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sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Colômbia que o Brasil não conhece

DIÁRIO DO COMÉRCIO

Após um quarto de século dos combates, a juíza Maria Stella Jara condenou o coronel Plazas Vega a trinta anos de prisão pelo alegado assassinato dos onze desaparecidos.
Olavo de Carvalho - 17/6/2010 - 19h39
BOGOTÁ – Em 6 de novembro de 1985, terroristas do grupo M-19, financiados pelo narcotraficante Pablo Escobar, invadiram o Palácio da Justiça, em Bogotá, mataram a tiros dezenas de pessoas, atearam fogo aos arquivos (Escobar tinha boas razões para isso) e montaram um arremedo de tribunal, exigindo que o presidente Belisario Betancur se apresentasse para ser julgado por crimes de natureza um tanto evanescente.

A chamado do presidente, tropas do exército colombiano derrubaram – com tanques brasileiros Cascavel e Urutu– as portas do edifício, mataram alguns terroristas, prenderam outros e libertaram 240 reféns, enquanto outros 90 morriam entre as chamas e os tiros e o edifício se reduzia a um amontoado de destroços.

Como três cadáveres tinham marcas de balas 9 mm. e nenhuma arma desse calibre se encontrasse entre os terroristas presos ou mortos,  a mídia começou a alardear que tinham sido sequestrados pelos militares, assassinados e  jogados de volta aos escombros. O fato de não haver também entre os militares armas de 9 mm. não alterou a conclusão  científica, subscrita em seguida por um treco autodenominado “Comissão da Verdade”.

Embora ninguém soubesse o número exato de pessoas que estavam no edifício, a Comissão e outras entidades deram por falta de onze reféns – e  concluíram que se tratava de “desaparecidos”, isto é, vítimas invisíveis da crueldade militar. O fato de que entre os cadáveres carbonizados restassem onze não identificados não foi eloquente o bastante para sugerir aos comissários da verdade a hipótese de que os desaparecidos talvez não tivessem desaparecido. Tampouco lhes passou pela cabeça a idéia de perguntar por que os militares teriam devolvido três cadáveres aos escombros e esquecido de fazer o mesmo com outros onze – apagando as pistas do crime por inteiro em vez de fazê-lo com uma fração delas.

A crença geral é que, sob o comando do  coronel Luís Alfonso Plazas Vega, os onze infelizes, entre os quais só uma terrorista, foram levados à Escola de Cavalaria, abatidos a tiros e depois transmutados em antimatéria ou enterrados em lugar incerto e não sabido. A principal testemunha que disse tê-los visto ser transportados à Escola e assassinados foi o cabo de Exército Tirso Sáenz – que, na ocasião, cumpria pena por vários crimes, entre os quais falso testemunho. Em 1986 essa criatura  enviou à justiça um depoimento escrito que os magistrados, em relatório oficial, impugnaram como desprovido de confiabilidade, pois o depoente estava preso e só em pensamento chegara perto do Palácio da Justiça.

Um segundo testemunho importante foi o do cabo Edgar Villamizar, que, estando em outra cidade, não poderia ter visto nada na Escola de Cavalaria, mas afirmou ter sido transportado à Escola, às pressas, num helicóptero do Exército. Detalhes: 1) O Exército colombiano, em 1985, não tinha helicópteros; 2) Villamizar nunca foi interrogado. Seu testemunho só apareceu num papel encontrado na Escola de Cavalaria em 2006, onde sua assinatura está manifestamente falsificada, com o nome de “Edgar Villareal”. 3) Seus companheiros de unidade de infantaria afirmam tê-lo visto na cidade de Granada  no dia da invasão. Ariel Valdez, comandante da unidade, disse que ninguém de seu batalhão participou das operações em Bogotá. Só viram os acontecimentos pela TV.
Terceiro testemunho: o auxiliar de polícia Ricardo Gámez disse ter participado da operação de resgate e ouvido o coronel Plazas ordenar o sequestro dos reféns. Mas não participou da operação –pois havia desertado da polícia em 1979.

Pois bem, segunda-feira passada, após um quarto de século dos combates, a juíza Maria Stella Jara condenou o coronel Plazas Vega a trinta anos de prisão pelo alegado assassinato dos onze desaparecidos. Os principais argumentos em que se fundamentou a sentença condenatória foram os depoimentos de Sáenz, Villamizar e Gámez, além de um vídeo, fartamente exibido pela TV durante anos, no qual, dizia-se, uma “desaparecida”, Cristina Pilar, era conduzida por soldados à Escola de Cavalaria – o que seria um sério elemento de prova se não estivesse impugnado pelo depoimento de Maria Nelfi Diaz, que, viva e em boa saúde, disse que quem aparecia no vídeo era ela e não Cristina Pilar.

O testemunho de Maria Nelfi, prestado duas vezes ante as autoridades, foi simplesmente suprimido dos autos, sem que se permitisse à defesa reinserí-lo. Para piorar, o coveiro do Cemiterio del Sur, em Bogota, informou ter sepultado em 1986 o cadáver de Cristina Pilar, morta muito depois dos combates. Seu depoimento não foi levado em conta.

