QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2010
E por que os conservadores pedem licença para divergir.
Editorial da Weekly Standard, edição de 31 de maio de 2010
William Kristol
“O negócio é uma palavra de oito letras: empregos, empregos, empregos, empregos. Nosso negócio são os empregos."
- Nancy Pelosi, 4 de maio de 2010
“Nós vemos [a reforma do sistema de saúde como] uma lei que diz para a pessoa, se você quiser ser criativo e ser um músico ou outra coisa, você pode sair do seu trabalho, concentrar-se no seu talento, na sua habilidade, na sua paixão, nas suas aspirações, porque você terá acesso à saúde. Você não precisa ficar preso ao emprego.”
- Nancy Pelosi, falando a músicos e artistas em Washington, D.C, em 15 de maio de 2010
“Assim que surge a divisão do trabalho, cada homem tem uma esfera particular, exclusiva de atividade, que lhe é imposta e da qual ele não pode escapar. Ele é um caçador, um pescador, um pastor ou um crítico e deve continuar a sê-lo, se não quiser perder seus meios de sobrevivência; enquanto que, em uma sociedade comunista, onde ninguém tem uma só esfera exclusiva de atividade, mas cada um pode ter sucesso em qualquer área que queira, a sociedade regula a produção geral e assim torna possível que eu possa fazer uma coisa hoje e outra amanhã, caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado de noite, fazer crítica depois do jantar, como eu preferir, sem nunca me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico.”
Karl Marx, 1846
A tensão entre estas duas afirmações atravessa toda a esquerda. A primeira afirmação de Pelosi lembra a Velha Esquerda; sua segunda, a Nova. A primeira tem o espírito do Karl Marx maduro (sem querer acusar Pelosi de ser marxista!), enquanto que a segunda ecoa o jovem Marx, que escreveu em 1846: “Assim que surge a divisão do trabalho, cada homem tem uma esfera particular, exclusiva de atividade, que lhe é imposta e da qual ele não pode escapar. Ele é um caçador, um pescador, um pastor ou um crítico e deve continuar a sê-lo, se não quiser perder seus meios de sobrevivência; enquanto que, em uma sociedade comunista, onde ninguém tem uma só esfera exclusiva de atividade, mas cada um pode ter sucesso em qualquer área que queira, a sociedade regula a produção geral e assim torna possível que eu possa fazer uma coisa hoje e outra amanhã, caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado de noite, fazer crítica depois do jantar, como eu preferir, sem nunca me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico.”
Qual dos dois, então? O negócio do progressismo é dar bons empregos com bons salários? Ou o seu negócio é transcender o mundo de ficar “preso ao trabalho” em nome da criatividade?
O negócio dele são ambas as coisas – como podemos aprender com John Maynard Keynes, que, a meio caminho entre a época de Marx e a era de Pelosi, escreveu isto, em 1930:
Quando a acumulação de riqueza não for mais de alta importância social, haverá grandes mudanças nos princípios pseudo-morais que nos assombram a duzentos anos, pelos quais exaltamos algumas das mais detestáveis qualidades à posição das mais altas virtudes. Nós teremos as condições de ousar avaliar a motivação financeira em seu real valor. O amor ao dinheiro como uma posse – em contraste com o amor ao dinheiro como um meio para as satisfações e realidades da vida – será reconhecido como o que é, uma patologia meio nojenta...Mas cuidado! O tempo para tudo isto ainda não chegou. Por pelo menos mais cem anos, precisamos fingir para nós mesmos e para todos que o belo é feio e o feio é belo; pois o feio é útil e o belo não. A avareza, a usura e a precaução devem ser nossos deuses por um pouco mais ainda. Pois só elas podem nos tirar do túnel da necessidade econômica e nos levar à luz.
Keynes nos deu um vislumbre do coração do progressismo moderno: por hora, o progresso requer um respeito pelo trabalho, pelos empregos, pela economia. Então, a esquerda defende o uso do governo para fins econômicos. Mas no fim, tudo isto aí é para transcender “princípios pseudo-morais” como a precaução. Então, a esquerda apoia um governo grande, ao mesmo tempo em que desdenha da necessidade de um governo de si mesmo.
Nós conservadores, de nossa parte, rejeitamos este como o pior dos dois mundos: estatismo governamental absurdamente grande, de um lado, e libertarismo perigosamente utópico de outro. Agora: nós concordamos com Keynes em que a acumulação de riqueza é apenas um bem secundário. Mas para nós, o bem primário é Deus, ou a família, ou o país, ou a tradição, ou a moralidade, não uma falsa promessa de libertação de tudo isto.
E nós conservadores divergimos de Keynes por termos apreço às virtudes burguesas. Acreditamos que estas virtudes (ela mesma uma palavra conservadora, nestes dias) têm, sim, certo valor e dignidade – que a vida burguesa não torna belo o feio e feio o belo.
Mais: os conservadores não acreditam que a humanidade um dia escapará do campo da necessidade para o da liberdade. Não acreditamos que o homem um dia deixará o campo da fé religiosa e do apego patriótico rumo a algum campo futuro da liberdade e da luz – e nem que ele devesse fazê-lo. Os conservadores não acreditam que chegará o tempo em que o homem poderá escapar ao dever de governar a si mesmo.
Então, para os conservadores, o negócio é emprego de dia e chá depois do jantar, com caçada, igreja e desfile patriótico nos fins de semana. Para não falar num vigoroso setor privado para gerar empregos, empregos, empregos, empregos para todos os democratas de Pelosi que perderão o cargo em novembro.
Tradução de Larry Martins
Texto disponível em: http://www.weeklystandard.com/articles/marx-keynes-pelosi
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