| 01 Dezembro 2009
Artigos - Governo do PT
Não nos enganemos: aqueles que dão a ordem de gravação são moralmente muito piores do que aqueles que são gravados. Prefiro os patrimonialistas aos revolucionários no poder. Estes não querem melhorar as nossas práticas políticas; querem tão somente o poder total.
Penso que o Brasil inteiro acompanha com nojo o desenrolar dos acontecimentos envolvendo o Governo do Distrito Federal (GDF). De repente caiu a máscara de todo mundo da situação, daqueles que integram o poder local. Em um processo de filmagem inovador, com suporte judicial, um delator graúdo filmou seus pares e seu chefe, o governador, em pleno processo de reparte do butim de propinas. O que há de novo nisso? Meu caro leitor, há muitas novidades, que precisam ser consideradas, além da imundície da corrupção exposta. Vejamos algumas.
Em primeiro lugar, o método. A Justiça tomou um acusado antigo e, não sei por que vias legais, o transformou em repórter do esgoto da corrupção do GDF. Eu jamais tinha ouvido falar nesse método de investigação, que de investigação nada tem: na verdade, é método de comunicação política esmagadoramente eficiente para destruir os adversários políticos do PT. Praticamente eliminou-se a possibilidade das forças petistas perderem o pleito do ano que vem em Brasília. José Roberto Arruda e aqueles a quem ele está ligado estão liquidados. Da mesma forma, as forças em torno de Joaquim Roriz. O vácuo político criado será preenchido alegremente pelo PT. É puro terrorismo policial contras os adversários.
Em segundo lugar, a desproporção de forças entre os quadros do PT, que controlam a Justiça e a Polícia Federal, e as forças políticas tradicionais. O PT há oito anos aperfeiçoa sua ação underground. Agora veremos toda a força dessa gente atuando no período eleitoral para derrotar os adversários antes dos eleitores irem votar. É um método policial de destruição, podemos dizer, altamente devastador. Ademais, aquelas forças que não foram formalmente denunciadas poderão agora ser caladas pela simples ameaça de os agentes governistas porem em marcha seus recursos policialescos. Os agentes federais são agora os "finger men" do petismo. Estamos praticamente vivendo dentro de uma ditadura policial sem que a ordem jurídica formal tenha sido quebrada.
Não adianta argumentar que José Roberto Arruda e sua quadrilha têm culpa no cartório. Todos os agentes políticos fazem exatamente o que os relatos dos jornais trouxeram. É assim que tem funcionado a chamada política patrimonialista desde que o mundo é mundo. O fato novo é que temos um governante que não hesita em usar os modernos meios de ação para, seletivamente, pôr em movimento as forças judiciais e policiais com o fim último de destruir os inimigos políticos. Não nos enganemos: aqueles que dão a ordem de gravação são moralmente muito piores do que aqueles que são gravados. Prefiro os patrimonialistas aos revolucionários no poder. Estes não querem melhorar as nossas práticas políticas; querem tão somente o poder total.
Então não se trata de ser favorável ou não ao combate à corrupção política. Essa é uma falsa questão. Menos ainda de aperfeiçoar as práticas democráticas. Trata-se de perceber que é uma jogada suja dos que controlam o aparato repressivo contra os políticos tradicionais. Estes políticos, assim como os empresários, até agora entenderam que o PT é um partido comum, normal. Erraram: o PT é um partido revolucionário e, enquanto tal, está chegando às últimas conseqüências contra aqueles que estão em seu caminho na política e no meio empresarial. É por isso que Lula e o PT estão tão confiantes na candidatura Dilma. Sabem os botões que dispõem para executar aqueles que atrapalham seus planos.
Enquanto a população eleitora fica chocada diante do noticiário da tevê o PT avança célere rumo ao seu objetivo último, o totalitarismo. É por isso que vejo a situação do GDF com muito medo. É o prelúdio do que está por vir. Os políticos patrimonialistas recebem sua propina e deixam o povo viver em paz. Já os revolucionários querem muito mais que propinas (lembremo-nos do Mensalão), querem implantar por aqui um outro mundo possível, o Estado Total. São tempos de grandes perigos.
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