Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

VALORES INVERTIDOS

Fonte: NIVALDO CORDEIRO


VALORES INVERTIDOS

09 de fevereiro de 2010


Não posso deixar passar sem um comentário a bela crônica do João Pereira Coutinho, publicada hoje na Folha de São Paulo (Vender a alma). No texto, o autor relata a iniqüidade que se instalou em Portugal, qual seja, a institucionalização do ócio remunerado, que praticamente condena multidões a nada fazer como se isso fosse algo de bom. Em troca, os déficits da Previdência Social crescem de forma explosiva e o desemprego não dá sinais de que possa regredir.


Essa situação não é incomum, muito ao contrário. Em toda Europa é possível que alguém nasça e morra sem precisar trabalhar nunca, permanentemente dependente da mesada estatal. Foi instituído o “direito humano” à vagabundagem. Obviamente que a trajetória dos déficits públicos, somados ao impacto da grave crise mundial, aponta para um fim dramático dessa iniqüidade, que é contra a natureza e o senso de justiça.


No Brasil vivemos já o império das bolsas com várias denominações, e as aposentadorias descasadas das contribuições, especialmente as do setor público, prática já antiga de remuneração do ócio. Aqui, por vezes com valores estupendos, os famigerados marajás, que caçoam risonhamente dos pagadores de impostos. A eles se juntaram os recebedores da bolsa-ditadura. Como na Europa, a situação das finanças públicas agrava-se dia a dia, por força dessa situação anormal.


O que mais interessa ao observador é o que vai acontecer na esfera política. Os aposentados, portadores de bolsas e desempregados remunerados estão próximos de constituírem uma grande maioria. Que governante poderá ser eleito prometendo corrigir as finanças públicas pela raiz, ou seja, cortando o ócio remunerado das multidões viciadas em não trabalhar? Terá que ser feito, mas como combinar a correta medida administrativa com a manutenção das instituições democráticas?


Veja-se o caso dramático da Grécia, a manchete dos últimos dias. Aquele país passa por uma grave crise financeira e precisará cortar benefícios sociais e empregos públicos, e gastos de um modo geral, uma vez que a válvula da inflação e da desvalorização cambial, pelo acordo para integrar a União Européia, não pode ser usada. Portugal é a bola da vez em termos de volume proporcional de déficit. Como isso será feito no regime democrático? Eu não tenho a mínima idéia. É certo que essas sociedades passarão por processo de empobrecimento rápido.


O fracasso dessas experiências é o fracasso da social-democracia, ou seja, da promessa igualitarista, incompatível com a prosperidade econômica. Estamos chegando a um tempo em que a realidade econômica se imporá de forma inexorável sobre a alucinação política que assumiu a hipótese de que seria possível suprimir a lei da escassez e que parcela crescente da população poderia viver sem trabalhar. Políticos social-democratas e socialistas em geral chegaram ao poder e lá se mantiveram escorados nessa mentira. O tempo do ajuste chegou.


Na melhor das hipóteses aparecerão políticos da estirpe de Margareth Thatcher e Ronald Reagan, que “peitarão” os sindicalistas e os políticos populistas e organizarão as finanças públicas. Na pior, teremos a multiplicação dos regimes de força. O certo é que o tempo das meias medidas acabou e a tolerância com os crescentes déficits públicos (bem como o endividamento do Estado) está chegando ao fim. Em última análise, a quebra técnica dos Estados determinará o realinhamento das forças políticas.


É provável que pactos políticos feitos a partir de algum tipo de lei de responsabilidade fiscal venham a ser exigidos para que partidos políticos possam ser constituídos, uma espécie de cláusula pétrea sobre a qual ninguém poderá questionar. Mas antes que isso ocorra veremos o sofrimento dessas gerações de ociosos remunerados, moradores de beira de praia, praticantes de turismo para preencher o seu vazio existencial. Como fazer alguém assim trabalhar, depois de décadas de ócio? É uma questão em aberto.


E essa gente que chegou aos cinqüenta anos sem constituir família, que fez do subsídio estatal seu único arrimo, como sobreviverá ao duro ajuste? Essa gente sem filhos e sem futuro? A disciplina do trabalho se adquire por longos anos de treinamento. Teremos um fenômeno novo e interessante, da reinserção dessas multidões ociosas na rotina humana, que vem desde que a civilização apontou no horizonte. “Homem, comerás o pão com o suor do teu rosto”.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".