Quinta-feira, Dezembro 03, 2009
Nota do tradutor: Traduzi este artigo para o MSM (Mídia sem Máscara) em 2007. Bem antes, portanto, do atual escândalo do aquecimento global. Note que o Dr. Richard Lindzen antecipa quase tudo sobre este escândalo. O alarmismo, a tentativa de esconder dados originais, a revisão polarizada de trabalhos científicos pelos pares, etc. Todas estas coisas são componentes do atual escândalo. Quem quiser saber das credenciais científicas do Dr. Lindzen pode consultar suas publicações constantes em sua página pessoal. Lá aparecem também, sob o nome de “outras publicações”, artigos em jornais e depoimentos prestados perante o Senado e a Câmara dos Deputados dos EUA em várias oportunidades.
Tem havido repetidas alegações de que os furacões do ano passado foram um outro sinal de mudanças climáticas induzidas pelo homem. Tudo, da onda de calor em Paris às fortes nevascas em Búfalo, tem sido debitado na conta de quem queima gasolina em seus carros e carvão e gás natural para aquecer, refrigerar e eletrificar suas casas. Há de se perguntar, como um aumento de um mísero e mal discernível grau centígrado na temperatura média global desde o século XIX ganha aceitação pública como a fonte das recentes catástrofes climáticas?
A resposta tem muito a ver com mal-entendidos a respeito da ciência do clima, além da intenção de se depreciar essa ciência por meio de um triângulo de alarmismo. Afirmações científicas ambíguas sobre o clima são injetadas diariamente na mídia pelos interessados no alarmismo, fazendo crescer o suporte político dos “policy makers” que, como num moto-perpétuo, irão suprir os fundos necessários para mais pesquisas científicas e alimentar mais alarmes para incrementar o suporte político. Afinal, quem colocará dinheiro em ciência – não importa se para a AIDS, o espaço ou o clima – onde não houver nada realmente alarmante? Realmente, o sucesso do alarmismo climático pode ser avaliado pelo aumento dos gastos federais em pesquisas climáticas: de umas poucas centenas de milhões de dólares pré-1990 para US$ 1.7 bilhão hoje. Isto pode ser visto também nos altos investimentos em pesquisas por tecnologias alternativas, tais como energia solar, eólica, hidrogênio, etanol e carvão, assim como na área energética em geral.
Mas há um lado mais sinistro ainda em todo esse frenesi. Cientistas que não concordam com o clima de alarmismo têm visto seus fundos de pesquisa desaparecerem, seu trabalho ser escarnecido, além de serem acusados de serviçais da indústria petrolífera, “hackers” da ciência ou coisa pior. Conseqüentemente, mentiras sobre mudanças climáticas ganham credenciais científicas mesmo que sejam frontalmente contrárias à ciência em que, supostamente, elas se baseiam.
Para entender os mal-entendidos perpetuados sobre a ciência do clima e o clima de intimidação, é necessário ter uma idéia sobre questões científicas complexas que perpassam toda a discussão. Primeiramente, comecemos onde há concordâncias. O público, imprensa e “policy makers”, têm sido repetidamente informados do fato de que três alegações têm amplo apoio científico: que a temperatura global subiu um grau desde o final do século XIX; que os níveis de CO² na atmosfera subiu aproximadamente 30% no mesmo período; e que o CO² deve contribuir para um futuro aumento do aquecimento global. Essas alegações são verdadeiras. Contudo, o que o público não percebe é que as alegações nem constituem razão para alarme, nem estabelecem a responsabilidade humana sobre o pequeno aumento do aquecimento global que ocorreu. De fato, aqueles que fazem as mais alarmantes alegações demonstram, com isso, seu ceticismo sobre a própria ciência em que eles afirmam confiar. Não se trata apenas de que os alarmistas estão trombeteando resultados de modelos que sabemos estarem errados. Mas é que eles estão trombeteando catástrofes que não poderiam acontecer, mesmo que os modelos estivessem corretos, justificando assim investimentos custosos a fim de prevenir o aquecimento global.
Se os modelos estivessem certos, o aquecimento global reduziria a diferença de temperatura entre os pólos e o equador. Quando você tiver menor diferença de temperatura você terá menos estímulo para tempestades extra-tropicais, não mais. E, de fato, os resultados do modelo apóiam essa conclusão. Os alarmistas contam a favor de suas alegações a respeito das tempestades tropicais um comentário informal de Sir John Houghton do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), de que um mundo mais aquecido teria uma maior evaporação, com o calor latente provendo mais energia para os distúrbios. O problema com isso é que a habilidade da evaporação em produzir tempestades tropicais não depende só da temperatura, mas também da umidade – que quando menor, melhor para a produção de tempestades. Alegações de intenso aumento de temperatura são baseadas em que haja mais umidade, não menos – o que dificilmente explicaria um maior número de tempestades com o aquecimento global.
