por Melanie Phillips
em 8 de julho de 2010
‘A Jordânia é a Palestina’, disse Wilders, líder do terceiro maior partido na Holanda. ‘Mudar seu nome para Palestina dará um fim ao conflito no Oriente Médio e proverá aos palestinos uma terra natal alternativa... Há um estado palestino independente desde 1946, e este é o reino da Jordânia’. Wilders também conclamou o governo holandês a se referir à Jordânia como ‘Palestina’ e a mudar sua embaixada para Jerusalém.
Wilders falou a grande verdade inconveniente. Como resultado, está sendo descartada como algo meramente típico daquilo que “a direita” diz. Portanto, é claro, é uma inverdade, com base na premissa de que tudo que “a direita” diz é falso e blá, blá, blá, numa cantilena sem fim.
Acontece que o que Wilders disse não é falso. Qualquer um familiarizado com a história sabe que ele está certo. Imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, a Palestina consistia daquilo que hoje é a Jordânia, Israel, a Margem Ocidental e a faixa de Gaza. [Ver o mapa]. As grandes potências, ao dividir a região [que até 1918 fazia parte do Império Turco Otomano], decidiram que à Grã-Bretanha deveria ser dado o mandato para administrar a Palestina e nela restaurar o histórico lar nacional judaico. No espaço de poucos anos, todavia, Winston Churchill, por questões de realpolitik, entregou três quartos (3/4) da Palestina para que a dinastia Hashemita fundasse a (Trans)Jordânia (deixandotodo o resto para ser colonizado pelos judeus; mas essa é uma outra história).
Logo, a Jordânia é de fato a Palestina. Tal como ressalta Camie Davis, os próprios árabes disseram isso repetidas vezes:
Por décadas, os jordanianos foram ávidos proponentes da posição “A Jordânia é a Palestina”. Eles usaram essa posição como justificativa para a anexação da Margem Ocidental, argumentando que a Palestina era uma única e indivisível unidade e que a Jordânia era o legítimo governante da Palestina...
‘Nós somos o governo da Palestina, o exército da Palestina e os refugiados da Palestina’. – Primeiro Ministro da Jordânia, Hazza' al-Majali, 23 de agosto de 1959.
‘A Palestina e a Transjordânia são uma só’. Rei Abdullah, em reunião da Liga Árabe no Cairo, em 12 de abril de 1948.
‘A Palestina é a Jordânia e a Jordânia é a Palestina; há um só povo e uma só terra, com uma história única e um destino único’. Príncipe Hassan, irmão do Rei Hussein, dirigindo-se à assembléia Nacional Jordaniana em 02 de fevereiro de 1970.
‘A Jordânia não é apenas mais um estado árabe no que diz respeito à Palestina, mas em vez disso, a Jordânia é a Palestina e a Palestina é a Jordânia em termos de território, identidade nacional, sofrimentos, esperanças e aspirações’. Ministro da Agricultura jordaniano, em 24 de setembro de 1980.
‘A verdade é que a Jordânia é a Palestina e a Palestina é a Jordânia’. Rei Hussein, em 1981.
De fato, até 1970, a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), comandada por Yasser Arafat, conduziu operações terroristas contra a Jordânia, com a justificativa de que era palestina e que a minoria hashemita estava governando a maioria palestina. Foi somente depois que a Jordânia matou milhares de palestinos no ‘Setembro Negro’ (e quem no Ocidente jamais se importou com isso??) que Israel subitamente tornou-se o ‘único lar histórico dos palestinos’, enquanto a Jordânia era apagada do quadro — e a invenção do ‘palestinismo’ transformou-se na verdade aceita.
Porém, na qualidade de político “palestino”, Zouhair Moussein declarou ao jornal holandês Trouw em 1977 (grata pela dica ao: Israel Matzav):
O povo palestino não existe. A criação de um estado palestino é apenas um meio para continuar nossa luta contra o Estado de Israel e em favor da unidade árabe. Na realidade, hoje não há diferença entre jordanianos, palestinos, sírios e libaneses. Hoje nós falamos sobre a existência de um povo palestino apenas por razões políticas e táticas, uma vez que os interesses nacionais árabes exigem que apresentemos a existência de um “povo palestino” distinto em oposição ao sionismo.
Por razões táticas, a Jordânia, que é um estado soberano com fronteiras definidas, não pode fazer reivindicações sobre Haifa e Jaffa, enquanto eu, como um palestino, posso, sem dúvida nenhuma, exigir Haifa, Jaffa, Beer-Sheva e Jerusalém. Contudo, no momento em que recuperarmos nosso direito sobre toda a Palestina, não esperaremos nem um minuto para unir a Palestina à Jordânia.
É a recusa do Ocidente em reconhecer essa conexão, e em seu lugar deturpar totalmente a história da região e as causas do conflito no Oriente Médio, uma das principais razões pelas quais esse impasse cruel continua até hoje.
Não pode haver paz sem justiça; e não pode haver justiça sem verdade. Wilders falou a verdade. Com a mente ocidental deformada além da razão pelas mentiras, é lógico que ele será vilipendiado e desconsiderado por dizer a verdade. A verdade maior é que a difamação é tanto maior quanto mais “direitista” for aquele que disser a verdade, neutralizando seu desafio às mentiras.
É por isso que os caras maus estão vencendo.
Tradução: Henrique Dmyterko
Publicado originalmente na Spectator.co.uk/melaniephillips em 21/06/2010
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