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segunda-feira, 15 de março de 2010

Caveat Emptor! ou Na Ditadura dos Especialistas

Fonte: LIBERTATUM

QUARTA-FEIRA, MARÇO 10, 2010



Por Klauber Cristofen Pires

Certa vez, não há muito tempo, recebi um e-mail de um inconformado leitor, a respeito da minha opinião sobre o avanço do burocratismo estatal sobre a sociedade, manifestado em um artigo em que fazia denúncias sobre certas preciosidades que têm sido praticadas pela Anvisa, como, por exemplo, proibir ou restringir o uso de personagens infantis em caixas de cereais ou a transmissão de reclames televisivos durante certos horários que façam a propaganda de alimentos considerados como “gordos” ou “não-nutritivos”.

Meu invectivo crítico, que se apresentou como farmacêutico formado e estudante de medicina, mas que mal e porcamente soube redigir a sua missiva em vernáculo decente, deslanchava-se em toscas ironias contra a minha pessoa, por meio da qual acusava-me esquizofrênico, por alegadamente opinar sobre o que (eu) não sabia.

Peço o perdão aos leitores pela abundância em recorrer à Gramática para definir o típico sedizente “especialista” que não sabe usar crases, mistura a segunda e a terceira pessoa no discurso e que, embasado em seus pretensos conhecimentos, aconselha-me a assistir “Sicko”...de quem? Michael Moore!

Sem nos atermos ao caso específico, porque não vale mesmo a pena, recorro a este exemplo somente para fazer dele um estudo de caso quanto ao argumento da reivindicação de competência para os “especialistas”.

Se quisermos começar por uma percorrida empírica, haveremos de constatar que a história brasileira é o próprio retrato de uma nação conduzida por especialistas: nossa educação tem sido formatada há setenta anos por uma cadeia de educadores escalados em diferentes graus hierárquicos da máquina estatal, e tudo o que conseguimos até aqui foi conquistar o título de país mais burro do mundo. Podemos dizer o mesmo da saúde e da segurança; dos sucessivos economistas, com suas fórmulas excêntricas, que só serviram para mascarar péssimas gestões dos sucessivos governantes e que nos trouxeram de tudo, desde a hiperinflação até o confisco da poupança e do boi no pasto; dos tributaristas, que conseguiram transformar nosso sistema tributário em um indecifrável pesadelo; dos juristas, que produziram o maior cipoal de “direitos” desprovidos de deveres até hoje conhecido; e até mesmo da produção tecnológica (quem se lembra da desastrosa lei de proteção ao mercado da informática?).

Não há simplesmente nada que os “especialistas” não tenham reclamado que não tenham sido atendidos com carta-branca, ou melhor, com cheque em branco. Porém, o nosso país só tem patinado em suas mãos... Por quê?

Como teria dito Mary Bennet Petterson (1): “Caveat vendor”! Eis a fórmula do nosso insucesso; eis o motivo porque uma sociedade regulada até os mínimos detalhes sob os carimbos de uma miríade de órgãos de especialistas simplesmente acaba “travando”.

Não há problema nenhum em termos cidadãos dotados do maior conhecimento possível. Uma nação avançada não se constrói sem eles. O problema está em deixá-los governar o país sem que sejam submetidos a uma avaliação por parte do público. O problema está em que o especialista, com uma caneta poderosa nas mãos, enxerga o mundo tão unicamente pelo prisma do objeto a que se dedica, e com isto tende a desprezar a importância de tantos outros aspectos da vida que devem ser contrabalançados quando decisões devem ser tomadas. Em termos ilustrativos, o ambientalista só se preocupa com a natureza, e a humanidade que morra se isto servir ao seu objetivo de preservar as matas e o mico-leão-dourado. Nada de errado em sua tese: só resta combinar com o restante da população...

Uma sociedade em que o princípio “caveat vendor” prevalece é aquela em que os artistas não carecem dos aplausos do público pelo mérito dos seus espetáculos, nem são remunerados necessariamente pela renda da bilheteria, mas antes, remuneram-se por meio de verbas orçamentárias para produzir programas ideologicamente orientados. Não deixam de ser “especialistas” também, eis que sempre estão nos canais estatais a opinar pretensamente sobre o que o povo deve assistir.

Como pode prosperar tal sociedade em que os fornecedores é que são os juízes do que produzem? Imagine, leitor, que você vá a uma pizzaria tal que o seu dono é quem decide qual o tipo da massa ou da cobertura que você deve apreciar, e que você não possa avaliar a pizza por não ter diploma de pizzaiolo!

A minha vida tem sido testemunha de tantos equívocos dos chamados “especialistas”! Houve um tempo em que tudo o que comprávamos deveria conter “betacaroteno”. Era o que os especialistas nos recomendavam, até que alguém denunciasse: “-pára, pára! O betacaroteno é cancerígeno!” E foi assim também com o ovo, com as fibras, com o leite (inclusive o materno), com a talidomida, e um sem-número de outros alimentos, remédios, comportamentos, livros, e até mesmo com a religião.

Em uma sociedade regida pelo princípio “caveat vendor”, uma solução “oficial” mal-escolhida, i.e., um remédio, pode matar ou causar prejuízos a uma população inteira, enquanto que na sociedade “caveat emptor”, este mesmo remédio somente afetará as pessoas que têm optado por ele. Ainda, na primeira hipótese, ninguém se responsabiliza, como tudo o que o estado faz de errado e depois nos manda “prestarmos queixa ao bispo”, enquanto na segunda os responsáveis terão de arcar com o peso de reparar seus danos junto às vítimas.

Caveat Emptor! Deixemos o consumidor – em última análise, o cidadão(!) – com a responsabilidade de se informar e de decidir! Da multidão das pessoas comuns sempre sai o melhor juízo, porque são justamente elas as destinatárias! Do confronto permanente entre as escolhas deixadas a cargo do público emergem aquelas que se consagram como as melhores, e que passam a servir como paradigma para todos os outros concorrentes, sejam de produtos ou de idéias.

(1) PETTERSON, Mary Bennet. The regulated Consumer. Los Angeles, Nash Publishing [1971].

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".