquilo que foi criado para coibir — assassinato, roubo e outras formas de agressão.
* No entanto, um conservador é cético com relação ao governo em sua formação atual. Quando uma república se torna um regime — quando confisca 40% dos ganhos da nação, quando regulamenta os empreendimentos comerciais ao mínimo detalhe, quando estatiza indústrias inteiras com a desculpa de salvá-las, quando aleija a produtividade para deter um mito (aquecimento global), quando hipoteca o futuro para comprar votos no presente, quando a redistribuição de riquezas substitui os valores originais dos EUA?
* Um conservador não diz: “Sou conservador nas questões econômicas, mas nas questões sociais sou moderado”. Um conservador aplica princípios fundamentais de forma coerente. Ele entende que um político que não quer defender os bebês em gestação, o casamento ou a família acabará traindo o livre mercado e o governo limitado também — daí, esse é o motivo por que o senador Arlen Specter abandonou o Partido Republicano e passou para o Partido Democrata.
* Um conservador não presta culto aos indicadores da Bolsa de Valores. Ele compreende que a liberdade e o livre mercado dependem de um alicerce moral — que não dá para se sustentar uma economia saudável sem famílias saudáveis.
* Um conservador não é nem isolacionista nem intervencionista. Ele não anseia aventuras militares nem evita ações militares limitadas hoje para prevenir uma guerra de escala total no futuro. Um conservador crê no uso de força militar quando necessário, em busca dos justos interesses nacionais dos EUA.
* Um conservador não é John McCain, que traiu a direita regularmente durante 20 anos para ganhar os aplausos da grande imprensa, que o honrava com o elogio de “político independente”. Outros que também não são conservadores são Pat Buchanan (que acha que o Terceiro Reich foi mal entendido), Ron Paul, Newt Gingrich (que crê que um conservador tem de ter fé cega e aprovar automaticamente toda besteira que o Partido Republicano oferece para cargos públicos), o falecido William F. Buckley Jr. (que se escondeu atrás de um labirinto de afirmações a fim de evitar assumir posições que pudessem indispô-lo com seus amigos da elite) e David Brooks (o conservador criado na estufa do jornal esquerdista The New York Times) cujas colunas sobre Obama durante a campanha de 2008 pareciam anotações de flerte de uma fã na época do cio.
Ao explicar o autêntico conservadorismo, minha experiência é de certa forma mais ampla e profunda do que da maioria dos apresentadores de programas de entrevistas ou palestrantes da CAPC.
Uni-me a um grupo de estudantes que faziam campanha eleitoral para o candidato presidencial Goldwater em 1963. Fui líder da organização Jovens Americanos pela Liberdade quando era a única oposição eficaz contra a Nova Esquerda, um movimento político radical ativo nas universidades. De 1966 a 1972, lutei contra infames selvagens na Universidade de Boston.
De 1976 a 1979, fui o primeiro diretor executivo da organização Cidadãos em favor de Impostos Limitados, a filial em Massachusetts do movimento nacional de revolta contra os impostos. Fui diretor executivo da Fundação da Segunda Emenda por dois anos, e colunista do jornal Boston Herald por quase duas décadas (1983-2002). Estou atualmente lutando a guerra em muitas frentes, inclusive como escritor independente e diretor de comunicações do Congresso Mundial de Famílias.
Contudo, só comecei a compreender o conservadorismo depois de ler os livros “The Conservative Mind” (A Mente Conservadora), de Russell Kirk, e “Witness” (A Testemunha), de Whittaker Chambers, no final da década de 1970. Conforme explicou Kirk, diferente do liberalismo (que se transformou em esquerdismo), o conservadorismo não é um dogma, mas uma filosofia prática baseada num conjunto de princípios.
* Um conservador defende o governo constitucional. Ao interpretar a Constituição, ele crê na intenção original dos fundadores dos EUA, e abomina juízes que usam a Constituição como desculpa para remodelar a sociedade. O conservador crê que a Constituição dos EUA é o melhor método já idealizado para governar um povo livre. Ele também compreende que o espírito da Constituição tem como base a grandeza da civilização ocidental — que a Constituição é baseada nas experiências políticas da humanidade durante mais de dois milênios, começando de Jerusalém e passando por Atenas, Roma e Londres. Essas são as lições que a História pede que aprendamos.
* Um conservador sabe que a civilização ocidental tem como fundamento a fé. Tentar divorciar o conservadorismo da Bíblia é como tentar respirar sem ar.
