20/09/2011
Thomas Mann decifrou a mensagem da modernidade no seu livro Doutor Fausto. AdrianLeverkhün, que é Nietzsche, que é Fausto, foi proibido por Mefistófeles para duas coisas: amar quem quer fosse e curar-se da doença sexualmente transmissível que adquiriu no intercurso com a misteriosa mulher mandada pelo Demo, Esmeralda. A primeira proibição tem a validade de um mandamento e espelha aquilo que vivemos sob o que João Paulo II chamou de cultura de morte.
[A cultura de morte é a antinomia da ética cristã, a sua negação. Hoje os proibidos de amar são todos os que praticam aborto e eutanásia, monstruosidades que se elevaram à prática de políticas de saúde pública. Os praticantes dessa lástima são a encarnação da proibição de amar os próprios descendentes e ascendentes. Uma ruptura com a mais elevada ética do cristianismo].
Na verdade, um anti-mandamento: a negação do primeiro artigo das Tábuas da Lei: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. A modernidade, desde a Reforma, tem cultivado a negação. A própria ruptura com a Igreja assume esse tom de rebelião contra Deus. Não escapa a Thomas Mann a trajetória do mal que se instalou na Europa desde Lutero. Ele, como luterano e seguidor de Goethe, como ninguém viveu essa cultura da negação, que se condença integralmente no esteticismo.
Fernado Bayón, o espanhol que fez a melhor resenha que conheço da obra de Thomas Mann, assim intitulou seu precioso livro: La prohibición del Amor - Sujeto, cultura y forma artística en Thomas Mann, disponível para leitura no link do Google. Bayón expôs a fórmula correta de se ler e compreender o romancista alemão. Toda sua obra foi a tentativa de decifrar o mito faustico que engolfou não apenas a Alemanha, mas a Europa e o mundo todo. É a própria modernidade.
É uma perspectiva definitiva para a leitura do Doutor Fausto. Thomas Mann fez com este livro seu acerto de contas com Goethe e Nietzsche de uma maneira artística, mas sem fazer concessão. Mais não precisou dizer para descrever todo o drama metafísico que redundou nas grandes tragédias do século XX. A proibição de amar é a maldição dos tempos modernos, que se opõem frontalmente aos tempos da chamada Idade Média.
Não há dúvida de que a origem mestiça de Thomas Mann foi o fator decisivo para a sua briga com os nazistas e o elemento determinante para ele desconfiar da tal germanidade, o elemento perverso que engendrou o racismo genocida de Hitler. Sem o brasileiríssimo Silva no nome da mãe teria sido mais difícil a ele denunciar essa tolice que ele mesmo defendeu no livro Considerações de um Apolítico. O elemento moreno e tropical que carregava consigocontribuiu para que se elevasse acima dos preconceitos.
Não curar-se da doença sexualmente transmissível é também algo da maior relevância. Ao ascetismo cristão colocou-se o hedonismo da modernidade, que com ele sacrificou também o casamento monogâmico. Casamentos sucessivos de divorciados são uma forma de poligamia. Na verdade, a própria sexualidade tornou-se enfermiça, ela é a doença, a obsessão dos tempos. Daí porque a homossexualidade deixou de ser prática restrita e reservada para adquirir também o status de movimento de massa politicamente organizado. Não se pode perder de vista que o andrógino é a expressão simbólica mais completa para retratar Mefistófeles.
Misoginia, homossexualidade e poligamia formam o trinômio determinante do sexo como a doença moderna por excelência. Um determina o outro, pressupõe o outro e não vive sem o outro. A ruptura do sacramento engendra as forma degenerada da sexualidade humana.
Um comentário:
"O elemento moreno e tropical que carregava consigocontribuiu para que se elevasse acima dos preconceitos." Aqui Nivaldo está ligando axiologia com genética, que pode levar ao enfraquecimento da noção de responsabilidade humana, fundamento de todo sistema moral verdadeiro. Paradoxalmente ele não reconhece em sua própria afirmação o mesmo problema da modernidade que ele quer denunciar!
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