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terça-feira, 4 de outubro de 2011

A França condecora um Lula imaginário

INSTITUTO MILLENIUM


3 de outubro de 2011
Autor: Guilherme Fiuza
  
Guilherme Fiuza
Se os intelectuais deram a ele o título de doutor em Paris, deve ter havido algum erro na tradução de “mensalão” para o francês
Luiz Inácio da Silva foi condecorado na França. O título de doutor honoris causa, concedido ao ex-presidente brasileiro pelo Instituto de Ciências Políticas de Paris, tem valor especial: em 140 anos de existência da prestigiada instituição, apenas 17 pessoas receberam a homenagem. Para os intelectuais franceses, Lula é o homem do povo que dobrou as elites, o ex-operário que superou a ignorância para salvar os pobres. Só quem não superou a ignorância, pelo visto, foram os cientistas políticos parisienses.
Lula não é o único mal-entendido dos luminares europeus. Instituições de alto nível como Sorbonne e London School of Economics estão cheias de pensadores com teorias incríveis sobre heróis do Terceiro Mundo. Essas usinas de bondade à distância fazem cabeças no mundo inteiro. Notáveis como o escritor José Saramago e o cineasta Oliver Stone depositaram seus sonhos revolucionários em Hugo Chávez, em defesa dos fracos. O herói bolivariano afundou a Venezuela e espalhou o autoritarismo populista pela América do Sul. Mas esses detalhes não arranham a ética dos notáveis.
Os intelectuais franceses ovacionaram Lula. Especialmente quando ele se declarou o primeiro presidente brasileiro a não governar para os ricos, demonstrando “que um metalúrgico sem diploma universitário podia fazer mais do que a elite política do Brasil”.
Lula fez mais – até porque soube, como ninguém, se apropriar do que os outros fizeram. A redução da desigualdade no Brasil nasceu de um plano econômico que Lula tentou afundar a todo custo. Eleito presidente, jogou suas teses de ruptura no lixo e surfou na política monetária do antecessor. O Instituto de Ciências Políticas sentiria náuseas se alguém lhe informasse que o poder de compra dos pobres foi elevado por um “neoliberal”. O humanismo fashion dos franceses não suportaria esse golpe.
Eles têm razão. O enredo do coitado que vira salvador da pátria é muito mais excitante do que a história real, que só existe para atrapalhar os teóricos da bondade. Condecorar um Lula da Silva como herói é um verniz e tanto para acadêmicos e artistas do Primeiro Mundo. No texto da revista Time que lançou Lula como celebridade internacional em 2010, o cineasta panfletário Michael Moore explicava que o brasileiro se tornou um dos mais influentes do mundo por ações como o Fome Zero. O fato de esse programa ter morrido de inanição não interessou ao justiceiro de Hollywood.
Para fazer “mais do que a elite política”, o metalúrgico sem diploma fundou sua própria elite política. Apinhou o aparelho de Estado com sindicalistas e correligionários, mostrou com quantos cargos se constrói uma rede de lealdades. Sua “elite política” montou um duto entre os cofres públicos e seu partido, no mais ousado esquema de corrupção já visto neste longínquo país tropical.
Quase quatro dezenas de aliados do doutor honoris causa aguardam julgamento por esse escândalo sem precedentes. Mas deve ter havido algum problema na tradução de “mensalão” para o francês.
A canonização de Lula é um diploma de futilidade das elites intelectuais europeias e americanas. Mas isso é problema delas. O problema do Brasil é o bombardeio propagandístico que vai eternizando no poder um projeto político dedicado a uma causa soberana: permanecer no poder.
Os mitos vão aniquilando a crítica. Dilma Rousseff, a primeira mulher, que sucedeu ao primeiro operário, é capa da revista Newsweek, apresentada como uma comandante implacável com a corrupção. O fato de que todos os focos de corrupção “combatidos” por Dilma tenham provindo da nova elite política que a elegeu, e de que Lula tenha convidado os denunciados a resistir com “casco duro” em seus cargos, também não teve tradução para o inglês.
Pelo visto, nem para o português. As pesquisas eleitorais para 2014 revelam que o Brasil quer uma doutora honoris causa em Paris.
Fonte: revista “Época”

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".