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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Marx, Keynes, Pelosi

DEXTRA

QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2010

E por que os conservadores pedem licença para divergir.
Editorial da Weekly Standard, edição de 31 de maio de 2010
William Kristol 



“O negócio é uma palavra de oito letras: empregos, empregos, empregos, empregos. Nosso negócio são os empregos."
- Nancy Pelosi, 4 de maio de 2010


“Nós vemos [a reforma do sistema de saúde como] uma lei que diz para a pessoa, se você quiser ser criativo e ser um músico ou outra coisa, você pode sair do seu trabalho, concentrar-se no seu talento, na sua habilidade, na sua paixão, nas suas aspirações, porque você terá acesso à saúde. Você não precisa ficar preso ao emprego.”
- Nancy Pelosi, falando a músicos e artistas em Washington, D.C, em 15 de maio de 2010


“Assim que surge a divisão do trabalho, cada homem tem uma esfera particular, exclusiva de atividade, que lhe é imposta e da qual ele não pode escapar. Ele é um caçador, um pescador, um pastor ou um crítico e deve continuar a sê-lo, se não quiser perder seus meios de sobrevivência; enquanto que, em uma sociedade comunista, onde ninguém tem uma só esfera exclusiva de atividade, mas cada um pode ter sucesso em qualquer área que queira, a sociedade regula a produção geral e assim torna possível que eu possa fazer uma coisa hoje e outra amanhã, caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado de noite, fazer crítica depois do jantar, como eu preferir, sem nunca me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico.”
Karl Marx, 1846

A tensão entre estas duas afirmações atravessa toda a esquerda. A primeira afirmação de Pelosi lembra a Velha Esquerda; sua segunda, a Nova. A primeira tem o espírito do Karl Marx maduro (sem querer acusar Pelosi de ser marxista!), enquanto que a segunda ecoa o jovem Marx, que escreveu em 1846: “Assim que surge a divisão do trabalho, cada homem tem uma esfera particular, exclusiva de atividade, que lhe é imposta e da qual ele não pode escapar. Ele é um caçador, um pescador, um pastor ou um crítico e deve continuar a sê-lo, se não quiser perder seus meios de sobrevivência; enquanto que, em uma sociedade comunista, onde ninguém tem uma só esfera exclusiva de atividade, mas cada um pode ter sucesso em qualquer área que queira, a sociedade regula a produção geral e assim torna possível que eu possa fazer uma coisa hoje e outra amanhã, caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado de noite, fazer crítica depois do jantar, como eu preferir, sem nunca me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico.”


Qual dos dois, então? O negócio do progressismo é dar bons empregos com bons salários? Ou o seu negócio é transcender o mundo de ficar “preso ao trabalho” em nome da criatividade?

O negócio dele são ambas as coisas – como podemos aprender com John Maynard Keynes, que, a meio caminho entre a época de Marx e a era de Pelosi, escreveu isto, em 1930:

Quando a acumulação de riqueza não for mais de alta importância social, haverá grandes mudanças nos princípios pseudo-morais que nos assombram a duzentos anos, pelos quais exaltamos algumas das mais detestáveis qualidades à posição das mais altas virtudes. Nós teremos as condições de ousar avaliar a motivação financeira em seu real valor. O amor ao dinheiro como uma posse – em contraste com o amor ao dinheiro como um meio para as satisfações e realidades da vida – será reconhecido como o que é, uma patologia meio nojenta...Mas cuidado! O tempo para tudo isto ainda não chegou. Por pelo menos mais cem anos, precisamos fingir para nós mesmos e para todos que o belo é feio e o feio é belo; pois o feio é útil e o belo não. A avareza, a usura e a precaução devem ser nossos deuses por um pouco mais ainda. Pois só elas podem nos tirar do túnel da necessidade econômica e nos levar à luz. 

Keynes nos deu um vislumbre do coração do progressismo moderno: por hora, o progresso requer um respeito pelo trabalho, pelos empregos, pela economia. Então, a esquerda defende o uso do governo para fins econômicos. Mas no fim, tudo isto aí é para transcender “princípios pseudo-morais” como a precaução. Então, a esquerda apoia um governo grande, ao mesmo tempo em que desdenha da necessidade de um governo de si mesmo.

Nós conservadores, de nossa parte, rejeitamos este como o pior dos dois mundos: estatismo governamental absurdamente grande, de um lado, e libertarismo perigosamente utópico de outro. Agora: nós concordamos com Keynes em que a acumulação de riqueza é apenas um bem secundário. Mas para nós, o bem primário é Deus, ou a família, ou o país, ou a tradição, ou a moralidade, não uma falsa promessa de libertação de tudo isto.

E nós conservadores divergimos de Keynes por termos apreço às virtudes burguesas. Acreditamos que estas virtudes (ela mesma uma palavra conservadora, nestes dias) têm, sim, certo valor e dignidade – que a vida burguesa não torna belo o feio e feio o belo.

Mais: os conservadores não acreditam que a humanidade um dia escapará do campo da necessidade para o da liberdade. Não acreditamos que o homem um dia deixará o campo da fé religiosa e do apego patriótico rumo a algum campo futuro da liberdade e da luz – e nem que ele devesse fazê-lo. Os conservadores não acreditam que chegará o tempo em que o homem poderá escapar ao dever de governar a si mesmo. 

Então, para os conservadores, o negócio é emprego de dia e chá depois do jantar, com caçada, igreja e desfile patriótico nos fins de semana. Para não falar num vigoroso setor privado para gerar empregos, empregos, empregos, empregos para todos os democratas de Pelosi que perderão o cargo em novembro. 



Tradução de Larry Martins
Texto disponível em: http://www.weeklystandard.com/articles/marx-keynes-pelosi

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".