Mas, então, por que não temos mais cientistas denunciando abertamente essa ciência vagabunda?(1) Acredito que muitos cientistas têm se intimidado não meramente por dinheiro, mas por medo. Um exemplo: no início deste ano [2006], Joe Barton, deputado pelo Texas, enviou cartas ao paleoclimatologista Michael Mann e alguns de seus co-autores a procura de detalhes de uma análise, financiada por fundos públicos, que alega ter sido os anos 1990 a década mais quente e 1998 o ano mais quente do último milênio. A preocupação do Sr. Barton está baseada no fato de que o IPCC singularizou o trabalho do Sr. Mann com um meio de encorajar os “policy makers” a agirem. E eles assim agiriam, depois que seu trabalho pudesse ser replicado e testado – uma tarefa que tornou-se difícil por causa da recusa do Sr. Mann, um eminente autor do IPCC, em liberar detalhes de seu trabalho para análise. A defesa do Sr. Mann pela comunidade científica, apesar de tudo, foi imediata e ríspida. O presidente da Academia Nacional de Ciências – e também da Sociedade Americana de Meteorologia e da Associação Americana de Geofísica – formalmente protestou, dizendo que o deputado Barton ter singularizado o trabalho de um cientista tinha um cheiro de intimidação.
Tudo isso contrasta fortemente com o silêncio da comunidade científica quando anti-alarmistas estavam na mira do então Senador Al Gore. Em 1992, ele liderou duas audiências públicas no Congresso Americano, durante as quais tentou intimidar cientistas dissidentes, inclusive a mim, para que mudassem de posição e apoiassem seu alarmismo climático. Nem tampouco a comunidade científica reclamou quando o Sr. Gore, como vice-presidente, tentou envolver Ted Koppel (2) numa caça às bruxas para desacreditar os cientistas anti-alarmistas – o que o Sr. Koppel considerou, publicamente, inapropriado. E todos permaneceram mudos quando vários artigos e livros de Ross Gelbspan difamaram os cientistas que discordavam do Sr. Gore, chamando-os de pombos-correio da indústria do combustível fóssil.
Infelizmente, esta é apenas a ponta de um não derretido iceberg. Na Europa, Henk Tennekes foi demitido como diretor de pesquisas da Royal Dutch Meteorological Society depois de questionar os fundamentos do aquecimento global. Aksel Winn-Nielsen, ex-diretor da World Meteorological Organization da ONU foi pichado por Bert Bolin, primeiro presidente do IPCC, como um instrumento da indústria do carvão por questionar o alarmismo climático. Os respeitados professores italianos Alfonso Sutera e Antonio Speranza desapareceram do debate em 1991, aparentemente por perderem o financiamento para suas pesquisas, por levantarem questões inconvenientes.
E, além de tudo isso, há padrões peculiares em funcionamento nos periódicos científicos para aqueles artigos cujos autores levantam questões sobre a sabedoria científica da moda. Na Science and Nature tais artigos são comumente recusados sem passar por revisão, como sendo sem interesse. Contudo, mesmo quando tais artigos são publicados, os padrões mudam. Quando eu, juntamente com alguns colegas da NASA, tentamos determinar como as nuvens se comportam sob um regime de temperatura variável, descobrimos o que denominamos então “Efeito Iris”, por meio do qual nuvens superiores do tipo cirrus se contraem com o aumento de temperatura, propiciando uma retro-alimentação climática negativa muito forte, suficiente para reduzir a resposta ao aumento de CO². Normalmente a crítica aos artigos aparecem na forma de cartas aos periódicos, às quais os autores podem responder imediatamente. No entanto, neste caso (e em outros) um fluxo de artigos preparados apressadamente apareceram, alegando erros em nosso estudo, com nossas respostas demorando meses para aparecerem publicadas. A demora permitiu que nosso artigo fosse referido como “desacreditado”. De fato, há uma estranha relutância em se descobrir como o clima realmente se comporta. Em 2003, quando o relatório do U.S. National Climate Plan recomendava uma alta prioridade para o aprimoramento de nosso conhecimento sobre a sensibilidade climática, o National Reserch Council recomendava, ao invés disso, o apoio à pesquisa sobre o impacto do aquecimento – e não à pesquisa sobre se isso realmente acontecia.
Alarme, ao invés de curiosidade científica genuína é, ao que tudo indica, essencial para manter o financiamento. E somente os cientistas seniores podem hoje enfrentar essa tempestade alarmista e desafiar o triângulo de ferro dos cientistas alarmistas, dos seus apoiadores e dos “policy makers”.
Publicado por The Wall Street Journal em junho de 2006
Notas do Tradutor:
[1]. “Junk science” no original.
[2]. Influente âncora, de 1980 a 2005, do jornal Nigthline da rede de televisão ABC.
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