* Um conservador compreende que cada geração não confronta um mundo criado de novo, mas em vez disso o mesmo velho mundo vestido nos modismos da hora. Excetuando os progressos tecnológicos e a rotação da sociedade de uma moda à outra, o mundo não muda, pois a humanidade não muda. A sabedoria de nossos ancestrais é o melhor guia para os que estão confusos.
* Um conservador celebra os EUA — sua história, herança e heróis. Ele é um patriota, não um nacionalista. Nacionalismo é lealdade cega que muitas vezes acaba em extremismo. O patriotismo é uma opinião consciente. Para os americanos, é reconhecer nossa grandeza nacional — que durante os 234 anos passados, os EUA têm sido um refúgio para seu povo e uma bênção para a humanidade.
* Um conservador defende nossa soberania, nossa língua e nossa cultura. Isso faz dele um defensor da segurança nas fronteiras e da língua inglesa, e um oponente do multiculturalismo, bilingüismo e políticas de identidade.
* O conservadorismo tem três colunas de sustentação — fé, família e liberdade. Tire qualquer uma e a estrutura se desmorona. A fé legitima a família ao baseá-la na eternidade. A família ensina as lições morais que possibilitam uma sociedade livre. Combinada com integridade moral, a liberdade cria o clima em que a fé e a família poderão florescer.
* O conservador não é um escapista, que evita enfrentar a situações desconfortáveis ou difíceis. Ele entende que há forças poderosas atuando no mundo — forças que desprezam o modo de vida americano e querem destruí-lo. Entre as maiores glórias dos EUA está que os EUA confrontaram e venceram tais ameaças duas vezes no século XX — ao vencerem o nazismo na 2ª Guerra Mundial e o comunismo na Guerra Fria. Agora, a ameaça é um islamismo expansionista cujas armas são o terrorismo e a subversão. O conservador entende que manter os EUA livres exige vigilância e sacrifício.
* Um conservador crê que a cultura é importante — que os meios de comunicação (notícia e entretenimento) e a educação informam as percepções, principalmente dos jovens. Quem controla a cultura controla o futuro. A grande tragédia dos séculos XX e XXI é que, embora a direita tenha ganhado vitórias políticas, a esquerda ganhou vitórias culturais que raramente dá para se reverter — se é que isso é possível.
* Um conservador crê na sociedade moralmente integra tanto quanto na sociedade livre — que sem integridade moral, os EUA não conseguirão permanecer firmes. Os fundadores dos EUA criam que as pessoas que são escravas de suas paixões carnais não demorarão em se tornar escravas dos outros.
* Um conservador despreza a veneração à igualdade, que sustenta que tudo é tão bom quanto tudo o mais (com a exceção dos brancos do sexo masculino) — que nenhum código moral, estilo de vida, sistema econômico ou político ou religião é melhor do que qualquer outra. Dá para se ver a estupidez dessa doutrina quando apresentamos as seguintes perguntas aos seus adeptos: Onde é que você preferiria passar os próximos cinco anos de sua vida — num arranha-céu de Manhattan, numa aldeia de Ruanda, num barraco em Gaza ou num campo de trabalhos forçados na Coreia do Norte? Quem você gostaria de ter como vizinho: um judeu religioso, um católico tradicional, um evangélico conservador, um satanista ou um muçulmano xiita?
* Um conservador confronta a realidade. Ele vê o mundo não como ele deseja que fosse, mas como é. Isso o diferencia do liberal/esquerdista e do libertário. A esquerda confronta a realidade do jeito que Neville Chamberlain confrontou Hitler em Munique, do jeito que Jimmy Carter confrontou o imperialismo soviético durante sua presidência lamentável e do jeito que Barack Obama confronta o desemprego elevado e os mega-déficits. Os escapistas agem como o avestruz: pegam a cabeça e enfiam na areia.
Com a exceção de algumas palestras magníficas de gente como Ann Coulter, Jim DeMint e Glenn Beck, a realidade não foi bem vinda na Conferência de Ação Política Conservadora de 2010. Anualmente, aumenta o número de pessoas que vão à conferência da CAPC, a União Conservadora Americana se beneficia do lucrativo negócio e o significado de tudo vai se perdendo cada vez mais. Não seria tão ruim se mudassem o nome para Conferência de Ação Libertária, Isolacionista, Islâmica e Homoerótica e Dia de Agradecimento ao Ativista Homossexual Harvey Milk.
Don Feder era colunista do jornal Boston Herald e agora é consultor na área de política e comunicação. Ele também mantém seu próprio site: www.donfeder.com
Fonte: GrassTopsUSA
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