20/05/2010
http://jewishworldreview.com/cols/sowell051110.php3
Uma das muitas idéias modernas que pegaram entre alguns dos intelectuais é a de que os idosos têm ” o dever de morrer “, em vez de se tornarem um fardo para os outros.
Isso é mais do que apenas uma idéia discutida em torno de uma mesa de seminário. O sistema de saúde estatal da Grã-Bretanha já está restringindo quais medicamentos ou tratamentos que serão autorizados para os idosos. Aliás, é quase certo que tentativas parecidas de contenção de despesas conduzam a políticas semelhantes quando o sistema de saúde americano for retomado pelo governo.
Não se enganem sobre isso, deixar as pessoas de idade morrerem é muito mais barato do que gastar a quantidade de dinheiro necessária para mantê-las vivos e bem. Se um sistema de saúde estatal vai economizar uma grande quantia em dinheiro, é quase certo de fazê-lo sacrificando as pessoas idosas.
Houve um tempo – felizmente, há muito passado – quando algumas sociedades desesperadamente pobres tinham que abandonar os idosos à sua sorte, porque não havia o bastante para todos sobreviverem. Às vezes, os próprios idosos simplesmente abandonavam suas famílias e comunidades para enfrentar o seu destino sozinho.
Mas é neste lugar onde hoje nos encontramos?
Falar sobre ” o dever de morrer “, me trouxe de volta a minha infância no sul, durante a Grande Depressão dos anos 30. Um dia, fui informado de que uma senhora idosa, – um parente nosso – viria para ficar conosco por um tempo, e fui informado de como ser educado e atencioso para com ela.
Ela era chamada ” Tia Nance Ann “, mas eu não sei qual era seu nome verídico ou qual era seu real grau de parentesco conosco. Tia Nance Ann não tinha casa própria. Mas ela deslocava-se entre um e outro parente, não ficando muito tempo em uma casa para ser considerada um autêntico fardo.
Naquela época, não tínhamos coisas como a eletricidade ou aquecimento central, ou água quente encanada. Mas nós tínhamos um teto sobre nossas cabeças e comida na mesa – e Tia Nance Ann foi acolhida com ambas.
Pobres como nós éramos, eu nunca ouvi alguém dizer, ou mesmo insinuar, que a Tia Nance Ann tinha ” o dever de morrer “.
Eu só comecei a ouvir esse tipo de conversa décadas depois, de pessoas altamente educadas em uma época abundante, quando mesmo a maioria das famílias vivendo abaixo do nível oficial de pobreza possuem um carro ou camionete e tem ar condicionado.
É hoje, em uma época que casas tem TVs de tela plana, e a maioria das famílias comem em restaurantes regularmente ou tem pizzas e outras refeições entregues em suas casas, que as elites – ao invés das massas -, começaram a falar sobre ” o dever de morrer “.
Voltando aos dias da Tia Nance Ann, ninguém em nossa família tinha ido para a faculdade. Na verdade, ninguém tinha ido além do ensino fundamental. Aparentemente você precisa gastar muito em educação, às vezes incluindo cursos sobre ética, antes de começar a falar sobre ” o dever de morrer “.
Muitos anos depois, enquanto passava por um divórcio, eu disse a uma amiga que estava considerando lutar pela guarda da criança. Ela imediatamente argumentou comigo para não fazer isso. Por quê? Porque criar um filho iria interferir na minha carreira.
Mas meu filho não tinha uma carreira. Ele era apenas uma criança que precisava de alguém que o entendesse. Acabei ficando com a guarda do meu filho, e embora ele não fosse uma criança exigente, criá-lo não ajudaria na minha carreira, dificultando-a um pouco. Mas você simplesmente abandona uma criança quando for incômodo para criá-la?
A senhora que me deu este conselho tinha um diploma da Harvard Law School. Ela teve mais anos de estudo do que toda a minha família tinha, nos dias da Tia Nance Ann.
Muito do que é ensinado em nossas escolas e faculdades hoje procura derrubar os valores tradicionais, e substituí-los por conceitos mais modernos e extravagantes, dentre os quais ” o dever de morrer ” é apenas um.
Estes esforços em mudar os valores costumavam ser chamados de ” esclarecimento de valores “, embora o nome tivesse que ser alterado repetidamente ao longo dos anos, a medida que mais e mais pais compreendiam o que estava acontecendo e desaprovavam. Os valores que supostamente precisavam de ” esclarecimento ” foram claros o bastante para durar por gerações e ninguém pediu as escolas e faculdades por esse ” esclarecimento “.
Nem tampouco somos pessoas melhores por causa disso.
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