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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Clima mortal

Fonte: JULIO SEVERO

9 de fevereiro de 2010



Editorial da edição de janeiro de 2010 do jornal The Interim


Essa, evidentemente, é a real crise da mudança climática: que tantos em nosso mundo estejam vendo o ser humano como um problema a ser reduzido ou até eliminado, minimizado ou até destruído


(Republicado com permissão)


19 de janeiro de 2010 (theinterim.com) — Em nossa época, ninguém pode duvidar da realidade da mudança climática: é a grave preocupação dos especialistas, a prioridade número 1 dos políticos populares e a causa da moda dos artistas de um filme famoso.


No mês passado, os líderes do mundo se reuniram em Copenhagen para impedir um iminente desastre ecológico — uma iniciativa (assim nos dizem) que pode já ser muito pouca e tarde demais. Na verdade, é impossível questionar a realidade do aquecimento global, quando preocupações com ele alcançaram um estado de extrema febre: dá para se ver a mudança climática em nossos carros híbridos e torcidas lâmpadas elétricas, mas acima de tudo, dá para se ver na sombria expressão da face preocupada de muitos.


Seria um erro terrível, porém, presumir que a mudança climática tem algo a ver com a ciência, ações humanas ou a realidade objetiva: é bem óbvio que não há verdade nenhuma em tais afirmações, e aceitar sem criticar essa narrativa seria, literalmente, apanhar uma febre. O aquecimento global é um fenômeno interno que está ocorrendo em nossa cultura, não em nosso clima. Assim, os profetas da destruição ecológica — que certo crítico humorístico chama de “marqueteiros do aquecimento” — estão totalmente errados de afirmar que a mudança climática causada pelo homem é um fenômeno real e observável na natureza. Contudo, os que “negam” a mudança climática estão igualmente errados de pensar que apontando para esse fato resolverá o problema. Nietzsche certa vez escreveu: “Não há fatos, só interpretações”, e suas palavras jamais foram mais verdadeiras do que neste contexto: não há fatos objetivos e científicos acerca da mudança climática, mas a interpretação é real o suficiente.


O que chamamos de “mudança climática” é a mais recente erupção de um fenômeno permanente que afeta todas as culturas humanas de tempos em tempos. Na tragédia de Sófocles, Oedipus Rex, a cidade de Tebas está sofrendo de “poluição”; na Idade Média, costumava haver erupções intermitentes de pragas reais e imaginárias. Por incrível que pareça, a cura para ambos desses problemas foi o mesmo: Tebas recebe cura com a expulsão do rei Édipo, e os numerosos textos medievais afirmam que a “praga” muitas vezes diminuía depois que os judeus locais eram massacrados. Se o que a medicina andou fazendo parece escandaloso e inaceitável, a moderna ciência do clima entrou no lugar da medicina da Idade Média, convencendo-nos de que o “carbono” é o elemento venenoso — em todo e nenhum lugar — que sufoca nosso ar e deixa nossa água estagnada.


De forma angustiante, o diagnóstico dos cientistas do clima não é muito diferente do oráculo de Sófocles ou dos curandeiros da Idade Média: todas as causas da mudança climática são eufemismos para o homem. O problema não é a pegada de carbono, mas a pessoa que a deixa; o problema não é o consumo de carbono, mas o consumidor de carbono; o problema não é nem mesmo a poluição, mas o poluidor oculto. A real poluição é sempre a mesma coisa, e é sempre uma pessoa.


Numa recente coluna no jornal National Post, Diane Frances argumentou que a solução para a mudança climática é simples — aliás, é sempre simples: que o Ocidente adote a infame e brutal política de um filho só da China. É claro que a implementação das restrições selvagens da China vermelha não tornará o primeiro mundo verde. Mas fornecerá a válvula de escape demoníaca, exigida por uma cultura que foi convencida de que o ser humano não produz lixo, mas é ele próprio o lixo que deve ser jogado fora. Embora a posição de Frances pareça radical, ela simplesmente seguiu a lógica da mudança climática a seu fim inescapável: a compreensão de que as pessoas são o problema.


Mas exatamente o oposto é a verdade. Aliás, a pessoa humana é o único recurso verdadeiramente renovável do mundo porque é o único que é verdadeiramente renovado. O homem é perpetuamente procriado pelo próprio Deus; toda vida começa a história da Criação de novo. De fato, a criança é a coroa recém-nascida da Criação, a qual recebe o dom do mundo. Mas presumir que a criança é um dreno numa quantidade minguante de recursos não é só uma extrapolação historicamente tacanha: muito mais seriamente, essa opinião duvida da prudente decisão e generosa providência do Deus onipotente. Portanto, os ambientalistas se vestem com o manto da “administração” (ou mordomia), a preocupação deles é inerentemente ímpia: a real crise do aquecimento global é que tantas pessoas foram convencidas de que o maior presente que Deus dá ao mundo é na verdade uma maldição.


Madre Teresa certa vez disse: “Dizer que há muitos bebês é como dizer que há muitas flores”. Tantos, porém, se esqueceram dessa percepção inspirada e, como a mãe mentirosa diante do trono do rei Salomão, estão dispostos a ver nosso recurso mais precioso sacrificado, e chamam isso de sabedoria. Essa, evidentemente, é a real crise da mudança climática: que tantos em nosso mundo estejam vendo o ser humano como um problema a ser reduzido ou até eliminado, minimizado ou até destruído. O real desastre ecológico de nossa época não é material, mas moral, pois a população é sempre uma bênção, jamais uma bomba.


Veja também:

“Anti-human life environmentalism”
Traduzido por Julio Severo: www.juliosevero.com
Veja também este artigo original em inglês: http://www.lifesitenews.com/ldn/2010/jan/10011911.html
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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".