| 12 AGOSTO 2010
ARTIGOS - CULTURA
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É claro que o movimento de 1964 não foi revolução, foi contra-revolução.
Quando falam do movimento de 1964, os a favor dizem Revolução, e os contra falam golpe de Estado. Há tempos, li um artigo em que Jarbas Passarinho - quoque tu, dux mi? - demonstrava, por analogia histórica, que 1964 mereceo título de Revolução, como se revolução fosse coisa virtuosa. Posteriormente o ilustre brasileiro passou a usarcontra-revolução.
Essa indefinição é mais importante do que parece, pois indica que os militares, fixados na disciplina e no respeito à ordem, de certa forma se sentiam embaraçados de ter virado a mesa para salvar o Brasil do caos. Sempre consideraram sua intervenção como coisa precária, anômala, contrária a uma pretensa "normalidade democrática" que, de acordo com a teoria, seria o "certo", enquanto a ditadura militar, por mais bem intencionada ou necessária que fosse, era "errada".
Num país de currupacos, onde a repetição de refrões substituiu as idéias, poucos perdem seu tempo em verificar se de fato existe ou existia alguma "normalidade democrática" no Brasil. Ou seja, se a democracia no Brasil é algo realmente natural.
O que é natural? Para entender a "natureza", basta observar uma peteca. De qualquer jeito que a joguemos, sempre cai com as penas para cima logo, essa é a condição "natural" da peteca. E o Brasil? Se a política correr solta, levada pelo voto do eleitorado de acordo com as promessas dos políticos - cairá sempre na mesma posição, ademocrática? Se for assim, não há dúvida: a democracia brasileira é "natural" e tudo o que for diferente dela, inclusive as intervenções militares, é contrário à "natureza".
Mas o Brasil não é uma peteca. Sua história mostra que a democracia, devido à índole do eleitorado e ao caráter dos políticos, rapidamente resvala para a ditadura totalitária. Em mais de uma ocasião as Forças Armadas foram obrigadas a intervir antes do desastre. Mas, devido à própria intervenção preventiva, o desastre não chegava a ocorrer, e sobrava a impressão de que os militares haviam violado uma pretensa "normalidade institucional". Assim, as mentiras dos comunistas nunca eram desmentidas na prática. Não adiantava apontar os exemplos de Cuba e de outros países que, não tendo se defendido a tempo, haviam sido destruídos pelo comunismo: a intelectualha e parte da opinião pública permaneciam convictas de que os militares haviam usado a força para suprimir a "democracia".
É essa a origem dos mitos de Allende no Chile, ou dos montoneros na Argentina. Não adianta explicar que não passavam de traidores, e a democracia só lhes interessava como cobertura para os seus projetos criminosos. Até hoje os militares são perseguidos por terem cumprido tempestivamente a missão de proteger seus países da agressão apátrida, dirigida e financiada do exterior.
O povo é como certas mulheres que, levadas pelo instinto, apaixonam-se por vagabundos. Se a família proibir o casamento, passam o resto da vida a lastimar o amor frustrado. Se permitir, só aprendem sua lição depois de perder a juventude, passar fome, encher-se de filhos, levar surras e finalmente ser abandonadas por outra idiota mais jovem.
É claro que o movimento de 1964 não foi revolução, foi contra-revolução. Mas autodenominou-se Revolução porque só um governo revolucionário podia editar Atos Institucionais. Mas o governo militar só foi revolucionário no nome. Cheio de escrúpulos, cordial, ensaiando o dia em que teria de devolver o poder aos civis - como se o poder civil fosse lei da natureza - nunca assumiu inteiramente a sua missão histórica. Isso, porque todos, tanto os militarescomo seus adversários, tinham de adorar a vaca sagrada da democracia.
É evidente que os traidores só fingiam defender a "democracia" como etapa provisória no trajeto para a ditadura "do proletariado". Logo, não acreditavam na vaca, apenas a usavam como cobertura. Ingênuos eram os militares que sinceramente a respeitavam, e impunham a ditadura para salvá-la e aperfeiçoá-la, livrando-a dos seus maiores "defeitos", os corruptos e os subversivos. Não queriam admitir que era a democracia, e não os corruptos e subversivos por ela gerados, a causa da crônica ingovernabilidade do Brasil.
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