Também foi suprimido o dos soldados que tinham visto Villamizar longe do Palacio no dia dos combates. Muito menos entrou nos autos um segundo documento firmado pelo cabo Sáenz, que confessava ter recebido da promotoria a oferta de “vantagens judiciais e financeiras” para firmar o depoimento mentiroso. A juíza Maria Stella não podia ignorar este segundo depoimento,  dirigido a ela pessoalmente e noticiado no programa do jornalista Fernando Londoño na Rádio Super, de grande audiência.
 Outro simulacro de prova alegado pela juíza foi uma gravação em fita, supostamente encontrada na casa do coronel Plazas, em que dois generais, em conversa informal, endossavam a versão que o incriminava. Mas no julgamento não apareceu gravação alguma, embora a defesa clamasse pela sua apresentação. Foi mostrada uma transcrição, não se dando à defesa a menor chance de averiguar sua confiabilidade. Qualquer semelhança com os Processos de Moscou não é mera coincidência.
 Os onze cadáveres não identificados em 1985, que bem podem ser os dos desaparecidos jamais desaparecidos, ficaram guardados numa geladeira na Universidade Nacional de Bogotá (entidade repleta de simpatizantes do M-19). Segundo anunciou a Rádio Caracol, de Bogotá, em 24 de fevereiro de 2010, quatro deles já foram identificados, o que, somado ao corpo de Cristina Pilar, reduz os onze desaparecidos a seis. Não se sabe quantos dos demais cadáveres constam do laudo.

Os advogados do coronel pediram uma cópia, mas a Universidade, em vez disso, entregou o relatório à juíza Maria Stella, que até o fim do processo vetou obstinadamente o acesso dos advogados ao documento. Dos cinco “desaparecidos” restantes, uma já apareceu viva na televisão, sem que isso alterasse sua condição oficial de desaparecida; outra já foi entregue a seus familiares pela Universidade, e de três outros o Exército indica reiteradamente os lugares onde estão sepultados, sem que a juíza Maria Stella tenha revelado  qualquer interesse em exumá-los. Quantos desaparecidos sobram? Nenhum. O coronel foi condenado por um crime que, pela lei das probabilidades, jamais aconteceu.
 Não obstante, a mídia celebrou a sentença como “um acontecimento histórico”. Nem toda empulhação é perfeita: até o jornal El Tiempo, que entrou entusiasticamente no coro, não conseguiu reprimir a pergunta: por que condenar logo o coronel Plazas, se havia tantos outros oficiais no edifício e se ele, precisamente, se limitara a coordenar a invasão do primeiro andar pelos tanques, sem  se aproximar do quarto piso, onde estavam os reféns e, portanto, os “desaparecidos”?

 A resposta compõe-se de dois itens, um já velho, outro novo e de ocasião. Primeiro. O coronel Plazas é o oficial de Exército mais odiado pelas organizações terroristas e seus amigos e cúmplices, pois comandou várias operações contra elas e, em material apreendido, lhes deu um prejuízo que sobe a muitos bilhões de pesos. Anos atrás tentaram destruir sua carreira com acusações de corrupção, trombeteadas em acordes monumentais pela mídia . A absolvição do acusado pelos tribunais não foi jamais noticiada.
 Segundo. O processo tardio dos “desaparecidos”, reaberto à força por instigação do padre comunista Javier Giraldo, vinha se arrastando e bem poderia arrastar-se um pouco mais. Não é muito ético, nem muito menos educado, soltar uma sentença judicial contra o governo em plena semana de eleições. Mas, como no primeiro turno o candidato das esquerdas (apoiado pelo M-19), Antanas Mockus, tivera apenas 21% dos votos em face dos 45% para o candidato governista Juan Manuel Santos, a juíza Maria Stella achou que estava na hora de dar ao mundo um exemplo de idoneidade judicial, disparando uma condenação espetacular sobre o coronel Plazas – e, ato contínuo, retirando-se para a Alemanha sob aplausos, lágrimas de comoção e forte escolta policial-militar, porque, embora sem a menor prova, dizia que sua vida, ameaçada pelos militares, estava por um fio. Quanto heroísmo, porca miséria!

 Poucos dias depois, o governo deu o troco aos terroristas e seus entusiastas, resgatando numa operação arriscadíssima quatro militares presos nas masmorras das Farc fazia doze anos. As Farc, quase tão corajosas quanto a juíza Maria Stella, anunciaram pela voz de seu comandante Jorge Briseño, o “Mono Jojoy”, que, em represália, vão fuzilar quarenta de seus próprios militantes, acusados de incompetentes. Ante o anúncio, os incompetentes, mui competentemente, deram no pé e ninguém sabe onde estão.
Quanto ao coronel, não apenas foi condenado sem direito de defesa por um crime provavelmente imaginário, mas, doente, foi retirado do hospital e transferido à mesma prisão onde se encontram muitos dos narcotraficantes que ele prendeu.

Vejam a cena abjeta da transferência:





É, com toda a evidência, uma sentença informal de morte, como a que Davi, na Bíblia, lavrou contra seu concorrente Urias. A grandeza de alma da justiça colombiana é uma das maravilhas do mundo. E nada disso foi noticiado no Brasil.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".